*Sebastião Vital de Mendonça
Essa estrada trouxe grande facilidade no ir e vir à capital amazonense, principalmente aos habitantes de Itacoatiara, embora os avanços na economia tenham ocorrido de forma moderada, ao longo de várias décadas, aquém do que se esperava.
Antonio Vital de Mendonça, “Quitó” na intimidade, nascido em Itacoatiara aos 17.08.1925, desde cedo, quando exerceu dois mandatos de vereador e depois o de mais votado deputado estadual, trabalhou arduamente para que a Estrada Manaus Itacoatiara deixasse de ser apenas um sonho dos itacoatiarenses para se tornar uma realidade.
Vale lembrar que, à época (década de 1950), em Itacoatiara só havia o curso primário. Poucos eram os jovens que tinham condições de se deslocar para estudar na capital e frequentar o ginásio ou o normal, e menos ainda, os que se formavam em Direito, na única Faculdade que existia no Amazonas.
O “Quitó” foi um dos que não teve essa oportunidade, mas foi um autoditada. Ainda muito jovem, dedicou-se à leitura de grandes mestres, dentre eles Pontes de Miranda – Francisco Cavalcanti, jurista, filósofo, matemático e escritor brasileiro – de quem tinha a coleção completa de seus livros e ali absorvia os ensinamentos desse grande mestre.
Fez-se contabilista prático, ou o guarda-livros como eram chamados, mesma profissão do pai, Pedro Ludgero de Mendonça Lima que exerceu essa função na empresa madeireira de Araújo Costa & Cia.
Foi designado como rábula em defesa de réus em vários crimes. Representou o Sesc/Senac, oportunidade em que reuniu um grupo de alunos interessados em estudar no pequeno espaço da Associação Comercial de Itacoatiara. Só mais tarde, a cidade contaria com o Curso Normal Rural, no Colégio N. S. do Rosário de Fátima, e o de Contabilidade, na Escola Comercial, provisoriamente instalada no Grupo Escolar Cel. Cruz.
Coração generoso, esposo e pai exemplar de 4 filhos, era uma pessoa sempre alegre, prestativo, muito ativo. na noite de 08 de agosto de 1955, por volta das 19 horas, tomou conhecimento em Manaus de que o Governador Plínio Ramos Coelho iria fazer, no dia seguinte, o voo de reconhecimento da Estrada Manaus-Itacoatiara, que havia sido iniciada naqueles dias.
Plínio Ramos Coelho
A partir desse momento, fez mais de três idas e vindas ao Botequim “A Pérola da Visconde”, próximo à sua casa, para tentar falar ao telefone com o Governador, porém, por pouco não desistiu diante da péssima qualidade do serviço telefônico na época, que exigia paciência para aguardar os sinais de ligar, seguidos dos sinais de ocupado do telefone palaciano.
Era quase meia noite quando, graças à sua persistência, conseguiu falar ao Governador ponderando no sentido de acompanhá-lo, o qual, por insistência do “Quitó”, cedeu o seu lugar, convencido talvez dos argumentos de que o Deputado é quem merecia participar dessa viagem, diante do muito que lutou pela construção da estrada .
Na manhã seguinte de 09 de Agosto, dia lindo de sol aberto, o “teco-teco” aterrissou em Itacoatiara, num pequeno campo de pouso, a uns poucos quilômetros do centro da cidade (local atualmente ocupado pelo conjunto residência do Iraci), conduzindo, além do Deputado Vital de Mendonça, o piloto e dois engenheiros responsáveis pelo trabalho de reconhecimento do trajeto da estrada.
Nessa ocasião, o “Quitó” foi abordado por um representante de uma firma de seguro, a Equitativa, implorando em substituí-lo na viagem de retorno. Á negativa de “Quitó”, esse cidadão, frustrado em seu intento, dirigiu-se ao centro da cidade, sentou-se em um Botequim do conhecido Guiomar, junto à praça principal, e passou a falar horrores do deputado, dizendo que ele não merecia ser um representante do povo, por sua recusa em ceder seu lugar naquele avião, não reconhecendo sua necessidade inadiável para chegar a Manaus naquele mesmo dia.
Logo em seguida, surge um garoto, correndo, suado e ofegante, gritando:
– Gente, eu vi, um avião explodir no ar!
Confirmada a tragédia, o securitário esqueceu todo seu rancor, seu compromisso inadiável, agradeceu a Deus e resolveu que só sairia de Itacoatiara, como o fez, após a missa de 7º. dia desse homem que lhe salvou a vida e, lembremos, quis o destino, também a do Governador Plinio Ramos Coelho.
Lamentavelmente o Deputado não pôde participar do encaminhamento do projeto, nem de sua conclusão, mas deixou, ao partir, duas vidas salvas e um reconhecimento pelo seu feito, ao ser homenageado (Lei N° 1229, de 28 de Julho de 1977, publicado D.O. do Estado do Amazonas, de 29 de Julho de 1977., assinada pelo então Governador Henock da Silva Reis) com o seu nome na RODOVIA DEPUTADO VITAL DE MENDONÇA .
N.R. O autor, como itacoatiarense nato, procura estar sempre ligado às coisas de sua terra. Recentemente, coordenou o lançamento do livro de sua cunhada, poeta Maria Célia Perales. Comentou, nestes dias, o texto “Tia Suzana”, postado na Seção Geral deste Blog, afirmando: “Não sabia que meu irmão, Wilson Vital de Mendonça, tinha sido um dos criadores de Tia Suzana. Aos 80 anos, sou o único sobrevivente dos 11 filhos do primeiro matrimonio de meu Pai”.
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