domingo, 8 de dezembro de 2013

Comunidades tradicionais de Itacoatiara e sua identidade cultural


Quanto à questão das comunidades étnicas do município de Itacoatiara, penso que precisam se encontrar caminhos para definir primeiramente suas próprias identidades, enquanto componentes do espaço geográfico, histórico, humano e político em que se encontram! Pois não adianta sair por aí transformando pessoas comuns, principalmente caboclos ribeirinhos em índios ou em descendentes de escravos, sem que eles tenham dentro de suas próprias naturezas e existências étnicas, laços consanguíneos e culturais diretos, que assumam naturalmente e possam faze-los sentirem-se como tal, para que sustentem suas afirmações étnicas. Devemos ter cuidado, principalmente com as comunidades tradicionais, ao se depararem com aqueles indivíduos, que possam chegar invadindo o seu habitat, achando que tem o domínio da verdade absoluta, sem respeitar as individualidades, o contexto social e o cotidiano dos atores sociais envolvidos. O pior erro é querer tornar índios, brancos em sua natureza humana, bem como, tornar negros, aqueles que não querem ter nenhuma relação com os escravos do período colonial.



É importante reconhecer que não adianta simplesmente criar aldeias indígenas e comunidades quilombolas pura e simplesmente por criar, e depois deixa-los entregues a sua própria sorte! E por fim toda essa discussão ideológica, parece-me servir mais para marcar território. Penso que uma ação histórica que envolve a mudança de vida das pessoas, principalmente no que tange a criação de novos grupos étnicos é coisa muito séria. Até porque conheço muito bem as duas áreas em voga e acompanho os seus desdobramentos a muito tempo. A criação da Comunidade Indígena do Rio Urubu e sua demarcação, causou sérios prejuízos para os moradores da região, apenas um pequeno grupo se beneficiou. Antes tinham uma realidade mas tinham autonomia para movimentar sua economia e as terras onde moravam eram suas por lei, agora estão confinados dentro de uma área geográfica, na qual seu modo de vida teve que ser totalmente alterado, as terras onde moram, agora pertencem ao governo federal e tudo isso, porque chegou um padre um dia lá e resolveu transformar o seu habitat em uma reserva indígena. E agora aquele padre não está mais lá, para ajudá-los a se adaptarem e a sobreviverem dentro de uma nova realidade econômica, étnica e cultural. Quando vejo as discussões sobre os afrodescendentes do lago de Serpa, baseado no que aconteceu e no que está acontecendo com os moradores da área demarcada pela FUNAI, assinada pelo ex-presidente Lula. Minhas preocupações se voltam, para aquele povo humilde e pacato, que vive em total harmonia com a natureza, sem nenhum tipo de amarras ideológica, econômica e cultural do lago de Serpa. Que vivem de forma comum, e isso não afetou nem um pouco os seus traços genéticos, nem tampouco maculou suas origens étnicas em todo seu contexto. Uma coisa é fazer pesquisa, outra é colocar com suas próprias palavras e opinião, uma situação que não foi resolvida de forma determinante, pelo próprio grupo étnico estudado. Pois desde a criação da reserva indígena Mura do Rio Urubu, ainda há muitas controvérsias e falta de uma determinação consolidada, por parte dos moradores do lugar, se se aceitam como índio ou não, se usam o Rani ou a identidade branca, conforme suas conveniências. Da mesma forma, acontece no lago de Serpa, onde é notória a recusa por uma considerável parte dos seus moradores, sobre a aceitação de serem descendentes de escravos africanos. Fora a questão ideológica, é importante se refletir no que eram no passado, como vivem no presente, e como serão no futuro, após a assinatura de um ato jurídico que pode modificar suas vidas, deixando-os a mercê de sua própria sorte, como estão os ditos “índios do Rio Urubu”. Ate porque o Governo Federal parece incentivar essas práticas, mas no final das contas, não arca com as consequências e foge a sua verdadeira responsabilidade.
Aqui em Manaus por exemplo, a sede FUNAI foi ocupada pelos índios a mais de dois meses e continua ocupada, para reivindicarem seus direitos e auxilio das famosas políticas publicas para o beneficio de sua comunidade, que ficam pura e simplesmente no mundo das ideias e no discurso hipócrita de certos cientistas sociais e do ministério da igualdade racial, que elaboram discursos ideológicos e ufanistas, e depois, ficam jogando a responsabilidade para os governos, estadual e municipal. Ter direitos a saúde, educação e a proteção do estado em todas suas vertentes, todos temos, a constituição brasileira preconiza isso independente do grupo étnico em que esteja. Penso que devemos encontrar soluções mais práticas para minorar suas dificuldades de subsistência e para a melhoria de sua qualidade de vida, acho pouco louvável arranjar-se fórmulas iluminadas para colocarmos comunidades tradicionais em pior situação do que já estão. Pois prezo pela manutenção de suas tradições, pelo uso sustentado do meio ambiente e para que as comunidades tradicionais gozem de sua cidadania plena e que de fato o governo federal, estadual e municipal façam a sua parte. Pois essas comunidades são guardiães de nosso meio ambiente e da singeleza de se viver em harmonia com a natureza e com seus semelhantes. E por fim, concordo que a pesquisa deve ter embasamento científico e um instrumental teórico metodológico apropriado. Mas que sobre tudo, deve ter responsabilidade, equidade e deve contribuir para o bem das comunidades em estudo, deve também especialmente servir de fonte para pesquisas futuras. É nesse contexto que se encontra o legado do pesquisador social. Pelo menos é o eu penso e cujo caminho me esforço em trilhar.

Nenhum comentário:

Consulta de opinão

ALBUM DE ITACOATIARA