Alerta para contaminação de mananciais na Amazônia
A construção desordenada de poços artesianos coloca em risco a conservação dos lençóis freáticos e fontes de água.
Vanessa Brito - jornalismo@portalamazonia.com
No dia Mundial da Água, comemorado nesta
quinta-feira (22), o alerta é para a falta de gerenciamento dos recursos
hídricos. O fator é uma ameaça para a conservação do manancial que pode
estar com os dias contados. O Amazonas possui a maior reserva de água
doce do mundo, mas isso pode acabar. Na avaliação do gerente do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), Marco Antônio Oliveira, a construção
desordenada de poços artesianos coloca em risco a conservação das águas
subterrâneas e das fontes de água da bacia amazônica – e pode levar à
escassez do recurso.
A água usada para abastecer a maior parte dos moradores das zonas
Leste e Norte e dos municípios do interior não vem do rio, mas do
subsolo. A concessionária Águas do Amazonas monitora um total de 129
poços só em Manaus. A população também conta com o serviço de
carros-pipa para ter acesso ao líquido nas casas, ao pagar uma quantia que chega até R$ 80 por mês.
Segundo Marco Antônio, o problema está no descaso do Poder Público e
Setor Privado na distribuição de água. A falta de conhecimento sobre a
perfuração de poços também acarreta outros prejuízos.
Os reservatórios naturais acima de 200 metros do subsolo já estão
contaminados pela ausência de coleta e tratamento adequado do esgoto. No
interior do Estado, a situação é mais crítica. O serviço não chega às
comunidades ribeirinhas. “Não temos um sistema de coleta adequada, pois a
cobertura de tratamento de esgoto não chega a 7% em toda a cidade de
Manaus”, alegou. A situação mostra o contra-censo da realidade. “Em
áreas como o Oriente Médio, a escassez de água existe, mas aqui nós
temos o recurso, o que falta é gerenciamento’, alegou.
O problema de abastecimento mostra um futuro preocupante: a
abundância dos recursos pode estar com os dias contados. A análise é de
uma pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e CPRM. O mau
uso e a falta de normas ocasionam a exaustão de poços artesianos na
cidade. A água de qualidade antes encontrada a menos de 120 metros,
agora só é possível ser explorada em perfurações de até 200 metros de
profundidade. Em perfurações além desta cota, a água não serve mais para
o consumo por ser salgada . “As águas subterrâneas mais rasas em torno
de 30, 40 e 50 metros já estão contaminadas. A água abaixo de 200 metros
de profundidade é a única própria para o consumo”, explicou.
A ausência de coleta não ocasiona apenas a contaminação das águas
subterrâneas mais rasas, mas a dos igarapés e fontes de águas urbanas.
“No decorrer dos últimos dez anos, a degradação dos rios e das fontes de
água piorou e isso não vale só para Manaus, mas para todas as cidades
do Brasil. A população cresceu mais do que a capacidade do gestor de
levar a coleta de esgotos e esses dejetos vão direto para os igarapés”,
salientou. Um ciclo vicioso que pode prejudicar a saúde do consumidor
final. “A população acaba tomando essa água contaminada, o que acarreta
em problemas de saúde e doenças como a hepatite”, alertou Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário