sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Fundamentos do carnaval itacoatiarense


O carnaval, quanto expressão e manifestação popular acontece no inicio do mês de fevereiro, nos clubes e nas ruas da cidade, até porque, o carnaval pertence as manifestações da cultura imaterial, portanto, não tem dono, é do povo, e na sua mais descontraída manifestação, não tem regras, local e tempo de apresentação. Exceto quando aglutinados em um espaço publico ou privado, sujeitos a critérios e incorporados a uma entidade representativa, como no caso de Itacoatiara, a Liga itacoatiarense de blocos e escolas de samba. Mas o carnaval de rua, dos clubes e as outras atividades dessa natureza, acontece de forma espontânea, assim como era desde o inicio das manifestações, feitas pelos povos primitivos que se reuniam, se pintavam, se enfeitavam para festejar e comemorar a colheita, o casamento, o nascimento e as demais comemorações sociais da tribo.

Mas o carnaval também tem sua limitação, a quarta-feira de cinzas, é a data simbolicamente cultural, que em respeito a cristianismo, finaliza a festa momesca. O grande Tom Jobim em sua música Felicidade, explicita isso de forma categórica:

“A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta feira”

E assim, todos são convidados a se divertirem, a literalmente colocarem seu bloco na rua, nos clubes, na passarela do samba, em fim, é o carnaval tradicional de Itacoatiara. É o momento em que o folião extravasa sua alegria, se fantasia, se pinta e dança até o sol raiar. A folia momesca é uma tradição, originada na cultura grega, onde se destacava o rei Baco, rei do vinho, da festa e dos prazeres da carne, onde os corpos se expõem em movimentos expressivos. Por isso chamam de festa da carne. Desde então em um dado momento, todos os povos comemoram essa data com muita alegria.

Em Itacoatiara, se tem notícias de comemorações dos  folguedos e festas carnavalescas, desde a primeira metade  do seculo XIX, conforme relatos das passagens dos navegantes e expedições científicas que passaram pela antiga Vila de Serpa no período colonial, destacando Wallace e Bates, que fizeram anotações sobre manifestações culturais em Serpa, na obra Viagem pelo Amazonas e Rio Negro. Até a década de 70, os foliões saiam pelas ruas da cidade, enfileirados em carroças ornamentadas, jogando confetes, serpentinas e pó de maizena nas pessoas que assistiam a passagem do carnaval nas ruas da cidade. Nos clubes da cidade aconteciam os bailes, verde e branco, do Botafogo, o carnaval do Luzo, o do Brasil clube, e o do Náutico vermelho e preto, que felizmente ainda persiste em realizar. Os clubes até a década de 80, costumavam realizar concursos de fantasias de crianças e de adultos, era o momento alto da festa. Lembro dos concursos do Botafogo Clube, que oferecia uma quantia em dinheiro e passagens para o Rio e Fortaleza, para os classificados em primeiro lugar, como acontece no Centro de Eventos Juracema Holanda, mas isso tudo faz parte da cultura de assas e eventos. A prefeitura e a Secretaria Municipal de Cultura são os responsáveis por sua realização e manutenção, a LIGA pela organização de blocos e escolas de samba, mas somente daqueles que se apresentam no Centro de Eventos Juracema Holanda e o povo é responsável pela participação e pela diversão!

Hoje o carnaval se reduziu ao espaço confinado do centro de eventos, onde o publico fica assistindo, parado, sentado, sem expressar nenhuma alegria, quando sim, nervosismo, na hora de apresentação do seu grupo carnavalesco, que está sendo julgado pelos jurados, que segue a risca uma criteriosa relação de itens, que vão decidir o vencedor de cada ano.

Os foliões, apresentam-se de forma sincronizada, uniforme e porque não dizer, um pouco tensa, por estarem sob julgamento. A diferença de tudo isso, é coberta pelo brilho das fantasias, pelo enredo, ou seja, pela música e pelas alegorias. É um carnaval formal, onde os participantes tem que estar cadastrados em uma agremiação e obedecer as regras pre-estabelecidas. Mas essa. É a nova versão, daquilo que se transformou em uma festa de eventos. Na qual os integrantes das escolas de samba e dos blocos se doam para ver suas agremiações se destacando e ganhando o prêmio de primeiro lugar. Se divertem mesmo, são os blocos de rua, que há alguns anos, voltaram a se apresentar nas ruas da cidade, mesmo que em pequenos percursos, ou em espaços predeterminados, locais onde de fato todos se divertem a vontade, sem tempo determinado ou de estarem sob qualquer tipo de julgamento, que possa coibir suas alegrias.

Mas carnaval é isso, cada um se diverte a sua maneira, seja olhando para os outros desfilarem na avenida, seja participando do desfile, seja vestindo um abadá e participando de um bloco de rua. De qualquer maneira a alegria do carnaval acontece nesse período e contagia a todos. Um feliz carnaval a todos e cautela com a bebida, e se beber não dirija!

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