segunda-feira, 29 de abril de 2013

Simão Pessoa: ‘O Estado tem um gestor de cultura muito provinciano e Manaus tem apenas uma política de eventos e não cultural’

simao-pessoa 1O  BLOG da FLORESTA visitou a casa do escritor, redator-publicitário e engenheiro, Simão Pessoa, 57, e conversou um pouco sobre a cultura no Estado e na capital. Simão já foi editor de vários jornais da capital, dentre eles O Jornal do Comércio (Jcam), Diário do Amazonas e Jornal Amazonas Em Tempo. O escritor possui 9 livros de poesia, 4 eróticos, 3 de música e 5 de folclore político e um site por nome: candiru.com. br e o blog spot: Simão Pessoa, muito conhecido na região. Simão foi elogiado pelo jornalista falecido, Milôr Fernandes em relação ao seu livro lançado em 1996, o 'Manual do Canalha' e foi citado por Fernandes na Revista Veja através de uma resenha, além de ter sido indicado ao prêmio da Academia Amazonense de Letras (AAL).

BLOGdaFLORESTA:  Em sua opinião como está a cultura no Estado do Amazonas?

Simão Pessoa: Não possuímos política cultural e sim de eventos. O Robério Braga está no poder a vinte anos, nem o papa fica tanto tempo na gestão da Igreja Católica, posso dar um exemplo de uma administração que não valoriza os artistas: ele gasta 2 milhões em um festival de Jazz para meia dúzia de pessoas e não apoia o pessoal que está produzindo aqui, como bandas de rock, os grafiteiros, o pessoal que pratica skate. O pensamento do secretário de cultura é muito elitista, provinciano, está na hora de dar oportunidade a outras pessoas que tem uma visão mais atual do cenário cultural amazonense.

BLOGdaFLORESTA: E no município? Como você vê os trabalhos voltados para cultura de Manaus?

Simão Pessoa: Estou dando um tempo para ver o que o prefeito Arthur Neto vai fazer, até agora não vi nada, nem estou sabendo de projetos voltados para a cultura municipal. No feriado no próximo dia 1˚ de maio, o dia do trabalhador, a programação será realizada pela Força Sindical e a prefeitura cedeu a Praia da Ponta Negra, mas não há participação da prefeitura, ela que deveria estar planejando o evento para esse dia.

BLOGdaFLORESTA: Há uma mistura de festas, isso atrapalha as expressões culturais?

Simão Pessoa: Aqui é uma invenção de mistura da cultura Boi-Bumbá na época de carnaval. Lá em Parintins, por exemplo, em época de carnaval é só carnaval, com marchinha e desfile de blocos, carnaval é carnaval, boi é boi. Existem muitas bandas tradicionais de marchinhas daqui que precisam de apoio. Aqui em Manaus existe uma academia de dança liderada pelo Márcio Prata que não recebe recurso algum do governo e possui cerca de 250 equipes de dança, recentemente ele recebeu um convite para ir ao Rio de Janeiro, mas não tem apoio de ninguém e ele tem projeto de levar aulas de dança de graça para os Centros de Convivência da Família, mas a cultura não tem apoio.

BLOGdaFLORESTA: Nos dê um exemplo da desvalorização dos nossos artistas

Simão Pessoa: Ano passado naquela ‘Virada Cultural’ os DJs daqui foram contratados para ganhar um cachê de R$ 1.000 mil enquanto, por exemplo, o modelo Jesus Luz que nem DJ é veio a Manaus para se apresentar durante uma hora e recebeu R$ 100 mil. O cantor Fábio Júnior também veio por um cachê de R$ 160 mil. O prefeito disse que não vai trazer ninguém de fora e que todos os eventos serão feitos pelos artistas locais, estou apostando nisso.

BLOGdaFLORESTA: Mas você é contra a vinda de artistas de fora?

Simão Pessoa: Estou confiante no que disse o Arthur. Com o Robério Braga não se pode contar, ele nunca tem dinheiro para ajudar os artistas locais, mas tem dinheiro para trazer globais. Não sou contra que tragam artistas de fora, mas o importante seria que os daqui fossem tratados como os de fora, eles precisam de valorização, tantas pessoas estão fazendo arte na periferia, mas não são apoiadas.

BLOGdaFLORESTA: E o interior do Estado?

Simão Pessoa: O interior está abandonado, se na capital a situação já essa, imagina nos municípios do interior. No tempo do Governo do Fernando Henrique Cardoso, há uns 15 anos existia um Projeto do Ministério da Cultura para a instalação de bibliotecas no interior, uma equipe do Rio de Janeiro se deslocava até o interior para montar as bibliotecas, o prefeito só precisava ceder um local e depois administrar, nenhum prefeito na época aceitou, porque? Eles queriam o dinheiro e não o desenvolvimento cultural da população.

BLOGdaFLORESTA: E como isso pode mudar?

Simão Pessoa: Através da conscientização, os ‘caras’ querem manter o pessoal no ‘cabrejo’, eles tem medo de criar pessoas conscientes, querem uma população que fique mendigando, que viva uma relação de imploração. Não há fundo estadual e nem municipal para cultura.

BLOGdaFLORESTA: Você vislumbra um futuro melhor?

Simão Pessoa: Não vislumbro nada, estou desacreditado. O Brasil não tem mais jeito.

Blog da floresta - Sara Matos

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