domingo, 17 de março de 2013

E a cuia foi pras cucuias?

Substituição da cuia gera polêmica

Gerente de Marketing do Waku Sese, João Torres, já pensou até em voltar atrás na decisão de oferecer tacacá na tigela, devido a protestos de clientes
Gerente de Marketing do Waku Sese, João Torres, já pensou até em voltar atrás na decisão de oferecer tacacá na tigela, devido a protestos de clientes (Juca Queiroz)
Boca dormente, sensação de arrepio e calor. O que parecem sintomas de alguma patologia, trata-se na verdade das reações do corpo humano diante de uma outra febre: a apreciação do tacacá. Prato típico da Amazônia Brasileira, a iguaria é uma unanimidade entre a população e turistas que visitam a região.
Mas nem todo mundo engoliu quando o sofisticado restaurante Waku Sese, também conhecido pelo delicioso preparo desse prato, resolveu aderir a uma pequena, porém polêmica inovação: substituir a tradicional cuia por uma tigela de porcelana, segundo eles para aumentar a aceitação do prato e impedir que a deterioração rápida das cuias prejudicasse o gosto e a qualidade higiênica da refeição.

Rede Social
Tudo começou com uma postagem na rede social Facebook com uma foto da novidade. Mas o problema é que nem todo mundo curtiu. “Infelizmente gerou uma repercussão muito ruim”, admite o gerente de marketing do Waku Sese, João Torres. Ele ressalta, no entanto, que o restaurante apenas ofereceu uma opção a mais aos clientes (segundo ele, a cuia é rejeitada por algumas pessoas), sem deixar de oferecer a opção tradicional.
“Parte dos clientes gostaram e até pediram para levar a tigela”, diz ele, reconhecendo, no entanto, que a maior parte dos clientes continua pedindo o tacacá servido na cuia. “Teve cliente que até reclamou com a gente. Creio que serviu como experiência, e vimos que a cuia realmente é a mais aceita”, disse ele, que em respeito à vontade (ou seria revolta?) da maioria, já está até considerando voltar atrás na decisão.
Sopa
Quem também não se conformou com a notícia foi a proprietária da Tacacaria Parintins, Bruna Iannuzzi, que oferece a iguaria aos modos da ilha tupinambarana, isto é, mais doce e com cebolinha e outros ingredientes extras no tucupi. “Eu não consigo conceber o tacacá sem a cuia”, disse a empresária. “Tacacá sem cuia para mim é sopa”, provocou.
Ela diz ainda que quanto à questão higiênica, basta observar o prazo de validade das cuias, pois a tinta com que elas são pintadas realmente começa a soltar depois de um tempo. “Nós acondicionamos as cuias na geladeira e as utilizamos por apenas dois meses”, explica.

Outras mudanças
Mas não é a primeira vez que o tacacá é modificado de alguma forma por razões comerciais. O Tacacá Gelado, criado, ou segundo algumas versões recriado por um chef paraense, chegou a agradar por lá, mas também gerou polêmica de defensores da tradição tacacazeira.
Segundo historiadores como o paraense Aldrin Figueiredo, o tacacá originalmente era preparado pelos povos indígenas com peixe e não camarão. Para torná-lo um prato menos trivial, o camarão foi adicionado. Por isso, antigamente ele era servido mais em festas e em casas de família, embora a tradição conte que ele nunca teve hierarquia social.
Resta saber se as modificações vão criar novas opções de preparo, dando mais possibilidades de sabor para o prato, ou se vão descaracterizar a iguaria, perdendo os preceitos clássicos a que faz referência. E você, leitor, o que acha?  - (acritica / FELIPE DE PAULA)

Tacacá na xícara, essa é boa, agora gostaria de ver como ficaria tomar chimarrão no copo de vidro ou copo descartável. A idéia do desaculturamento, da dizimação dos hábitos típicos do nosso povo, desde a colonização portuguesa, sofre ataque dos forasteiros que querem inventar moda e impor a sua cultura sobre a nossa. O tacacá é um patrimônio imaterial da Amazônia, portanto não pode ser apropriado e descaracterizado a bel prazer de quem quer que seja, não pode ser modificado dentro da politica cultural dos modos de fazer e de pensar do nosso povo, a culinária assim como a língua, é fator identificador da cultura de um povo. Se dermos moleza para esse desrespeito a tradição local, estaremos abrindo mão da própria identidade de sermos amazonenses e sendo qualquer coisa, sem raiz, sem passado, sem memória, e sem apego cultural. Povo sem passado é povo sem memória, acaba perdendo seu espaço no contexto da sabedoria popular, se torna um povo H2O, inodoro, insipido, incolor e sem força cultural. (Frank Chaves - historiador)



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