185 distritos no país atenderão à regra para se emancipar, aponta entidade.
Projeto aprovado na Câmara e no Senado depende de sanção presidencial.
Levantamento da União Brasileira em Defesa da Criação dos Novos Municípios
(UBDCNM) indica que Maranhão, Bahia, Ceará e Pará são os estados onde
mais municípios poderão ser criados depois de ter sido aprovado, na
Câmara e no Senado, projeto de lei que estabelece as regras para a emancipação de distritos.
De acordo com a entidade, o Maranhão tem 32 distritos que atendem aos
requisitos estipulados pelo projeto para emancipação. A Bahia tem 28, o
Ceará, 26, e o Pará, 21. No total, o levantamento apontou 185 distritos
em todo o país em condições de reivindicar a separação dos municípios
aos quais atualmente pertencem (veja na tabela abaixo). Há ainda, segundo a entidade, uma proposta de fusão de três municípios no Rio Grande do Sul.
O levantamento serviu de base para o parecer do relator do projeto no Senado,
Valdir Raupp (PMDB-RO), aprovado na última quarta-feira (16). Com a
aprovação, o projeto, que já tinha passado na Câmara, teve a tramitação
concluída no Congresso e agora segue para sanção ou veto pela presidente
Dilma Rousseff.
ESTADOS COM MAIS DISTRITOS EM CONDIÇÕES DE SE EMANCIPAR (*) |
||
---|---|---|
Estado |
Distritos prontos para emancipação |
Número atual de municípios |
Maranhão |
32 |
217 |
Bahia |
28 |
417 |
Ceará |
26 |
184 |
Pará |
21 |
144 |
Pernambuco |
12 |
185 |
Mato Grosso |
11 |
141 |
Amazonas |
9 |
62 |
Goiás |
6 |
246 |
São Paulo |
6 |
645 |
Esp. Santo |
4 |
78 |
R. G. Norte |
4 |
167 |
R. de Janeiro |
4 |
92 |
M. G. do Sul |
3 |
79 |
Minas Gerais |
3 |
853 |
Rondônia |
3 |
52 |
Sergipe |
3 |
75 |
Acre |
2 |
22 |
Paraíba |
2 |
223 |
Sta. Catarina |
2 |
295 |
Amapá |
1 |
16 |
Paraná |
1 |
399 |
Roraima |
1 |
15 |
Tocantins |
1 |
139 |
(*) De acordo com levantamento da União Brasileira em Defesa da Criação dos Novos Municípios (UBDCNM) |
||
Fonte: UBDCNM e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) |
O texto regulamenta a Constituição ao estabelecer regras de
incorporação, fusão, criação e desmembramento de municípios e determina
quais distritos poderão se emancipar após a realização de um plebiscito (veja as regras ao final deste texto).
Inicialmente, a UBDCNM havia identificado mais de 500 distritos que
pretendiam se emancipar em todo o país. Mas a estimativa diminuiu devido
às restrições introduzidas no projeto durante a tramitação no
Congresso.
O presidente da entidade, Augusto César Serejo, informou que, se
sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a lei deverá afetar cerca de
1,8 milhão de pessoas que, segundo ele, vivem em “distritos
abandonados”.
“Eram mais de 500 distritos no país inteiro que pretendiam emancipação
mas, com o rigor da lei, quase 70% ficaram pelo caminho. A lei não nos
agradou porque temos prova suficiente de que é emancipando que se
desenvolve. Mas ficamos satisfeitos ao pensar que é melhor ter lei do
que não ter norma nenhuma para se criar município”, declarou Serejo.
Desenvolvimento e autonomia
Para o pesquisador Paulo de Tarso Linhares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, novas áreas de desenvolvimento e de produção agrícola estão entre os motivos para as demandas dos distritos por autonomia.
Para o pesquisador Paulo de Tarso Linhares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, novas áreas de desenvolvimento e de produção agrícola estão entre os motivos para as demandas dos distritos por autonomia.
“O que pode estar acontecendo é que, nesses últimos 20 anos, o oeste da
Bahia e o sul do Maranhão foram áreas que se desenvolveram muito,
sobretudo com o cultivo de grãos. Se muitos desses distritos que querem
autonomia estão nessa região é porque são áreas que atingiram escala
populacional razoavelmente grande, o que demanda autonomia para se
gerenciar melhor”, declarou Linhares.
Para o presidente da UBDCNM, os pedidos de emancipação surgiram devido à
distância dos distritos em relação ao núcleo urbano dos municípios e à
falta de serviços públicos básicos para as populações dessas áreas.
“Em Altamira, no Pará, por exemplo, existe um distrito de cerca de 15
mil habitantes que fica a 1.214 km do centro do município. No tempo de
chuva, ficam praticamente seis meses isolados”, afirmou Serejo.
Desde 1996, a criação de municípios estava suspensa por falta de
regulamentação. A Constituição de 1988 deixava a cargo dos estados
definir as regras para a emancipação e fusão de localidades.
No entanto, uma emenda constitucional de 1996 determinou que municípios
só poderiam ser criados após a regulamentação das normas em âmbito
federal – proposta aprovada nesta semana.
