segunda-feira, 15 de abril de 2013

Você sabe qual a diferença entre o tambaqui criado no viveiro para o natural do rio?

É de rio ou viveiro?

Polêmica nas feiras: Só um ‘caboclo de verdade’ consegue diferenciar o ‘peixe playboy’ (de viveiro) de um ‘cabucão’ (rio)

As semelhanças entre os dois tambaquis são enormes, mas o da esquerda é ‘playboy’ e o da direita é ‘cabucão’. O caboclo esperto os diferencia pelo rabo
As semelhanças entre os dois tambaquis são enormes, mas o da esquerda é ‘playboy’ e o da direita é ‘cabucão’. O caboclo esperto os diferencia pelo rabo (Marcio Silva)
“Esse ruelo sem graça num tá será muído?”. Diz a lenda ribeirinha que esta pergunta foi uma das primeiras manifestações de repúdio do típico caboclo amazonense,nos anos 80, ao se deparar com um tambaqui criado em viveiro. Os tempos passaram, o pálido ruelo ganhou mais espaço para se desenvolver e, consequentemente, mais tamanho, cor escura, carne mais consistente e pode ser comprado pela metade do preço do convencional. Entretanto, nem todo mundo ainda consegue engolir (em todos os sentidos) esse intruso que está tomando o espaço do peixe criado livre, pesado e solto nos rios e lagos da região. Mesmo com todas as transformações que deixam o tambaqui de viveiro parecido com o de rio, o comprador mais antigo continua desconfiado.
Nas feiras, por mais que vá comprar o “ruelo sem graça”, afinal a fome dói e o dinheiro fica cada vez mais curto, o caboclo urbano não entrega totalmente os pontos: ficou mais “afiado” em distinguir um do outro e, como se isso valesse alguma coisa, se gaba de não estar comprando gato por lebre (ou não seria pirapitinga por tambaqui?).
“Eles podem até ser parecidos em tudo, mas o rabo não me engana. Se você olhar pro rabo do de rio, vai ver que é todo roído pela piranha. O do outro é certinho, a não ser que alguém ponha piranha no viveiro”, se diverte o aposentado Elias dos Santos, 66, no melhor estilo caboclo. Mas, Elias não perde a chance de fechar a entrevista jogando timbó (raiz que envenena a água) na disputa. “Tambaqui de viveiro é sem graça, gordo e enjoativo. Só compro porque é mais barato”, conclui.
E quem não entende do “ticado” (corte em peixe) e ouvir algum peixeiro falar em “playboy” e “cabucão” não estranhe. O primeiro é o tambaqui de viveiro, por ser todo certinho, enquanto o outro mostra as marcas de uma vida de fugas de todo tipo de armadilha, além de ataques das indefectíveis piranhas.
O principal responsável pela mudança de aparência que chega a confundir os desatentos foi o investimento dos piscicultores em viveiros maiores, como barragens em igarapés, riachos e até açudes, de preferência com água corrente e vários tipos de alimento, além da ração.
Depois de aberto, também é possível identificar o tambaqui. Neste período de cheia, o peixe criado nos rios e lagos tem acesso a frutas que mudam seu gosto e coloração. Se a barriga estiver muito escura, pode ser porque comeu açaí. Fruta de envira e flor da piranheira deixam a carne bastante amarga.

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