domingo, 2 de agosto de 2015

Estivadores itacoatiarenses comemoram temporada de operações portuárias.

foto: Jerry Nelson - 2015


Ao finalizar mais um serviço de operações portuárias em mais um navio fundeado ao largo do porto de Itacoatiara, estivadores do município comemoram, pois a mais de 9 anos, um navio cargueiro não atraca no velho porto da cidade. Pelo fato de suas instalações não suportarem navios desse porte. Isso ocorreu desde a última reforma feita pelo governo federal no governo Lula, capitaneada pelo DENIT em parceria com o ex-governador do Estado do Amazonas Eduardo Braga, atual Ministro de Minas e Energia, que em vez de aumentarem a capacidade do porto, reduziram a sua tonelagem, tirando o porto público da cidade, da rota dos serviços de carga e descarga do Amazonas. 


Foto: wordpress.com/2010/09



Daí em diante, o município começou a perder receita com as tarifas de importação e exportação, e principalmente os estivadores, arrumadores e capatazes portuários, começaram a amargar momentos difíceis, no que tange a sua sobrevivência no porto da cidade. A maioria deles, teve que se mudar para Manaus e prestar serviço no porto privado do Chibatão, para poder proverem suas famílias das necessidades básicas de subsistência. Ficando como privilégio desse serviço no município, somente o porto privado da Hermasa, que só opera com grãos e fertilizantes, e o porto privado da Equador LOG, que só opera com combustíveis. 


fotos: Jerry Nelson

Vale ressaltar, que estes portos, operam com alta tecnologia e com limitação de serviços portuários, de tal forma que precisam do mínimo de mão de obra, ao contrário dos serviços antes praticados no antigo porto da cidade, que na década de 70, chegou a destacar Itacoatiara, como segunda maior cidade exportadora do Amazonas, perdendo somente para o porto de Manaus que opera com o peso do Distrito industrial da Zona Franca. Nesse tempo, o setor madeireiro estava em pleno curso, e o velho porto tinha maior capacidade de embarque e desembarque e que era alfandegado. 







Vale ressaltar que em 2010, foram investidos R$ 9 milhões, na obra de reforma do porto de Itacoatiara, e mesmo antes da sua inauguração, partiu-se ao meio sua plataforma articulada de embarque, que liga a ponte fixa ao cais flutuante, demonstrando a péssima qualidade do serviço, o acidente levou ao fundo um trator que passava pelo lugar na hora do sinistro. Está tudo registrado na Capitania dos Portos do Município, que por conta disso, interditou o porto por mais de três anos.



foto: Jerry Nelson - 2015

Hoje perdeu a capacidade de carga, perdeu a alfândega, perdeu grandes projetos de transbordo de contêineres e outras operações desse gênero. Isso tudo faz com que a cidade perca grandes somas na arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais, o que dinamizaria o comércio local e contribuiria para o incremento dos serviços portuários da cidade. 



foto: Jerry Nelson - 2015


Mas a turma do OGMO de Itacoatiara é aguerrida, e conseguiu articular alguns dos referidos serviços ao largo, ou seja, fora do porto, bem no meio do Rio Amazonas, mais próximo até da margem direita do grande rio, para onde eles enfrentam um rotina diária de transporte em pequenas embarcações, para terem acesso ao “trabalho nosso de cada dia”.


Planta do Novo Porto do Jauari




Enquanto isso, o município fica com a promessa da construção de um porto novo de pequeno porte, cuja obra foi lançada oficialmente em maio de 2014, pelo Senador Alfredo Nascimento que já foi Ministro dos Transportes, e é atualmente Deputado Federal - PR. 



Busto do Barão do Rio Branco  autor do primeiro alfandegamento do porto de Itacoatiara,
montagem sobre a tela do francês
 Auguste François Biard 1798-1882 (Frank Chaves - 2015)
E até agora nem uma estaca foi posta no lugar, para dar de fato o início as obras. Com a construção efetiva desse porto, o município voltaria novamente a rota do desenvolvimento, pois a cidade de Itacoatiara historicamente, teve seu porto alfandegado desde o período imperial, com a chancela de José Maria da Silva Paranhos Júnior, barão do Rio Branco, em 1873, e por conta de interesses escusos, amarga longos anos, com a falta de compromisso dos representantes políticos na esfera federal e até mesmo estadual, que estão mergulhados na inércia do descaso, e com a falta de compromisso com a vocação natural do município de Itacoatiara, que tem condição geográfica estratégica, para operar com os serviços de carga e descarga de navios de pequeno, médio e grande porte, a qualquer época do ano, devido ao excelente calado fluvial da região portuária do município.

