Ruínas de Paricatuba
Planta de Paricatuba
Batizado como as Ruínas de Paricatuba (palavra que significa local de grande concentração de Paricás, erva alucinógica utilizada nos rituais indígenas), o prédio onde funcionou a cadeia pública do município de Iranduba( localizado a 25k de Manaus), a primeira escola técnica do Amazonas e, logo após, o internato para portadores de hanseníase do estado é marcado por uma história de abandono e depredação.
Vila de Paracatuba antigamente
Ao longo de anos, a distância dos grandes centros urbanos afastou, aos poucos, o interesse do poder público e, consequentemente, condenou o local ao esquecimento.
Hoje, do prédio luxuoso e imponente, construído com materiais importados da Europa resta apenas a estrutura de alvenaria. Ela resiste em pé para dar provas de que faz parte da história do estado, apesar do descaso com o patrimônio público.
“Para forçar as pessoas a saírem daqui eles começaram a depredar o prédio. Eles começaram cortando a água, tiraram os suprimentos, destruíram o telhado, tiraram as calhas e estimulavam que esse material fosse vendido. Existia aqui um troller que carregava os mantimentos que chegava na terra para vir para cá. O relato que a gente tem é que esse trailer foi martelado para impedir para chegar aqui. Ele foi levado para Manaus e como era muito ferro não pode ser vendido;. E, aí jogaram no rio Negro”, disse Rosângela Barbosa.
Primeira Escola Técnica do Amazonas
Patio Interno das Ruinas de Paricatuba
Considerada a primeira escola técnica do Amazonas, o Liceu de Artes e Ofícios de Paricatuba se tratava de uma escola profissionalizante voltada para formar crianças e principalmente órfãos e pobres.
“Mas, essa formação coincide com a formação voltada para atividade agrícola. A escola tinha o objetivo de dar uma profissão para essas crianças. Pensava-se também que através da escola de Paricatuba se formaria profissionais preparados e específicos para esse tipo de atividade, com formação de mão-de-obra própria da região”, disse Odnéia.
Existiam aprendizados em todos sentidos, tidos divididos em currículos teóricos e práticos. “A formação da escola era rápida e o atendimento era bastante difícil por causa da localização. Existem relatórios dos gestores da escola que atestam essa afirmação”, concluiu Odnéia.
Novos Rumos
Com a instalação do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari-Manaus, cuja estrutura irá atravessar a comunidade de Paricatuba, as chances de recuperação do prédio histórico estão mais próximas.
Capela de Paricatuba
A previsão é promover a restauração do antigo leprosário após uma análise minuciosa do Instituto do Patrimônio Histórico do Amazonas. “É um trabalho muito demorado, muito técnico. Muita gente e diz que tem que só passar uma mão de cal e recuperar o telhado. Não é isso que tem que ser feito. Sobre as recuperações da estrutura física só depois desse estudo é que poderemos saber. Eu espero que a gente tenha um restauro primoroso do prédio para que possamos dar uma utilização a esse espaço de uma forma produtiva, que agregue valor a comunidade, que possa criar uma cadeia produtiva para o turista. Que possamos ter uma visitação com mais segurança e tenhamos um memorial de Paricatuba”, disse Rosa.
Na área de C&T a indicação de Rosângela é que se realize um inventário sobre as principais espécies de plantas encontradas no local.
“É necessário descobrir aonde estão os Paricás, essa plantas que segundo relatos eram as principais vegetações de Paricatuba. Tanto que o nome da comunidade é inspirado nos Paricás. Outra área em que podemos incluir a ciência e tecnologia é a capacitação dos jovens na pesquisa, na arqueologia, na descoberta do nosso passado. Por toda parte aqui na comunidade encontramos peças e artefatos indígenas que podem se estudados para conhecermos mais sobre essa tradição indígena” disse Rosângela.
Numa ação abrangente coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS), com a colaboração da Secretaria de C&T (SECT), o Governo do Estado em parceria com a Petrobrás vai desenvolver ações de beneficiamento da comunidade.“
Árvores que invadem a história
Em frente ao prédio secular, invadido pelos braços de Apuizeiros, é difícil imaginar que, em 1889 ele era modelo de sofisticação arquitetônica. A então hospedaria para imigrantes italianos— vindos da Europa para trabalhar no estado — era rica em luxo e sofisticação.
Emigrantes Italianos em Paricatuba
A estrutura de alvenaria foi construída com tijolos e vigas portugueses de alta durabilidade.
