À frente da 4ª edição do Seminário de Revisão Crítica do Festival Folclórico de Parintins, o secretário de Estado de Cultura do Amazoans fala sobre a importância da festa para o Estado e as novidades para o centenário dos bois
No
ano em que Caprichoso e Garantido comemoram seus centenários e que o
Governo do Estado entrega um bumbódromo totalmente reformado à cidade de
Parintins, o secretário de Estado da Cultura do Amazonas, Robério
Braga, ressalta a importância da festa dos bois-bumbás para o Amazonas e
para o Brasil.
Empenhado na
realização de um evento cada vez mais grandioso e profissional, o
secretário esteve à frente, na última semana, do 4º Seminário de Revisão
Crítica do Festival Folclórico de Parintins. O evento teve como
objetivo apresentar a estrutura física do novo bumbódromo, como o
acesso, os serviços prestados, a segurança, os novos sistemas de
sonorização e de iluminação, dentre outros temas referentes à
operacionalização técnica do Festival.
Entre
um painel de apresentação e outro – o seminário contou com a presença
de especialistas de renome nacional como Piter Gaspel e Antônio Carlos
Rodão – Robério Braga falou a A CRÌTICA sobre as novidades para este ano
e suas expectativas para o Festival Folclórico do centenário.
Qual o objetivo e a importância da realização do Seminário Revisão Crítica do Festival Folclórico de Parintins?
Já
é o quarto seminário e o objetivo foi extremamente alcançado, que é a
integração dos órgãos públicos das áreas federal, estadual e municipal,
além dos prestadores de serviço e dos bois. É um seminário que nos
permite ser a coordenação do evento. A Secretaria de Cultura coordena o
funcionamento de todos os demais órgãos e tem a responsabilidade central
pela atividade. Então, é preciso saber o que cada um vai fazer,
integrar as atividades que têm interface e resolver todas as questões
operacionais. São quase 40 instituições discutindo. Tanto que nós, para
esse seminário, sempre trazemos uma motivadora organizacional de fora
com especialidade de trabalhar com grupos de discussão.
Esse
ano, os dois bumbás estão comemorando 100 anos de existência. O que vai
haver de especial por conta desse marco comemorativo dos bois de
Parintins?
Primeiro, tem o
grande presente para o povo do Amazonas e para o País, que é o novo
bumbódromo. Um investimento audacioso do Governo Omar Aziz da ordem de
quase R$ 40 milhões. É um bumbódromo adequado ao novo tempo da festa, à
nova dimensão que a festa ganhou ao longo dos anos, às necessidades
operacionais e técnicas do festival e à condição dos interesses do
público. Dentro de uma lógica do governo que valoriza as oportunidades, a
acessibilidade também foi uma preocupação. Para as pessoas que têm
necessidades especiais, temos rampa, elevador, tradução em libras,
audiodescrição, lugar para cadeirantes, enfim, acessibilidade 100%. A
reforma amplia também 2500 lugares para cada boi na galera,
gratuitamente. Amplia 1400 lugares na arquibancada especial, amplia 48
camarotes. Moderniza o bumbódromo de uma maneira inigualável. Não há
nenhum outro equipamento público com a infraestrutura de som e luz e
operacional que nós vamos ter. Nós teremos, no bumbódromo de Parintins, o
maior anfiteatro aberto do País. Não só em capacidade, como em
condições operacionais.
E a
questão da transmissão televisiva do festival? Com esse cenário que está
se apresentando: duas emissoras transmitindo, cada uma responsável por
transmitir a apresentação de um dos bumbás, como será feita a
operacionalização técnica disso?
O
festival já é transmitido por diversas emissoras de rádio. Todas
trabalham juntas. A novidade é a transmissão de imagem. Porque
transmissão de Internet e transmissão de emissora de rádio têm sido
feita normalmente por diversos portais e emissoras. Esta opção é uma
opção dos bois. O direito de imagem é um direito privativo das
agremiações folclóricas: Caprichoso e Garantido. Cabe ao governo
acompanhar a decisão que os dois adotarem. Não vamos nos intrometer
nisso. O que vimos aqui esta semana foram técnicos das duas empresas
trabalhando em conjunto e conhecendo em conjunto as condições
operacionais do bumbódromo. Se eles vão trabalhar juntos, se eles vão
trabalhar separados, se vão trabalhar integrados, é um problema das
emissoras com os dois bois.
