O ano era 1911 e Manaus despontava como uma das metrópoles mais prósperas do Brasil e do Mundo. Uma das primeiras cidades do Brasil a ter telefone, água encanada e sistema de esgoto, além da energia elétrica que alimentava um transporte público eficiente e que cobria todas as regiões da cidade, inclusive a periférica região de Flores que deu nome ao bairro situado no mesmo local hoje em dia.
O prefeito de então, Dr. Jorge de Moraes,
o primeiro de nossa história a ser eleito pelo voto popular, surgiu com
a ideia de celebrar a glória da cidade ordenando a construção de uma
fonte, para servir de adorno à Praça do Comércio e refrescar os
transeuntes da Paris dos Trópicos, numa época em que condicionadores de
ar eram apenas uma ficção distante e esta era a principal forma de
reduzir a temperatura no perímetro urbano. Naquele mesmo ano foi erguido
o Chafariz das Quimeras, situado no cruzamento das ruas Epaminondas e
Visconde de Mauá (antiga Demétrio Ribeiro), defronte ao
tradicionalíssimo Café dos Terríveis.
O chafariz era composto por uma grande
cuba de concreto, que ressurgia no centro em forma de cruz, servindo de
alicerce para um cilindro metálico curto que se encerrava em uma grande
bandeja de ferro. A seguir um novo cilindro, com o dobro do tamanho,
dividido ao meio por um adorno circular. Os cilindros eram bem adornados
e acima deles jazia uma última bandeja, menor, de onde brotava água sob
os pés da musa grega que portava uma tocha brilhante encerrada em ferro
e vidro.
Nos pontos cardeais da fonte, quatro
quimeras, animais fantásticos com cabeça de leão, asas de águia e cauda
de dragão, vigilantes, fazem a guarda de sua majestade. Em um dos lados,
uma torneira de ferro servia de água fresca qualquer um que por ali
passasse. Ao redor, um jardim baixinho, com uma pequena cerca de metal,
quase imperceptível.
Alguns anos após a sua inauguração, com a
capital vivendo os últimos instantes de intensa glória e efervescente
emigração de brasileiros e estrangeiros pelo movimentadíssimo Roadway, o
prefeito decide mover a fonte para a Praça XV de Novembro, entre as
Praças do Comércio e Oswaldo Cruz, de costas para a Catedral de Nossa
Senhora da Conceição e de frente para o porto, para recepcionar aqueles
dos quais muitos de nós descendemos hoje em dia.
Já na segunda instalação, o sistema de
fonte foi removido, sendo instalado apenas o pilar central com a musa e
as quimeras, tendo os pés destas sido adornados por plantas. E ali a
musa e suas quimeras acompanharam melancolicamente o súbito declínio da
borracha e consequente cessação da chegada de grandes navios de
passageiros e de barões da borracha que outrora por ali andavam
acendendo seus charutos com notas de mil contos de réis. As mansões ao
redor foram dando lugar a comércios e no espaço entre a fonte e a
catedral foi construído um aquaviário e um pequeno zoológico.
Décadas se passaram, e no começo dos anos
1970 a cidade já contava com aproximadamente 620 mil habitantes (quase o
dobro da década anterior). Com a concentração cada vez maior de
comércio no centro da cidade, as pessoas foram migrando para os novos
bairros que iam surgindo na periferia e, conjuntamente com o evento do
desmonte da Cidade Flutuante, na segunda metade dos anos 1960, muitas
daquelas pessoas que antes se deslocavam para o centro a pé passaram a
usar transporte coletivo e o sistema precisou de um terminal central
maior, que suportasse aquela demanda crescente de ônibus, solução de
transporte público que substituiu os bondes cuja lembrança restou apenas
nos velhos trilhos de metal.
Criou-se o Terminal da Matriz e, para que houvesse mais espaço, a fonte foi retirada por ordem do prefeito Paulo Pinto Nery, e instalada na Rotatória da João Coelho (Rotatória do Olímpico), construída para organizar o trânsito no cruzamento entre as avenidas Constantino Nery (anteriormente conhecida como Av. João Coelho) e (Boulevard) Álvaro Maia / Kako Caminha. E dali a musa pôde observar a expansão da cidade que crescia em todas as direções, até – mais uma vez – se tornar vítima do mesmo progresso que acompanhara impassível até ali.
Na administração de Alfredo Nascimento
como prefeito de Manaus, fez-se necessária a construção do Viaduto D.
Jackson Damasceno Rodrigues, entre 1998 e 1999, para desafogar o
cruzamento das duas avenidas, que recebiam cada vez mais tráfego após a
ascensão da Av. Brasil, no bairro da Compensa, como uma área comercial
de preços acessíveis. E a fonte foi então desmontada, para passar vários
anos abandonada em um depósito da prefeitura.
Em 2003, ainda na administração de
Alfredo Nascimento, integrando a ornamentação paisagística da reforma
realizada na Av. Mário Ypiranga Monteiro (antiga Recife) foi construída,
no cruzamento desta com as ruas Carlota Joaquina e Rio Negro, a
Rotatória do Eldorado e no seu centro foi instalado novamente o
chafariz.
Infelizmente, por um erro na instalação,
as quimeras foram postas de costas para os observadores, deixando de
proteger sua musa para tornarem-se apenas suas observadoras e uma seção
do cilindro central foi retirada, fazendo com que o resultado final
ficasse mais baixo que a versão original. Além disso, com o tempo, a
fonte foi permanentemente desligada, sendo então retirada em 2009.
Por fim, com a construção do Parque
Estadual Jefferson Peres, como parte dos trabalhos de reurbanização de
igarapés do PROSAMIN, durante a administração do governador Eduardo
Braga, por sugestão do secretário de cultura Robério Braga, o Chafariz
das Quimeras ganhou um lugar de honra de frente para a lagoa artificial
das Vitórias-Régias, na confluência dos dois braços do Igarapé de
Manaus, onde até hoje pode ser encontrada e admirada.
Parque Jefferson Peres: um lar para receber as visitas das próximas gerações |
Escrito por Steven Conte ¹
Revisado por Adrienne Nascimento ²
Publicado no Blog Frank Chaves
Revisado por Adrienne Nascimento ²
Publicado no Blog Frank Chaves
Referências
Entrevistas
- Serafim Corrêa, ex-prefeito de Manaus, sobre datas de construção das obras recentes.
- Serafim Corrêa, ex-prefeito de Manaus, sobre datas de construção das obras recentes.
Livros
- MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: a trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus: Editora Umberto Calderaro, 1990. 161 p.
- MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: a trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus: Editora Umberto Calderaro, 1990. 161 p.
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