Nem mesmo o tempo e a ação ambiental conseguiram rachar as estruturas do prédio que também funcionou como a sede do Liceu de Artes e Ofícios de Paricatuba, local onde os membros da comunidade aprenderam a lidar com as áreas de marcenaria, construção civil e artes.
As janelas no estilo colonial foram depredadas. E, debaixo de centenas de folhas de árvores podemos descobrir, ainda, a singeleza dos azulejos franceses, trazidos na época do apogeu econômico do ciclo da borracha.
“É uma construção que foi feita para durar a vida toda. Todas essas paredes internas era revestidas com azulejo, todos os assoalhos eram de pinho, as calhas eram de cobre, as caixas de descarga eram ferro. Era um material muito caro e de ótima qualidade que foi tudo jogado fora. Um desperdício do dinheiro público”, disse Rosa.
Obras de Paricatuba Antigamente
As câmaras foram criadas como imensos aposentos para hospedar os imigrantes italianos. Mas, ao longo dos anos, eles foram utilizados para abrigar presidiários e, em seguida, portadores de hanseníase. Hoje, elas servem como espaço para as crianças da comunidade jogarem futebol de salão, com direito até a barreiras e rede para gol.
“Essas salas eram imensas, mas aqui existia muita segregação, principalmente na época do hospital de hansenianos. Há relatos de que aqui houve uma grande festa. Eles colocaram umas cadeiras no meio para dividir. De um lado dançavam os doentes e do outro os sadios. Existia um parlatório onde um vidro divida os sãos e os doentes. As crianças que nasciam aqui eram levadas para adoção lá no Gustavo Capanema (Manaus). Tem mulheres aqui que tiveram sete filhos e não conheceu nenhum. Eu costumo dizer que paira sobre Paricatuba uma energia de dor. Então, precisamos mudar isso”, disse Rosa.
O mato invadiu o salão principal do prédio. Ele dava acesso a pequenas salas, refeitório e banheiros, onde ainda hoje restam vasos de louça inglesa. O telhado foi completamente depredado na época da transferência dos doentes para a capital do Amazonas. As janelas também não resistiram a ação dos vândalos. O que pode ser encontrado ainda são os azulejos que revestiam as paredes dos lavabos.
História
É da boca dos jovens guias de Paricatuba que conhecemos a história do local. Eles contam que o prédio foi construído pelo governo do estado para servir como uma grande hospedaria para imigrantes italianos. Foi abandonado logo após a inauguração. Em seguida o local foi administrado por padres espiritanos franceses que fundaram o Liceu de Artes e Ofícios.
“Depois o prédio virou uma Casa de detenção para recolher sentenciados. Mais tarde, eles foi transformado num hospital para receber os hansenianos, porque o Governo da época queira dizer para o mundo que não existia mais essa doença no estado. Então, eles escondiam os chamados “ leprososos” aqui. Permaneceu como hospital durante 60 anos. Mas, quando foi fundada a Colônia Antônio Aleixo, o último bairro de Manaus em relação ao Rio Negro, eles começaram a falar que os moradores daqui estavam contaminando a água que chegava até Manaus. Por isso, decidiram acabar com tudo aqui. Então destruíram o hospital”, disse o jovem guia Aldenílson Souza, 18.
Mas, é na memória do aposentado Ricardo Ozório da Silva, 66 anos, que as imagens e acontecimentos do local estão vivas. Ele trabalhou na caldeira do hospital durante 30 anos.“Eram 666 pessoas internadas aqui. Isso aqui funcionava como uma casa para eles. Ele tinha direito a rancho, casa, médico. Os médicos daqui eram o Dr. Chrichanã, Mena Tapajós e Dr. Geraldo. Era os especialistas daqui”, disse.
Ele fez parte de um quadro funcional composto por 14 funcionários. Trabalhava na caldeira que abastecia água. Seu Ricardo lembra bem do processo de segregação e discriminação.
“Quem não tinha hanseníase não entrava aqui dentro. Os doentes tinham seus locais. Tinha o apartamento das crianças, das mulheres, dos rapaz solteiros, dos velhos. Tudo era separado. Mas, de vez em quando os doentes acabavam se apaixonando e namoravam. Só podia namorar aqui doente com doente”, lembra.
Como chegar lá ???
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Fonte : Jornal da Ciência, Site no Amazonas é Assim e Keyce Jhones
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