Reportagem do CRAQUE ‘invade’ a Arena da Amazônia para contar como funciona essa megaobra, por dentro. O resultado você confere nesta reportagem e ainda num tour virtual inédito.
Ferro,
concreto, sol, chuva. Trabalho. Muitas horas de trabalho duro! Manhã,
tarde e noite. Nada para por aqui. A Arena da Amazônia é um “organismo
vivo” que, a cada dia, cresce um pouco mais e vai ganhando a forma do
palco onde será encenado o maior espetáculo do futebol mundial: a Copa
do Mundo de 2014.
A
reportagem do CRAQUE invadiu o território de engenheiros, técnicos e
operários e acompanhou, no último dia 7 de fevereiro, um dia inteiro de
trabalho no novo templo do futebol amazonense, para contar como tudo
funciona por lá. Enquanto isso, o editor de fotografia de A CRÍTICA,
Clóvis Miranda produziu tour virtual na Arena em 360º, o qual os internautas podem acessar e também via smartphone na etiqueta no centro da página do jornal A Crítica.
Bom dia
O dia começa cedo para quem labuta na Arena da Amazônia.
São 7h da manhã. Na mesa, café com leite, pão com manteiga e uma
laranja. É preciso “encher” o tanque, mas nem tanto. Afinal, o dia está
apenas começando.
No canteiro de obras, depois de “forrar o estômago” é hora de reunir os grupos de trabalho. Já são 8h.
Uma grande obra como a Arena da Amazônia tem as suas células. Núcleos de trabalhadores que são comandados por um chefe.
É
hora de receber as instruções. O discurso preza pela segurança. Os
operários são lembrados que, depois do expediente, são aguardados por
suas famílias, por isso, todo o cuidado é pouco.
Depois
da rápida palestra é hora de fazer uma oração para que tudo ocorra bem.
Mãos dadas. Um Pai Nosso vai bem para quem procura proteção. E por
falar em proteção é hora de colocar o restante dos equipamentos de
segurança. Quem vai para o sol não esquece o protetor solar. O tempo
muda o tempo todo. A manhã é de sol, mas já vai chover. É assim no
inverno amazônico.
Os
“núcleos” começam o trabalho de forma quase simultânea. É como se tudo
funcionasse como um relógio com suas inúmeras engrenagens. É só que esse
relógio é barulhento. Muito barulhento. Daqui pra frente fica difícil
até conversar.
Nosso
“guia” nesta etapa é o engenheiro Maurício Biasin, 42. Este paulista de
Jundiaí – que é corintiano - está no comando nas obras da Arena da
Amazônia. Sempre atencioso, ele nos leva por vários setores da obra e
fala sobre esse novo momento da engenharia no Brasil. “Já fizemos muitas
obras em vários lugares do País, mas construção de uma Arena é algo
novo no Brasil, então tudo é uma grande novidade”, explica.
Seguimos
enfrente. Conhecemos um grupo de alunos de construção civil que tomam
aulas práticas na obra. “A empresa tem um programa de formação de mão de
obra”, explica Maurício. De fato, a Andrade Gutierrez, responsável pela
construção da Arena,
forma muita mão de obra. Mas, com o mercado em franca expansão, às
vezes fica difícil reter esses talentos. A rotatividade aqui é grande.
Arquibancadas
Depois
de conhecer vários setores da Arena, tomar aquela água gelada para
“matar” a sede, é hora de conhecer as arquibancadas. Deu até tempo de
brincar de olá. O espaço entre um degrau e outro é grande. Nem de longe
lembra o antigo estádio Vivaldo Lima. Até porque, na Arena da Amazônia,
cada cadeira terá assento próprio e será numerada. Padrão Fifa.
A
visão do campo também impressiona. Com a angulação exigida pela Fifa é
possível ter uma visão total do campo independente do local onde o
espectador esteja acomodado. Por enquanto, nada de grama, apenas as
gruas trabalham elevando para os pisos superiores, as arquibancadas
pré-moldadas.
Pausa
Já
passam das 10h30. É hora de dar uma pausa na visita pela obra para
matar uma curiosidade natural principalmente para um repórter que tem
grande apreço pela gastronomia. É hora de conhecer as pessoas que
trabalham para alimentar todo esse batalhão. Para fazer isso, basta
atravessar a rua e conhecer a base da Andrade Gutierrez.
Lá
mudamos o visual. Deixamos os coletes de lado e trocamos os capacetes
pelas toucas descartáveis. Conhecemos a nutricionista responsável pela
alimentação do exército. É a amazonense Elisângela Moraes e Silva, de 39
anos. Ela levou nossa equipe por um passeio pela cozinha. O desafio
dela e de sua equipe é montar um cardápio que ofereça a nutrição
adequada aos trabalhadores. Isso é algo relativamente fácil de fazer
para quem é formada em nutrição. Só que não basta oferecer o ideal...
O ‘placar eletrônico’
O
desafio da equipe de nutrição é agradar também o paladar dos operários.
No refeitório existe uma espécie de “placar eletrônico” no qual os
funcionários podem marcar se o almoço estava “ótimo, bom ou regular”. O
placar positivo prevalece, mas tem muita gente que reclama também. “Que é
para a qualidade não cair”, dizem alguns operários.
Só
no dia de nossa visita a cozinha preparou 1.662 kg de alimentos para
servir 2.079 funcionários. Deste total de refeições, 950 eram almoços.
Haja comida! E o cardápio do dia? Carne moída (o popular picadinho),
linguiça, arroz, feijão e um bolo – para celebrar os aniversariantes do
mês.
