A advogada Maria de Lourdes Ribeiro, filha de Geraldo Ribeiro,
motorista que dirigia o carro do ex-presidente Juscelino Kubitschek
quando ele morreu na Rodovia Presidente Dutra em agosto de 1976, disse
ontem que não permitirá a terceira exumação dos restos mortais de seu
pai.
O pedido para um novo exame foi feito pela Comissão Municipal da
Verdade de São Paulo à Justiça de Minas Gerais, onde Ribeiro foi
sepultado. O pedido foi acatado, mas condicionado à autorização da
família. "Foi um acidente. Essa tese do tiro é muito primária para mim,
que sou advogada. Não quero que entrem mais na vida do meu pai. Estão
invadindo a nossa privacidade", disse Maria de Lourdes ao jornal O Estado de S. Paulo.
Anteontem, a comissão apresentou um relatório com 92 indícios, segundo
ela, de que o ex-presidente teria sido assassinado - o principal deles
seria que Ribeiro teria levado um tiro na cabeça antes da colisão do
automóvel em que estavam. A comissão afirmou ainda que o motorista e JK
foram vítimas de uma conspiração.
Ribeiro foi periciado pela primeira vez em 1976, após o acidente. Em
1996, o ex-secretário particular de JK, Serafim Jardim, conseguiu
liminar para uma nova exumação. Concluiu-se na época que havia um
fragmento metálico no crânio de Ribeiro, mas que seria um prego do
caixão. "Se não provarem que ele foi assassinado, eu posso entrar com
uma ação por danos morais. Isso está sendo um transtorno enorme para
mim. Estou sem dormir", diz Maria de Lourdes.
A advogada afirma que nunca foi chamada para falar à Comissão da
Verdade. "Se eles pegarem os restos do meu pai e levarem para São Paulo,
quem garante que não vão colocar um tiro lá?", questiona.
Para ela, apenas escritores e políticos têm interesse na hipótese de
assassinato. "Seria mais confortável para mim se eu comungasse com essa
tese. Eu até poderia pedir indenização do governo, mas meu pai me
ensinou que a mentira prende e a verdade solta. Meu pai não levou tiro",
ressalta. "A Maria Estela (Kubitschek Lopes, filha adotiva de JK),
também não quer mais discutir esse assunto. Ela acha que desígnios de
Deus não se discutem. Ela me escreveu dizendo isso."
Perito. Presidente da comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV) diz
que Maria de Lourdes não foi encontrada para receber o convite. "(Na
exumação de 1996) o perito criminal Alberto Carlos de Minas viu que
havia um rombo na cabeça do motorista, mas não deixaram que ele
fotografasse. Respeito muito o sofrimento dela, mas não abrimos mão do
relatório."
Segundo o ex-secretário particular de JK, Serafim Jardim, as perícias
de 1976 e de 1996 estavam erradas. "Podiam ter guardado o metal que
estava na cabeça do Geraldo e que disseram ser um prego, mas não fizeram
isso. A Maria de Lourdes está falando bobagem", afirma.
A Comissão da Verdade pediu, com base no relatório, que o governo
federal, o STF e o Congresso retifiquem a causa da morte de JK e
reconheçam que ele foi assassinado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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