domingo, 3 de março de 2013

Robério diz que interior do AM fica para trás por falta de comprometimento

Secretário de Cultura do Estado, Robério Braga rebate críticas que recebe por falta de ações culturais "mais efetivas" no interior do Amazonas. Ele explica, com todas as letras, onde está a origem do problema.

Secretário de Cultura do Estado, Robério Braga rebate críticas que recebe por falta de ações culturais "mais efetivas" no interior do Amazonas. Ele explica, com todas as letras, onde está a origem do problema
Secretário de Cultura do Estado, Robério Braga rebate críticas que recebe por falta de ações culturais "mais efetivas" no interior do Amazonas. Ele explica, com todas as letras, onde está a origem do problema (Divulgação)
Dinheiro tem. Faltam projetos e ação contínua dos gestores públicos. Assim, o secretário estadual de Cultura do Amazonas, Robério Braga, justifica o fraco desempenho das ações artísticas no interior do Estado – motivo que ascende críticas ao trabalho da pasta comandada por ele há 17 anos. De tanto ouvir a cantilena, ele decidiu chamar à responsabilidade os prefeitos municipais pelo parco desenvolvimento dos eventos culturais no interior. Cita números e dá exemplos.
De acordo com o secretário, somente em 2012 o governo do Estado destinou ao interior R$ 30 milhões para desenvolver projetos culturais – sem somar os convênios para as festas típicas que acontecem anualmente nas cidades. Nos últimos anos, segundo ele, a secretaria de Cultura incentivou a criação de 41 bandas de músicas, 12 salas de leitura, 12 cineclubes, realizou festivais de Cinema, Teatro, Dança e Música. “Mas não vai para frente”, assegura Robério Braga. “Não há decisão política dos prefeitos em assumir a cultura como uma ação de governo”.
Das 41 bandas citadas, só restaram duas (em Silves e Manacapuru). Das 12 salas de leitura e 12 cineclubes, quase nenhuma permaneceu aberta. Motivo: “Não há uma ação de cultura efetiva e contínua. O prefeito quer unicamente o convênio para fazer o aniversário da cidade, a festa folclórica ou a festa do produto. Não quer ter custos de manutenção de uma biblioteca, um cineclube, um teatro, uma escola de dança, uma escola de artes. São raros os municípios (que aceitam arcar com esses custos)”, afirma.
Conforme o secretário, há pouca participação das Prefeituras Municipais nos editais lançados pelo Estado para ações culturais. “Quando você faz um edital de pautas para eventos, não há participação. É muito raro. Nós conseguimos participação em poucos municípios”, diz ele. Parintins, Itacoatiara, Silves, Manacapuru, Iranduba e Codajás estão entre as exceções, segundo Robério. “Mas sempre são coisas pontuais. Não conseguimos ter continuidade”, assevera.
Para ele, o volume de recursos dedicados à cultura na capital é proporcional ao número de habitantes e à exigência do público. “A pressão da mídia é em Manaus. A pressão dos eventos é em Manaus. Nós temos 2 milhões de habitantes em Manaus, 1 milhão de habitantes no interior”. Robério Braga defende que não existe do poder público estadual uma “dedicação exclusiva” à capital na área cultural, mas sim, incompreensão do valor da cultura no interior. “Falta às administrações municipais compreenderem que o resultado da política cultural é um resultado social tão importante quanto à Educação, Saúde, Habitação, coleta do lixo”.
No dia 13 de março, no Palacete Provincial, Centro, às 15h, Robério Braga vai ouvir dos próprios gestores o motivo que leva ao aparente desinteresse. A reunião com as Prefeituras será o último de uma série de 12 encontros com diversos segmentos culturais e artísticos, em que se discute o aprimoramento da gestão pública e a aplicação de verbas em cada setor.
O presidente da Associação Amazonense dos Municípios (AAM), Jair Souto, adianta o tom da discordância dos prefeitos. Ele sustenta que cada gestor faz a sua parte, dentro do possível, e “investem sim, muito mais do que poderiam diante da carência de recursos que têm de lidar com essa divisão muito desigual de receitas no atual Pacto Federativo”. “Mesmo assim, os municípios dão conta dos muitos eventos que acontecem em suas comunidades e as festas tradicionais. O que falta mesmo é um alinhamento das ações, um planejamento nos três níveis de governo: local, estadual e federal”.

Proposta de parceria
Para a Associação Amazonense de Municípios, a destinação de recursos com o fim de incentivar segmentos culturais no interior do Estado demanda planejamento prévio, com objetivos e metas a serem empreendidas e discutidas pelas três esferas do poder público. Da discussão e entrosamento entre as partes, na avaliação da entidade, poderão nascer projetos perenes.
A associação cita como exemplo um evento que organiza nas próximas semanas intitulado “Mesa Federativa”, com a participação dos três níveis de governo. O objetivo da discussão é construir um modelo de gestão dos planos de saneamento e gestão de resíduos sólidos. A entidade acredita que o mesmo modelo de discussão pode ser adotado para a destinação de recursos na área da cultura. Para a consecução do evento citado pela associação houve financiamento do Governo do Estado e dos municípios, e um arranjo institucional que propiciou governança equilibrada entre as partes envolvidas, informa a entidade.
“Agora, o Governo Federal entrará na articulação para a implantação das estruturas previstas nos planos. Esse arranjo institucional pode ser aproveitado em qualquer área, como por exemplo a cultura, e esse modelo é o que os municípios propõem como solução para a construção de uma agenda de gestão comum dos três entes de governo”, afirma a Associação Amazonense dos Municípios, em nota. Apesar do posicionamento, a entidade exalta o trabalho feito pelo Estado. “Os festivais de música, teatro, cinema e ópera, por exemplo, são conquistas muito importantes e sua interiorização representa a democratização da cultura”.
Três perguntas para Robério Braga - Secretário de Cultura

O investimento do governo na área cultural é proporcional no Estado?
É proporcional àquilo que é possível executar. É até excedente. Nós oferecemos possibilidade de investimentos e não recebemos projetos. Não há ainda, e isso é lento, vem sendo constituído gradativamente, um diálogo político institucional por parte dos políticos do interior. Não há uma interlocução institucional estabelecida. Não há uma Secretaria de Cultura, não há um Departamento de Cultura, na sua maioria dos casos. Quando há é um departamento da Secretaria de Educação cujo secretário não tem condições nem de dar conta da parte de Educação, muito menos da cultura.

O interior não quer ou não sabe usar os recursos disponíveis?
A gestão político-institucional não compreendeu a importância da cultura no interior.

O senhor responde às críticas que tem recebido na Internet?
Tem muita gente que faz campanha para o senhor sair da função...Quando eu tomo conhecimento de alguma delas, eu recebo com todo respeito e trabalho mais ainda. Eu não diria “muita gente” porque não tenho conhecimento de que seria muita gente. Eu tenho conhecimento de que tem alguns. Possivelmente com interesses pessoais feridos, ou não. Mas eu respeito qualquer manifestação democrática. A democracia exige que eu respeite qualquer manifestação, mas que eles também me respeitem. Que qualquer um seja mutuamente respeitado.


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