Mas,
no que diz respeito ao espaço físico no bumbódromo para a transmissão,
vai haver alguma adaptação? Vai haver mais de uma cabine de transmissão,
por exemplo?
Existe apenas
uma cabine de transmissão, que será ajustada às necessidades que
surgirem. Nós, a essa altura, não temos como fazer uma nova cabine.
Agora, não é isso que vai impedir ou criar dificuldade para a
transmissão do festival. O que couber ao governo fazer, do ponto de
vista operacional e logístico, para atender à necessidade do festival em
qualquer das áreas, o governo vai fazer.
E o espaço para a unidade móvel de transmissão, nessa nova configuração do bumbódromo, está assegurado?
Nós
temos um espaço hoje que já estaria reduzido com o crescimento das
edificações do bumbódromo. As modificações feitas já reduziram um pouco a
área externa. Mas, nós vamos em uma visita com o governador Omar Aziz
amanhã e, a partir de amanhã, todas as semanas eu vou a Parintins,
justamente para examinar essa questão logística de carros, geradores,
que são extra-prédio. Porque só agora é que começa a se desenhar o que
de área externa vai sobrar. Mas isso, certamente, não será dificuldade.
Qual a sua avaliação da evolução artística e folclórica dos bois ao longo das últimas décadas?
Eu
acompanho o Festival Folclórico de Parintins desde a Copa do Mundo de
1970. Quando Pelé, Tostão e companhia estavam jogando, eu estava lá, no
boi de Parintins. Exatamente quando eu fazia o primeiro ano da faculdade
de Direito. E acompanho todos os anos desde então. Já fui presidente da
comissão julgadora. O espetáculo que eu vi, mudou muito. Não tem
absolutamente nada a ver com o que os bois faziam naquela época. Em
alguns momentos, quando entra a vaqueirada, por exemplo, lembra um
pouco. O festival que eu vi, era numa quadra de futsal, do lado da
igreja, depois foi num campo de futebol, onde o festival já se modificou
bastante, no chamado tabladão. E, quando foi feito o bumbódromo, ele,
então, começou o processo mais acelerado de transformação, de mutação e
de composição cênica com outras linguagens. Ele deixou de ser um
festival folclórico de boi-bumbá para ser uma festa folco-carnavalesca,
no sentido científico da palavra. Nada pejorativo, no sentido técnico.
Hoje ele mescla lendas com rituais, com simbologias, com o boi-bumbá.
Tanto que, em determinado momento, no regulamento eles exigiram a
presença do Pai Francisco e Catirina para lembrar um pouco o velho
boi-bumbá. Hoje é tão importante para o Estado e para o País, que
qualquer investimento em Parintins é justificável. Tanto para a criação
de emprego e renda quanto para projeção do Amazonas e mesmo do Brasil.
E, depois de tanto tempo acompanhando o festival, qual o seu boi-bumbá: Caprichoso ou Garantido?
Ainda
não resolvi. Sinceramente. As pessoas pensam que não é verdade. Mas te
digo por que não: o boi é uma coisa impressionante. O Garantido, no
espetáculo de hoje dá um show. O Caprichoso entra e faz melhor. Amanhã,
os dois fazem um desastre. É uma mutação muito grande. Por isso ainda
não me decidi.
Já que o
senhor não tem boi de predileção, e que os bumbás se acusam mutuamente
de não estar fazendo 100 anos em 2013, podemos perguntar para o
historiador: qual boi está realmente completando um centenário este ano?
É
muito difícil você fixar uma data do surgimento das brincadeiras
populares. Vou dar um exemplo: meu pai hoje teria 126 anos, nasceu em
1989. Em 1934 e 35, ele brincava de boi e brincava de brigue. Hoje não
tem mais brigue e o boi ficou. Mas que boi ficou? Em 1856 já tem
registro de boi-bumbá no médio Amazonas. O que se está falando é da
mobilização social que ganhou o nome de Caprichoso ou Garantido, da
brincadeira de boi que existe em Parintins.
Jornal acritica -07 de Abril de 2013 -
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