O Ministério da Educação, por intermédio de um dos meios de comunicação mais poderoso, tem veiculado uma propaganda convidando os cidadãos brasileiros a serem professores; ele tenta convencer o telespectador de que essa profissão é uma das melhores do mundo, esquecendo que numa pesquisa nacional realizada há alguns meses, o professor era o quinto profissional mais confiável, atrás - pasmem!- dos advogados. Então, por que ser professor se tornou agora tão especial? Está faltando esse profissional no mercado? Por que será? Respondendo a esses questionamentos, eu digo: Não seja professor: • esse profissional perdeu a credibilidade de toda a sociedade; • os empregadores desse profissional não têm o menor respeito por ele, deixam-no amedrontado para lutar pelos seus direitos, acreditando que se fizerem isso terão seu salário cortado, suas férias interrompidas, sua moral em baixa; • as condições de trabalho desse profissional são as piores possíveis, quando ele tem o material não sabe utilizá-lo, pois não recebeu treinamento para isso e quando sabe, não o tem; • ele é vítima do aluno, vítima da comunidade, vítima dos pais dos alunos que não acreditam em seu poder nem em sua autonomia para tomar decisões; • o salário desse profissional em início de carreira é vergonhoso e para o que já tem algum tempo de serviço é desanimador; • para que esse profissional tenha uma vida decente e possa usufruir de um mínimo de conforto, precisa usar o limite do cartão de crédito ou tomar empréstimo consignado, comprometendo ainda mais o salário injusto; • a falta de funcionários de apoio e de segurança deixam esse profissional a mercê de todo tipo de indivíduos: armados, drogados, mal-intencionados; • a carga horária desse profissional, para o tipo de trabalho que exigem dele, é extenuante; • apesar das propagandas falando sobre a qualidade da educação, o que os governantes querem é quantidade: excesso de alunos em sala de aula e sendo aprovados sem ter conhecimento; • a família transferiu para o professor a tarefa de educar, aconselhar, transmitir valores, cuidar da saúde física e psíquica, ou seja, o professor não é mais o mediador do conhecimento; • é sua culpa quando o aluno não aprende, mas não é mérito seu quando ele entra na universidade, o mérito é do “cursinho”; • ele não tem vida própria, vive em função dos que ditam as leis comportamentais, que só são punitivas se o profissional for PROFESSOR; • esse profissional está longe de ser a profissão mais valorizada em nosso país, porque dele tiraram toda a dignidade, o prazer de ensinar, o valor, o respeito, a moral e a perspectiva de um mundo melhor; • apenas o professor universitário (difícil tornar-se um!) ainda goza de certo prestígio na sociedade e, mesmo assim, tem quase todas as razões acima para reclamar. Ser professor, no Brasil, é menos digno que ser advogado, médico, bombeiro, policial ou estar na vida política. Apesar de nos envergonharmos dos políticos do nosso tempo, somos responsáveis pela formação de todos os profissionais, incluindo esses, mas não somos valorizados por nenhum deles o que tira de nós o desejo de continuar realizando as nossas atividades. Não queremos convites para ser professor; queremos um país digno que respeite e valorize seus profissionais, não apenas inflando seu ego, mas pagando-lhes um salário digno e dando-lhes melhores condições de trabalho, escolas mais equipadas, funcionários de qualidade, segurança e proteção. Queremos que o governo vincule o Bolsa Família à assiduidade e rendimento do aluno, assim a família vai estar mais presente e atuante na escola, as tarefas serão divididas e a sobrecarga do professor diminuirá e ele poderá, realmente, ser um profissional de VALOR.
Por Almirene Sant Anna (Graduada em Letras com especialização e Língua
Portuguesa e Psicopedagogia)
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