Depois de tanto falar em comida
nada melhor do que fazer uma “boquinha”. Como ninguém é de ferro, nossa
equipe fez um pit stop no refeitório. O almoço estava bom. O assustador
mesmo foi ver como o povo come. “Isso acontece porque eles precisam
repor o gasto energético”, explica a nutricionista.
De barriga cheia
Depois
do almoço e do merecido descanso, visitamos o “cérebro” da Arena. Um
escritório montado em frente ao novo estádio. É lá que é feito todo o
planejamento da obra sob o comando de Maurício Biasin. São vários
computadores, plantas no papel e até é usado um moderno software
(ArqCAD) onde é possível visualizar como o estádio estará nos próximos
meses.
O outro lado da rua
De
volta ao outro lado da rua, no quartel general da construtora,
visitamos o setor onde são confeccionadas as armações de aço que serão
devidamente concretadas. Difícil mesmo é entender como eles conseguem se
entender naquele emaranhado de aço. São 14h em ponto. Lá vem a chuva.
Ainda bem que estamos protegidos porque ela veio forte.
Controle tecnológico
Todo
o material que é usado na construção da Arena passa por um rigoroso
controle tecnológico. Quem comanda o setor é o paraibano de Campina
Grande, Jordam da Silva Chagas, de 49 anos.
O
concreto, por exemplo, passa por um teste de pressão. O cimento vai
para um recipiente de formato cilíndrico, passa pela cura até ser
submetido aos testes de pressão. “Testamos aproximadamente 2.400 blocos
deste por mês”, informou Jordam. “Tudo é testado por aqui. Se
detectarmos qualquer problema o material é descartado na hora”, avisa.
Carpinteiro
Foi
na carpintaria que conhecemos um dos personagens mais curiosos desta
reportagem, o senhor Arandir da Silva Correa. Aos 62 anos ele é o
funcionário mais velho trabalhando na Arena. São 33 anos na função.
Seu
Arandir tem toda a paciência do mundo para ensinar os novatos que
chegam a seu setor, mas confessa com o vigor de seus 62 anos: “Tem muito
jovem que passa por aqui e não gosta de trabalhar. Não gosta de pegar
no pesado. Tem bastante trabalho para fazer, mas não é todo mundo que
gosta de suar a camisa”, revela o carpinteiro que é paraense de
Alenquer.
Incrível Hulk
O
dia já está quase acabando, mas ainda deu tempo de conhecer o homem que
comanda o “brinquedinho” mais inusitado da obra: o “Incrível Hulk”, o
maior guindaste em operação na obra. Para se ter uma idéia essa
“belezinha” atinge 66 metros de altura, pesa 750 toneladas quilos e
suporta erguer o mesmo peso. Haja força! Quem pilota essa máquina é o
português Antonio Martins, de 53 anos. Há dez anos ele trabalha com o
“Hulk”.
Antonio, que nasceu em
Ericeira, – a terra do surf em Portugal – já trabalhou na construção dos
estádios do Benfica e do Sporting Clube de Portugal. No Brasil ele
trabalhou na construção do novo estádio do Grêmio.
Os próximos passos
Bem
humorado, o português fala sobre o trabalho. “Nada é difícil quando se
sabe fazer”, brinca. “É a primeira vez que trabalho no Amazonas. O clima
é um pouco complicado. Tem mais calor e umidade do que em Portugal, mas
no fim trabalho é trabalho e é igual em qualquer parte tudo mundo”,
ressalta.
Torcedor do Benfica, ele se
envaidece quando fala sobre a importância sentimental que a obra terá.
“É gratificante, pra qualquer profissional, participar da construção de
um empreendimento desta natureza. Ter um bocadinho do seu trabalho nisso
é algo para o resto da vida”.
Quando
perguntamos se a remuneração pelo serviço é boa... “Não!”, dispara em
meio a gargalhadas. “Não se pode dizer que é mal, mas também não se pode
dizer que é boa, mas eu ganho em Euro”, avisa.
Cronograma da obra
De
acordo com o coordenador da Unidade Gestora da Copa, Miguel Capobiango,
a Arena da Amazônia será entregue em dezembro deste ano. “Estamos
cumprindo o prazo religiosamente. A colocação de pré-moldados termina em
abril e já estamos fazendo alguns acabamentos”, explica. As peças da
cobertura já começaram a ficar prontas em Portugal e começam a viajar
até Manaus a partir do próximo mês. “Em maio começamos a colocar a
cobertura, que será finalizada em outubro. Novembro e dezembro faremos a
parte do campo e drenagem”, enumera.
Fim
do dia para a nossa equipe. Cansaço e as últimas fotos feitas, já fora
do canteiro de obras do estádio, na última arquibancada do Centro de
Convenções. Um lugar de onde é possível ter uma vista maravilhosa da
Arena da Amazônia. A labuta é encerrada para o nosso time, mas continua
para os operários que atuam no turno da noite, na concretagem. Eles
acabam de chegar enquanto “recolhemos o acampamento”. E como funciona o
turno da noite? Bom, isso já é uma outra história...
Viaje pelas obras da Arena da Amazônia: Uma verdadeira viagem em ângulo de 360º.
Clique aqui:
http://www.shareswf.com/game/28974/tour-virtual-viaje-pelas-obras-da-arena-da-amaz%C3%B4nia-uma-verdadeira-viagem-em-%C3%A2ngulo-de-360%C2%BA
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