É de rio ou viveiro?
Polêmica nas feiras: Só um ‘caboclo de verdade’ consegue diferenciar o ‘peixe playboy’ (de viveiro) de um ‘cabucão’ (rio)
As semelhanças entre os dois tambaquis são enormes, mas o da esquerda é ‘playboy’ e o da direita é ‘cabucão’. O caboclo esperto os diferencia pelo rabo |
“Esse
ruelo sem graça num tá será muído?”. Diz a lenda ribeirinha que esta
pergunta foi uma das primeiras manifestações de repúdio do típico
caboclo amazonense,nos anos 80, ao se deparar com um tambaqui criado em
viveiro. Os tempos passaram, o pálido ruelo ganhou mais espaço para se
desenvolver e, consequentemente, mais tamanho, cor escura, carne mais
consistente e pode ser comprado pela metade do preço do convencional.
Entretanto, nem todo mundo ainda consegue engolir (em todos os sentidos)
esse intruso que está tomando o espaço do peixe criado livre, pesado e
solto nos rios e lagos da região. Mesmo com todas as transformações que
deixam o tambaqui de viveiro parecido com o de rio, o comprador mais
antigo continua desconfiado.
Nas
feiras, por mais que vá comprar o “ruelo sem graça”, afinal a fome dói e
o dinheiro fica cada vez mais curto, o caboclo urbano não entrega
totalmente os pontos: ficou mais “afiado” em distinguir um do outro e,
como se isso valesse alguma coisa, se gaba de não estar comprando gato
por lebre (ou não seria pirapitinga por tambaqui?).
“Eles
podem até ser parecidos em tudo, mas o rabo não me engana. Se você
olhar pro rabo do de rio, vai ver que é todo roído pela piranha. O do
outro é certinho, a não ser que alguém ponha piranha no viveiro”, se
diverte o aposentado Elias dos Santos, 66, no melhor estilo caboclo.
Mas, Elias não perde a chance de fechar a entrevista jogando timbó (raiz
que envenena a água) na disputa. “Tambaqui de viveiro é sem graça,
gordo e enjoativo. Só compro porque é mais barato”, conclui.
E
quem não entende do “ticado” (corte em peixe) e ouvir algum peixeiro
falar em “playboy” e “cabucão” não estranhe. O primeiro é o tambaqui de
viveiro, por ser todo certinho, enquanto o outro mostra as marcas de uma
vida de fugas de todo tipo de armadilha, além de ataques das
indefectíveis piranhas.
O principal
responsável pela mudança de aparência que chega a confundir os
desatentos foi o investimento dos piscicultores em viveiros maiores,
como barragens em igarapés, riachos e até açudes, de preferência com
água corrente e vários tipos de alimento, além da ração.
Depois
de aberto, também é possível identificar o tambaqui. Neste período de
cheia, o peixe criado nos rios e lagos tem acesso a frutas que mudam seu
gosto e coloração. Se a barriga estiver muito escura, pode ser porque
comeu açaí. Fruta de envira e flor da piranheira deixam a carne bastante
amarga.
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