Serviço de operação de praticagem com navio em movimento














Por conta disso, tanto os profissionais do porto, quanto a população itacoatiarense, tem ficado há anos “a ver navios”, passarem na frente da cidade, e até mesmo vê-los cheios de carga ancorados na outra margem do rio, esperando o serviço de praticagem, que obrigatoriamente, tem que fazer a troca dos práticos em frente da cidade, mas que não podem literalmente atracar no velho porto público da cidade, porque mutilaram sua capacidade operacional, deixando-o como simples estação hidroviária, que só opera com capacidade mínima, recebendo barcos de passageiros e pequenos volumes de cargas. 











Há também um velho discurso do governo Melo, que propala que Itacoatiara é o "portal do Amazonas", tentando se referir que pela Velha Serpa, passa toda a riqueza econômica do Estado do Amazonas. Bom, pelo menos no discurso eles estão certos, todavia na prática, ainda não moveram uma palha para efetivar o discurso e mudar a realidade socioeconômica da cidade, construindo um porto a altura da condição estratégica que Deus privilegiou a cidade, e que está sendo, a muitos anos desprezada pelos tomadores de decisão, que tem o poder da caneta, lá do palácio Alvorada e do Congresso Nacional e a nível regional, aqui do palácio da Compensa e dos nossos iluminados representantes na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas.


Vila de Novo Remanso - foto: facebook Novo Remanso - https://www.facebook.com/novoremanso/photos


Nesse cenário turvo, brilha uma luz no fim do túnel, trata-se da construção do novo porto privado, que está em fase de construção pelo Grupo Simões, fica localizado na zona rural de Itacoatiara, com saída pela estrada Am-010, situado na região da Vila de Novo Remanso, nas proximidades da Vila de Lindoia e de Manaus. É bom lembrar que nessa região o calado fluvial não tem o mesmo perfil do porto de Itacoatiara, tendo limitação de calado no período da seca do Rio Amazonas. Mas apesar disso, pelo andar da carruagem, podem ter certeza, que esse porto ainda vai ficar pronto primeiro, que o prometido novo porto público do Jauari, que ainda não saiu do papel, apenas montaram uma base de obras no local para inglês ver, mas efetivação de obra mesmo que seria bom, nada! 





Como podemos perceber, que o empreendimento em logística portuária, desencadeia uma série de outros empreendimentos, como também a prometida duplicação da estrada Am-010, que também não sai do papel. Pois assim também um dia prometeu o governador Eduardo Braga, através do Programa de Aceleração de Crescimento - PAC, criado no governo Lula e continuado no de Dilma, seguido de Omar Aziz quando governador também fez a mesma promessa, e José Melo, atual governador segue os mesmos passos, prometendo a duplicação da estrada, com limitação do projeto somente até o Rio Preto da Eva, cortando no meio a promessa de campanha e os planos ditos, de desenvolvimento estratégicos de seus governos. 




Outro fator preponderante para articular a logística intermodal, seria a reforma, ampliação e reabertura de fato e de direito do aeroporto de Itacoatiara Mariano Arico Barros, que completaria o tripé: porto, estrada e aeroporto, para tornar os serviços de transporte de: carga, descarga, importação, exportação e transporte de passageiros, dignos de uma cidade predestinada a “crescer, viver e sonhar”, como vaticina o hino de Itacoatiara, “vestida bem de verde como a esperança”.


Imagem da placa da obra de recuperação do porto, no fundo a imagem do Prédio Oscar Ramos - foto: paulo Noronha - 2008.


















Na contramão disso tudo, o que podemos ver e ouvir soar infelizmente, é a estrofe do hino Nacional, que preconiza o cenário real das ações governamentais a nível federal e estadual em nosso município, que estão literalmente, “deitadas eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”. O que traduz metaforicamente muito bem o cenário intermodal do município. Que se encontra com um porto velho, praticamente paralisado e sem capacidade de carga, com a estrada AM-010 totalmente destruída, e com o aeroporto sem operações de linhas regulares, deixando a cidade praticamente isolada da rota de desenvolvimento do estado.





Por: Frank Chaves - Professor, historiador e Mestre em Sociedade e Cultura da Amazônia, em 02/08/2015.

Nenhum comentário:

Consulta de opinão

ALBUM DE ITACOATIARA