sábado, 12 de abril de 2014

Chafariz das Quimeras

O ano era 1911 e Manaus despontava como uma das metrópoles mais prósperas do Brasil e do Mundo. Uma das primeiras cidades do Brasil a ter telefone, água encanada e sistema de esgoto, além da energia elétrica que alimentava um transporte público eficiente e que cobria todas as regiões da cidade, inclusive a periférica região de Flores que deu nome ao bairro situado no mesmo local hoje em dia.

O prefeito de então, Dr. Jorge de Moraes, o primeiro de nossa história a ser eleito pelo voto popular, surgiu com a ideia de celebrar a glória da cidade ordenando a construção de uma fonte, para servir de adorno à Praça do Comércio e refrescar os transeuntes da Paris dos Trópicos, numa época em que condicionadores de ar eram apenas uma ficção distante e esta era a principal forma de reduzir a temperatura no perímetro urbano. Naquele mesmo ano foi erguido o Chafariz das Quimeras, situado no cruzamento das ruas Epaminondas e Visconde de Mauá (antiga Demétrio Ribeiro), defronte ao tradicionalíssimo Café dos Terríveis.


Inauguração do chafariz, em frente ao Café dos Terríveis
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O chafariz era composto por uma grande cuba de concreto, que ressurgia no centro em forma de cruz, servindo de alicerce para um cilindro metálico curto que se encerrava em uma grande bandeja de ferro. A seguir um novo cilindro, com o dobro do tamanho, dividido ao meio por um adorno circular. Os cilindros eram bem adornados e acima deles jazia uma última bandeja, menor, de onde brotava água sob os pés da musa grega que portava uma tocha brilhante encerrada em ferro e vidro.

Nos pontos cardeais da fonte, quatro quimeras, animais fantásticos com cabeça de leão, asas de águia e cauda de dragão, vigilantes, fazem a guarda de sua majestade. Em um dos lados, uma torneira de ferro servia de água fresca qualquer um que por ali passasse. Ao redor, um jardim baixinho, com uma pequena cerca de metal, quase imperceptível.


Vista Aérea parcial de Manaus, com as praças do Comércio, XV de Novembro e Oswaldo Cruz na metade inferior direita
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Alguns anos após a sua inauguração, com a capital vivendo os últimos instantes de intensa glória e efervescente emigração de brasileiros e estrangeiros pelo movimentadíssimo Roadway, o prefeito decide mover a fonte para a Praça XV de Novembro, entre as Praças do Comércio e Oswaldo Cruz, de costas para a Catedral de Nossa Senhora da Conceição e de frente para o porto, para recepcionar aqueles dos quais muitos de nós descendemos hoje em dia.

Já na segunda instalação, o sistema de fonte foi removido, sendo instalado apenas o pilar central com a musa e as quimeras, tendo os pés destas sido adornados por plantas. E ali a musa e suas quimeras acompanharam melancolicamente o súbito declínio da borracha e consequente cessação da chegada de grandes navios de passageiros e de barões da borracha que outrora por ali andavam acendendo seus charutos com notas de mil contos de réis. As mansões ao redor foram dando lugar a comércios e no espaço entre a fonte e a catedral foi construído um aquaviário e um pequeno zoológico.


Praça XV de Novembro: o chafariz virou uma simples estátua
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Décadas se passaram, e no começo dos anos 1970 a cidade já contava com aproximadamente 620 mil habitantes (quase o dobro da década anterior). Com a concentração cada vez maior de comércio no centro da cidade, as pessoas foram migrando para os novos bairros que iam surgindo na periferia e, conjuntamente com o evento do desmonte da Cidade Flutuante, na segunda metade dos anos 1960, muitas daquelas pessoas que antes se deslocavam para o centro a pé passaram a usar transporte coletivo e o sistema precisou de um terminal central maior, que suportasse aquela demanda crescente de ônibus, solução de transporte público que substituiu os bondes cuja lembrança restou apenas nos velhos trilhos de metal.


Criou-se o Terminal da Matriz e, para que houvesse mais espaço, a fonte foi retirada por ordem do prefeito Paulo Pinto Nery, e instalada na Rotatória da João Coelho (Rotatória do Olímpico), construída para organizar o trânsito no cruzamento entre as avenidas Constantino Nery (anteriormente conhecida como Av. João Coelho) e (Boulevard) Álvaro Maia / Kako Caminha. E dali a musa pôde observar a expansão da cidade que crescia em todas as direções, até – mais uma vez – se tornar vítima do mesmo progresso que acompanhara impassível até ali.


Paulo Pinto Nery: transferiu a musa para a Rotatória da João Coelho
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Na administração de Alfredo Nascimento como prefeito de Manaus, fez-se necessária a construção do Viaduto D. Jackson Damasceno Rodrigues, entre 1998 e 1999, para desafogar o cruzamento das duas avenidas, que recebiam cada vez mais tráfego após a ascensão da Av. Brasil, no bairro da Compensa, como uma área comercial de preços acessíveis. E a fonte foi então desmontada, para passar vários anos abandonada em um depósito da prefeitura.

Em 2003, ainda na administração de Alfredo Nascimento, integrando a ornamentação paisagística da reforma realizada na Av. Mário Ypiranga Monteiro (antiga Recife) foi construída, no cruzamento desta com as ruas Carlota Joaquina e Rio Negro, a Rotatória do Eldorado e no seu centro foi instalado novamente o chafariz.


Rotatória do Eldorado: bonita instalação, porém disposição incorreta

Infelizmente, por um erro na instalação, as quimeras foram postas de costas para os observadores, deixando de proteger sua musa para tornarem-se apenas suas observadoras e uma seção do cilindro central foi retirada, fazendo com que o resultado final ficasse mais baixo que a versão original. Além disso, com o tempo, a fonte foi permanentemente desligada, sendo então retirada em 2009.

Por fim, com a construção do Parque Estadual Jefferson Peres, como parte dos trabalhos de reurbanização de igarapés do PROSAMIN, durante a administração do governador Eduardo Braga, por sugestão do secretário de cultura Robério Braga, o Chafariz das Quimeras ganhou um lugar de honra de frente para a lagoa artificial das Vitórias-Régias, na confluência dos dois braços do Igarapé de Manaus, onde até hoje pode ser encontrada e admirada.

Parque Jefferson Peres: um lar para receber as visitas das próximas gerações
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Escrito por Steven Conte ¹
Revisado por Adrienne Nascimento ²
Publicado no Blog Frank Chaves

Referências
Entrevistas
- Serafim Corrêa, ex-prefeito de Manaus, sobre datas de construção das obras recentes.
Livros
- MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: a trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus: Editora Umberto Calderaro, 1990. 161 p.

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