Substituição da cuia gera polêmica
Gerente de Marketing do Waku Sese, João Torres, já pensou até em
voltar atrás na decisão de oferecer tacacá na tigela, devido a protestos
de clientes
Boca
dormente, sensação de arrepio e calor. O que parecem sintomas de alguma
patologia, trata-se na verdade das reações do corpo humano diante de
uma outra febre: a apreciação do tacacá. Prato típico da Amazônia
Brasileira, a iguaria é uma unanimidade entre a população e turistas que
visitam a região.
Mas
nem todo mundo engoliu quando o sofisticado restaurante Waku Sese,
também conhecido pelo delicioso preparo desse prato, resolveu aderir a
uma pequena, porém polêmica inovação: substituir a tradicional cuia por
uma tigela de porcelana, segundo eles para aumentar a aceitação do prato
e impedir que a deterioração rápida das cuias prejudicasse o gosto e a
qualidade higiênica da refeição.
Rede Social
“Parte
dos clientes gostaram e até pediram para levar a tigela”, diz ele,
reconhecendo, no entanto, que a maior parte dos clientes continua
pedindo o tacacá servido na cuia. “Teve cliente que até reclamou com a
gente. Creio que serviu como experiência, e vimos que a cuia realmente é
a mais aceita”, disse ele, que em respeito à vontade (ou seria
revolta?) da maioria, já está até considerando voltar atrás na decisão.
Sopa
Quem
também não se conformou com a notícia foi a proprietária da Tacacaria
Parintins, Bruna Iannuzzi, que oferece a iguaria aos modos da ilha
tupinambarana, isto é, mais doce e com cebolinha e outros ingredientes
extras no tucupi. “Eu não consigo conceber o tacacá sem a cuia”, disse a
empresária. “Tacacá sem cuia para mim é sopa”, provocou.
Ela
diz ainda que quanto à questão higiênica, basta observar o prazo de
validade das cuias, pois a tinta com que elas são pintadas realmente
começa a soltar depois de um tempo. “Nós acondicionamos as cuias na
geladeira e as utilizamos por apenas dois meses”, explica.
Outras mudanças
Mas
não é a primeira vez que o tacacá é modificado de alguma forma por
razões comerciais. O Tacacá Gelado, criado, ou segundo algumas versões
recriado por um chef paraense, chegou a agradar por lá, mas também gerou
polêmica de defensores da tradição tacacazeira.
Segundo
historiadores como o paraense Aldrin Figueiredo, o tacacá originalmente
era preparado pelos povos indígenas com peixe e não camarão. Para
torná-lo um prato menos trivial, o camarão foi adicionado. Por isso,
antigamente ele era servido mais em festas e em casas de família, embora
a tradição conte que ele nunca teve hierarquia social.
Resta
saber se as modificações vão criar novas opções de preparo, dando mais
possibilidades de sabor para o prato, ou se vão descaracterizar a
iguaria, perdendo os preceitos clássicos a que faz referência. E você,
leitor, o que acha? - (acritica /
Tacacá na xícara, essa é boa, agora gostaria de ver como
ficaria tomar chimarrão no copo de vidro ou copo descartável. A idéia do desaculturamento,
da dizimação dos hábitos típicos do nosso povo, desde a colonização portuguesa,
sofre ataque dos forasteiros que querem inventar moda e impor a sua cultura
sobre a nossa. O tacacá é um patrimônio imaterial da Amazônia, portanto não pode
ser apropriado e descaracterizado a bel prazer de quem quer que seja, não pode ser modificado dentro da politica
cultural dos modos de fazer e de pensar do nosso povo, a culinária assim como a
língua, é fator identificador da cultura de um povo. Se dermos moleza para esse
desrespeito a tradição local, estaremos abrindo mão da própria identidade de
sermos amazonenses e sendo qualquer coisa, sem raiz, sem passado, sem memória,
e sem apego cultural. Povo sem passado é povo sem memória, acaba perdendo seu espaço
no contexto da sabedoria popular, se torna um povo H2O, inodoro, insipido,
incolor e sem força cultural. (Frank Chaves - historiador)
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