Segundo o pesquisador Paulo de Tarso Linhares, que estuda os cerca de
1,5 mil municípios criados de 1988 a 1996, em vários casos “podemos
dizer que a divisão de município foi bem sucedida”.
Linhares critica o argumento de que novos municípios geram mais gastos
públicos. “Muitas coisas têm gasto, mas o que se espera é que se traga
mais benefício do que custo. A pergunta é: em que casos isso se revela
positivo e quando é negativo?”
Críticos
Antes de ser aprovado no Senado, o texto sofreu resistência do PSOL na Câmara, único partido a se manifestar na Casa contrariamente ao texto.
Antes de ser aprovado no Senado, o texto sofreu resistência do PSOL na Câmara, único partido a se manifestar na Casa contrariamente ao texto.
Para o líder do partido, deputado Ivan Valente (PSOL-SP) novos municípios geralmente resultam de “interesses políticos”.
“De alguma, forma, deve haver brecha para criar município mas, da forma
como foi feita, a proposta dá uma dimensão ilusória de que basta você
dividir município que você resolve problema”, afirmou.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) se alinha entre os críticos da matéria e votou contra o projeto no Senado.
"São mais gabinetes de prefeitos, mais cargos comissionados, mais
estruturas administrativas, mais câmaras municipais, mais salários de
vereadores, e o cobertor é curto", declarou.
De acordo com relator da proposta no Senado, Valdir Raup (PMDB-RO), não
é possível estimar os custos da criação de novos municípios. Ele afirma
que as despesas resultantes da criação de novos municípios não recairão
sobre a União porque os recursos sairão dos municípios atualmente
existentes.
“Não vai aumentar um centavo nem para União nem para os estados. Vai
sair [recurso] dos municípios de cada estado. Vai ser desmembrado um
pequeno percentual, que a lei já prevê isso aí, das cotas do Fundo de
Participação dos Municípios [...]. O ‘município-mãe’ vai perder
percentual, isso é natural”, disse Raupp.
Regras
A proposta aprovada no Senado estabelece a população mínima que cada localidade deverá ter para que seja possível formar um novo município. Nas regiões Sul e Sudeste, cada novo município deverá ter cerca de 12 mil habitantes. No Norte e no Centro-Oeste serão aproximadamente 6 mil. Para o Nordeste, o número é de 8,5 mil.
A proposta aprovada no Senado estabelece a população mínima que cada localidade deverá ter para que seja possível formar um novo município. Nas regiões Sul e Sudeste, cada novo município deverá ter cerca de 12 mil habitantes. No Norte e no Centro-Oeste serão aproximadamente 6 mil. Para o Nordeste, o número é de 8,5 mil.
Ao contrário do texto que havia sido aprovado inicialmente na Câmara, o
texto aprovado pelos senadores impede novos municípios em reservas
indígenas ou ambientais e em áreas pertencentes à União, a fundações e
autarquias do governo federal.
O projeto também determina que, tanto para a emancipação de distrito
quanto para a fusão, ao menos 20% do eleitorado da localidade deve
subscrever pedido para realizar a mudança, que ainda depende de estudos
técnicos e da realização de plebiscito entre todo o eleitorado da
municipalidade.
saiba mais
Etapas para a criação
Confira abaixo cada uma das etapas para a criação de um município, de acordo com o projeto aprovado no Senado:
Confira abaixo cada uma das etapas para a criação de um município, de acordo com o projeto aprovado no Senado:
1. Protocolar na Assembleia Legislativa pedido de
criação do município assinado por pelo menos 20% dos eleitores do
distrito, obedecendo às seguintes condições:
- Eleitorado igual ou superior a 50% da população do distrito;
- Ter “núcleo urbano já constituído” e dotado de infraestrutura, edificações e equipamentos “compatíveis com a condição de município”;
- Ter arrecadação superior à média de 10% dos atuais municípios do estado;
- Área urbana não pode estar situada em reserva indígena, área de preservação ambiental ou área pertencente à União, a autarquia ou fundação do governo federal.
- Eleitorado igual ou superior a 50% da população do distrito;
- Ter “núcleo urbano já constituído” e dotado de infraestrutura, edificações e equipamentos “compatíveis com a condição de município”;
- Ter arrecadação superior à média de 10% dos atuais municípios do estado;
- Área urbana não pode estar situada em reserva indígena, área de preservação ambiental ou área pertencente à União, a autarquia ou fundação do governo federal.
2. Após o pedido, elaboração em 180 dias, pela
Assembleia Legislativa, de "estudo de viabilidade" do novo município e
área remanescente do município do qual o distrito pretende se separar. O
estudo deverá verificar a viabilidade econômica, ambiental e política
do novo município. Concluída essa etapa, o relatório terá de ser
apreciado pelos deputados estaduais, que poderão arquivar ou aprovar o
projeto.
3. Se o pedido for aprovado pela assembleia, será
realizado um plebiscito que envolverá a população do distrito
interessado em se emancipar e a do município ao qual o distrito
pertence.
4. Se no plebiscito vencer a opção "sim", a assembleia
legislativa terá de votar uma lei estadual autorizando a criação do
novo município.
5. Após a aprovação da lei pela assembleia, será marcada data para eleição de prefeito, vice e vereadores do novo município.
Jornal acritica
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