Bolsa-família e Fome Zero são oferecidos para resolver o conflito |
De repente o rei ficou nu. Todo o descaso guardado veio à tona, toda a
negligência com a questão indígena, com as comunidades ribeirinhas ficou
escancarado aos olhos da opinião pública nacional e mundial. A suspeita
de que foram os indígenas os responsáveis por três desaparecimentos
funcionou como um rastilho de pólvora em uma região marcada pela
ilegalidade, violência e, sobretudo, a completa omissão do Estado. É por
isso que não resolveu a proposta de Dilma de dar o Bolsa-Família, o
Fome Zero, e outras tramelas assistencialistas para conter a indignação
dos índios. Tanto os tenharim como os jiahui vão manter a cobrança de
pedágio ilegal na BR 230, na Transamazônia, no início de fevereiro
mesmo. Eles confirmaram a decisão mesmo sob os apelos da comissão de paz
enviada pela Presidente Dilma Rousseff à aldeia Marmelos, na reserva
indígena, a 130 quilômetros de Humaitá, foco do conflito no sul do
Amazonas.
Contrapartida recusada
A região está sob proteção de mais de 700 homens integrantes da força-tarefa federal e estadual. A comissão presidida pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante militar da Amazônia do Exército, propôs as lideranças indígenas o fim da cobrança do pedágio ilegal a pedido da presidente Dilma Rousseff. Em contrapartida, o governo federal irá desenvolver ações de compensação financeira pelos danos causados aos índios pela construção da rodovia e implementará políticas públicas sociais e de sustentabilidade econômica na região envolvendo os ministérios da Justiça, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Meio Ambiente.
Justiça é convocada
Ivanildo Tenharim, 34, disse em entrevista ao portal Amazônia Real que os índios tenharim e jiahui não aceitaram a contrapartida da presidente Dilma Rousseff. Eles pediram pela segunda vez a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para negociar um acordo. “Não vamos revogar a cobrança de pedágio, que está mantida para o dia 1º. de fevereiro. O delegado da Polícia Federal já deixou um recado dizendo que vai prender o índio que fizer a cobrança. Nós vamos cobrar. A gente vai enfrentar e encarar esse problema de frente”, afirmou. Em entrevista ao portal Amazônia Real, o general Eduardo Villas Bôas disse que a mensagem enviada pela presidente Dilma Rousseff aos índios foi no sentido de determinar providências para o fim do pedágio. A reunião, que durou cerca de duas horas, começou às 15h30 (17h30 em Brasília), na aldeia Marmelos, e contou com a presença de representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Força Nacional
Segundo o Dário Oficial desta segunda-feira, a Guarda Nacional ficará mais 90 dias em área de conflito no AM. O Grupo está em Humaitá desde dezembro, quando foram iniciadas buscas por desaparecidos em terras indígenas. Ação visa 'manter a integridade física das pessoas e do patrimônio da região', afirma Ministério da Justiça. O O Ministério da Justiça oficializou a ação da Força Nacional de Segurança Pública na região de Humaitá (AM). Os homens da Força Nacional permanecerão na área de conflito por 90 dias contados a partir de 13 de janeiro. De acordo com a decisão, as ações visam manter a integridade física das pessoas e do patrimônio na região. Segundo o Ministério da Justiça, a Força Nacional atua em apoio à Polícia Federal. Um grupo havia sido enviado à região em 27 de dezembro, quando foram iniciadas as buscas por três desaparecidos na região de Humaitá.
Acusação e revolta
Desde que o funcionário da Eletrobras Aldeney Salvador, o representante comercial Luciano Ferreira e o professor Stef de Souza desapareceram, no dia 16 de dezembro, o sul do Estado do Amazonas tem enfrentado uma série de revoltas contra os indígenas da região, acusados de sequestro e homicídio pela população não indígena. As três pessoas sumiram após passarem pela rodovia Transamazônica em um trecho que atravessa a reserva indígena tenharim. As investigações são lideradas pela PF em Rondônia. O superintendente Carlos Manoel Gaya da Costa saiu em férias ontem e o órgão não soube informar quem ficará responsável por supervisionar as operações no seu lugar.
Mortes e revelações
Desde o início dos conflitos violentos, a Funai exonerou um coordenador regional apontado como incentivador da tensão. Em um post no blog da Funai em que lamentava a morte de um cacique tenharim, Ivã Bocchini levantava dúvidas sobre a versão da polícia, segundo o qual o índio morreu em um acidente de carro. Moradores acreditam que o texto teria incitado os índios tenharim e causado os desaparecimentos. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Amazonas enviou o presidente da Comissão Especial de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, Adelson Gonçalves, para a região de conflitos, para acompanhar os depoimentos dados pelos indígenas às autoridades. De acordo com a OAB-AM, os testemunhos estavam sendo tomados da população indígena sem a presença de um advogado.
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