quarta-feira, 2 de novembro de 2011

TERCEIRA IDADE: ÓTIMOS CONSUMIDORES, MESMO QUANDO NÃO CONSOMEM.





Quando, aos pés do altar, o padre pergunta pro homão, financeira e secularmente bem vivido, se ele aceita a mocinha fresh como sua futura viúva, ele, ansiosamente, diz “sim” - antes até que o religioso termine a frase gozadora.
Se você imagina que isso é apenas uma caricatura, acertou. Mas como toda caricatura, ela tem um fundo de verdade. Mas deixa esclarecer: não estou fazendo juízo de valor em cima do casamento, digamos, assimétrico, como mostra o anúncio. E não entro nessa por duas razões: primeiro porque acho uma das coisas mais desagradavelmente invasivas meter o bedelho em comportamentos alheios – cada um casa com quem quer, na idade que quiser. E, segundo, porque pareceria um moralismo que, como todo moralismo, é composto por 1% de raiva e 99% de inveja. Enfim, nada do nada a ver comigo.
O meu foco sobre o casamento de homens de terceira-quarta-quinta-etc-idade com mulheres jovens é apenas no aspecto econômico embutido nele. E que me ocorreu abordar quando vi um estudo do respeitado pesquisador Paulo Tafner, do IPEA- Instituto de Pesquisa Aplicada, que mostra, olha só, que 69% dos homens separados, na faixa dos 64 anos, se casam com mulheres 30 anos mais jovens. E daí? Chego no ponto.
Essa jovem esposa terá direito à pensão previdenciária por muitos anos após o maridão que, pela cronologia e estatísticas, vai primeiro pro outro lado do espaço sideral. E quem paga a conta? A sociedade, através do Instituto de Previdência que vai dar a devida pensão por longos anos à jovem viúva.

Alguém pra assoprar a sopa.

A dimensão dos novos custos previdenciários pegou os técnicos de surpresa, que não previram em seus estudos e cálculos os novos comportamentos dos idosos nos últimos tempos que, com melhor qualidade de vida, botaram pra quebrar. E nesse novo perfil do “idoso” (êta palavrinha horrível) se encaixa não só um pique inédito de consumismo mas também a busca por um update geral da vida onde o casamento com moçoilas faz parte do script que visa despertar o vigor do Peter Pan que ele acredita ainda existir em sua alma e seu corpo. Mas no caso de o cara ir pro espaço sideral antes da garota, como é estatisticamente comprovado, aqui no Brasil, ao contrário do que acontece em outros países, a Previdência paga a conta sem restrições, dando uma pensão pra viúva que, por ser jovem, vai degustar uma graninha de pensionista precoce por décadas a fio, levando o custo social pra estratosfera. Em outros países não é fácil assim. A viúva, ou pela idade avançada ou se ficou com um filho pra criar, leva algum trocado. Mas se for jovem, saudável e sem filhos, zero de grana. 

Mas como esses detalhes são calculistas, frios, anti-emocinais e desagradáveis, ninguém toca no assunto. Muito menos o, cronologicamente assimétrico, casalzinho da foto. Vai daí o cara, maduro e antenado, vai vivendo e gastando tudo o que pode. Por isso ele se tornou um cobiçado segmento de mercado (nada menos do que 30% da população economicamente ativa) que movimenta em torno de R$ 150 bilhões por ano na economia brasileira. É mole? Por falar essa palavrinha, lembremos que, dentre outros produtos avidamente comprados por esse time, estão os medicamentos pra disfunção erétil, um dos grandes agentes dessa revolução comportamental que, quando não infarta ou derruba o velhote com um derrame cerebral, vai turbinando nele a síndrome de “Benjamin Button” - personagem do filme do mesmo nome em que o protagonista vai se rejuvescendo ao invés de envelhecer ao longo da vida. Assim, sentindo-se um garotão pau-a-pau (ôpa!) com o vigor da mocinha, os terceiros-anistas cronológicos geram fatos de consumo como o do anúncio da Dodge. Claro que a tenra esposa não ia querer o carro da vovó Donalda como presente de casamento. Se ele tem grana de sobra pra comprar um super-esportivo conversível é esse que tem que ser e ponto. Não importa se ele não vai poder curtir o presente ao lado da menina porque não só o vento ataca a asma como faz a peruca voar. Portanto, é um relacionamento naturalmente limitado. Mas que ambos aceitam porque o usufruto será recíproco: ela se conforma em ter se apaixonado pelo sorriso dele mas, como não podia ficar só com esse feature, teve que ficar com a mercadoria inteira. Ele, por sua vez, como no caso específico do anúncio, vai ganhar uma bela companhia pra... pra... enfim, pra assoprar sua sopa. E só. Qualquer outro de desejo ficará apenas no desejo e mais nada. Assim feito o desejo de um cachorro querendo morder um carro que passa à sua frente. Ele persegue inutilmente o objeto desejado. Simplesmente porque jamais vai alcançá-lo. E, se alcançar, não vai conseguir dirigir.

Alex Periscinoto
Publicitário

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