O serviço de resgate das ruínas das embarcações Jaguaribe e do Andirá, envolvidas na revolução constitucionalista de 1932, não deve ser encarada como um simples capricho, como a remoção de um sinistro qualquer, que está com suas estruturas perfeitas. A ação deve ser encarada como um estudo científico e inestimável de um achado significativo para a história do Município de Itacoatiara, e não como um troféu politiqueiro, que pode ser danoso a integridade do achado e afetar seriamente o meio ambiente.
O que tenho a acrescentar, é a data correta do episódio, que se deu em 24 de agosto do ano de 1932 e não 1928, e os navios que estão submersos no Rio Amazonas, são o Jaguaribe e o Andirá. O quanto o serviço de resgate dos escombros dos navios, Acho que só as suas localizações é o suficiente. Pois as ruínas já fazem parte do habitat da fauna e flora, bem como existe todo um bioma localizado no lugar. Uma remoção abrupta, sem as técnicas apropriadas, seria certamente nociva a integridade do estado de conservação dos objetos, além de afetar o meio ambiente estabelecido no local, pois já faz parte do ambiente natural e serve de deposito de vidas aquáticas. Talvez o resgate de alguns objetos, e principalmente a placa com o nome dos navios, bastava como prova cabal do achado. Pois, essa operação deveria ser acompanhada de escafandristas especializados neste tipo de achado, arqueólogos, biólogos, historiadores, fotógrafos, cinegrafistas e engenheiros navais e oceanógrafos. Pois só uma ação de pesquisa interdisciplinar, seria capaz de fazer uma pesquisa com parâmetros científicos e com técnicas específicas para executar tal operação a contento. O fato de se fazer rastreamento e dragagens, sem utilizar os métodos corretos e apropriados a tipo de sondagem que se apresenta, pode danificar seriamente o que resta das estruturas das embarcações, que estão com boa parte de suas estruturas possivelmente soterradas a 79 anos nas profundezas do nosso caudaloso Rio Amazonas. A final trata-se de uma ação de extrema seriedade e respeito a memória.
Em 2004, foi montada uma exposição científica para vasculhar navios no litoral de Santa Catarina, na aventura submarina foi envolvido um aparato técnico e equipe de profissionais especializados. Pesquisadores como americano Dwight Coleman, um dos grandes nomes da exploração subaquática, foi contratado para ajudar nas buscas. Coleman faz parte da equipe de Robert Ballard, o homem que encontrou o transatlântico Titanic e o navio alemão Bismarck, deu suporte a equipe brasileira, inclusive na época da pesquisa, enfatizou que esse tipo de busca “é como se descobrir uma agulha no palheiro”.
Para encontrar as relíquias marítimas, foram necessários equipamentos trazidos dos Estados Unidos. São traquitanas que rastreiam o fundo do mar e identificam corpos estranhos abaixo da areia. “Estes navios [...] provavelmente estão soterrados, se encontrados, levará anos e muito dinheiro será gasto para que sejam retirados. “A areia deve ser dragada com muito cuidado para não danificar nenhum objeto” diz Fernando Luiz Diehl, presidente da Associação Brasileira de Oceanografia, em entrevista a revista Istoé Dinheiro.
Desde o anuncio dos servicos de resgate, pela Marinha por solicitação da Prefeitura de Itacoatiara, em nenhum momento foi dado conhecimento publico das técnicas utilizadas e do perfil acadêmico da equipe de busca. O acompanhamento e autorização do IBAMA, IPAAM bem como do IPHAN, para a execução dos referidos serviços, é de extrema necessidade, para se dar segurança a integridade da originalidade das relíquias náuticas que possam ser encontradas no interior das embarcações. A final os bens históricos e a memória coletiva, devem ser tratados com seriedade e respeito, e não encarados como um devaneio tardio de quem quer mostrar serviço de qualquer maneira no apagar das luzes de sua enfática aurora.
Frank Chaves
Historiador