Com os discos novos de Daft Punk ("Random Access Memories") e David
Bowie ("The Stars Are Out Tonight") puxando a fila, o Reino Unido vai
fechar 2013 como o melhor ano para o mercado de discos de vinil desde
2001, com vendas chegando à casa das 700 mil unidades.
No Brasil, ainda que o número seja mais de dez vezes menor que o dos
ingleses, o mercado do vinil começa a ver uma luz no fim da prensa.
Ainda fora do radar da Associação Brasileira de Produtores de Discos
(ABPD), a produção nacional se resume à única fábrica da América Latina,
a Polysom, no Rio.
Desde que voltou a operar, no fim de 2009, a produção da empresa pulou
de 25,4 mil discos (entre LPs e compactos) para quase 60 mil em 2013
(até novembro), com um crescimento de 136%.
"O mercado de hoje é crescente e muito maior do que se poderia imaginar
quando reativamos a fábrica em 2009", diz o consultor da Polysom, João
Augusto.
Entre os milhares de discos que terão saído da fábrica de Belford Roxo
em 2013 estão tanto títulos novos, como "Cavalo", de Rodrigo Amarante, e
"Nunca Tem Fim", do Rappa, quanto relançamentos clássicos, que viraram
sucesso de vendas.
"Os discos de Tom Zé, Secos & Molhados, Chico Science & Nação
Zumbi, Los Hermanos e Jorge Ben -com destaque para 'África Brasil' e 'A
Tábua de Esmeralda', que passaram de 2.000 unidades vendidas cada um-
estão entre os que contribuíram para movimentar o mercado", observa João
Augusto.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
REPÚBLICA TCHECA
Outros milhares de vinis novos de artistas brasileiros percorrem um
longo caminho até chegar ao país. Álbuns de artistas como Criolo, Tom
Zé, Céu e Sepultura, entre outros, são feitos na República Tcheca, numa
das maiores fábricas do mundo, a GZ Media.
Com números que podem chegar a 1 milhão de cópias produzidas por mês (a
média é de 700 mil), a fábrica se tornou uma alternativa ao mercado
nacional, por conta de seu preço (um pouco mais em conta que o da
Polysom) e fama de qualidade impecável.
"Não temos políticos sérios para ver que há uma indústria que vai além
do produto em si, fotógrafos, engenheiros de som, produtores, estúdios,
músicos. O vinil inibe a pirataria e fomenta outros mercados, como o dos
toca-discos", diz Clênio Lemos, dono da Media4Music, empresa que
representa a GZ Media no Brasil.
Segundo ele, neste ano mais de 20 mil bolachas de brasileiros foram
produzidas na República Tcheca (até novembro), crescimento de 310% em
relação a 2010.
A cantora e compositora Stela Campos optou por lançar seu novo disco, "Dumbo", em lojas digitais e, como mídia física, apenas no formato vinil (pela GZ Media), abandonando o CD.
"A música digital fez o conceito de álbum se perder. O vinil é algo para
ser consumido por aqueles que têm prazer em escutar um álbum, entender o
que o artista quis dizer com o lado A e o lado B, que querem ver a
capa, todo o conceito que está por trás. Optei por fazer o vinil
pensando nessas pessoas", diz Stela.
Ainda que boa parte desses discos seja comercializada on-line, as livrarias já acordaram para esse nicho.
A Fnac e a Livraria Cultura comercializam vinis desde 2008. "No começo,
só importávamos coisas muito especiais. Hoje o público de vinil é
crescente, mas ainda pequeno", pondera Fernando Sant'Ana, da Fnac.
"Tivemos que reaprender a mexer com vinil. Da maneira de expô-lo na loja
até o transporte, vinil requer mais cuidados. Dá mais trabalho, mas é
importante ter, porque é [procurado por] um público que consome
qualidade, estilo, design, é colecionador, superantenado, forma
opinião."
Na Livraria Cultura, o crescimento em faturamento com vinis em 2013 é
14% superior ao mesmo período do ano passado (que foi o melhor ano da
rede em vendas). "O interesse do público acompanha esse crescimento:
velhos consumidores que nunca deixaram de comprar esse formato se somam a
um público jovem", diz o analista de negócios de música na Cultura,
João Paulo Bueno.
Na música eletrônica e no hip hop, gêneros que sempre puseram o vinil
num pedestal, boa parte dos DJs se manteve fiel ao formato, tocando com
bolachas "ocas", com códigos que permitem manipular arquivos digitais
como se fossem vinis de verdade.
Além do universo de megastores e lojas de vinil do Centro, as feiras de discos têm se tornado mais frequentes e cheias em São Paulo.
Marcio Custódio, da loja Locomotiva Discos, organiza uma das mais
concorridas. Foram sete neste ano, a última no último domingo (8), no
Museu da Imagem e do Som.
Custódio considera que o mercado de vinil no Brasil tem potencial para
crescer, mas "o preço dos discos novos fabricados no país precisa baixar
e alguma empresa de eletrônicos precisa voltar a fabricar vitrolas".
A cada feira, ele diz receber média de mil pessoas.
O diretor do MIS, André Sturm, afirma ter aberto espaço no museu por
acreditar na força do mercado do vinil. "Minha filha mesmo não compra
mais CD, mas tem uma grande coleção de vinis."
RECORD STORE DAY
Forte arma da indústria na Europa e nos EUA, o Record Store Day (data festiva criada em 2007 nos EUA para promover as lojas de disco), realizado no terceiro sábado de abril no mundo todo, ainda não pegou no Brasil.
"Pode ser uma espécie de 'Black Friday' dos discos, mas as gravadoras
não fazem nada. Espero que em 2014 organizem lançamentos especiais para
esse dia, como é feito lá fora", sugere Custódio.
Estratégias de mercado à parte, o estudante Pedro Levorin, 18, dono de
uma vitrola Philco portátil fabricada em 1970, presenteada pelos pais,
define o que o leva a consumir discos de vinil de rock, samba,
Tropicália e até de marchinhas de Carnaval.
"É outra relação com o som. Geralmente, as músicas que a gente baixa são
mero pano de fundo para as coisas que fazemos no computador. Ouvir um
disco é ritualístico, rola mesmo uma pausa pra você escutar a música."
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CLAUDIA ASSEF
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
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