segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Aeroportos do AM terão verba de R$ 838 milhões para obras

Vinte e cinco municípios do Amazonas fazem parte do programa do Governo Federal de recuperação e construção de aeroportos

Aviação [Problemas]
A falta de concorrência entre as empresas do setor aéreo é apontado como uma das causas do elevado preço da tarifa (Bruno Kelly)
 
Para dar uma resposta às constantes e insistentes reclamações das bancadas de deputados federais e senadores das regiões mais distantes e menos desenvolvidas do País, sobre os preços das passagens aéreas, a falta de voos domésticos e precariedades dos aeroportos no interior brasileiro, o Governo Federal, por meio da Secretaria de Aviação Civil (SAC), deverá anunciar esta semana a conclusão dos estudos de viabilidade técnica e econômica realizados em 270 aeroportos, com investimentos previstos na ordem de R$ 7,3 bilhões.
Desse número, 67 unidades aeroportuárias estão na Região Norte, das quais 25 no Estado do Amazonas. De acordo com a SAC, os aeródromos amazonenses receberão recursos na ordem R$ 838,4 milhões. O Banco do Brasil é o responsável pelo levantamento das necessidades do número e do tipo de obra que cada aeroporto terá, assim como os custos dos projetos.
O debate sobre os gargalos da aviação civil brasileira, especialmente a regional, voltou à cena política na semana passada em uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) que debateu os altos valores cobrados pelas companhias aéreas em determinados períodos do ano. O líder do Governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), disse que, atualmente, os moradores das regiões mais distantes, como do Estado do Amazonas, são os mais penalizados com os altos preços das passagens de voos domésticos no Brasil.


Os problemas
No mês passado, a Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra), da Câmara dos Deputados, recebeu do Tribunal de Contas da União (TCU) uma relatório sobre a infraestrutura de transportes no Estado do Amazonas. Entre os principais problemas no transporte aeroviário estão a inexistência de abastecimento de combustível para aviação na maioria dos municípios do interior, elevado preço do transporte aéreo regular regional, as prefeituras responsáveis pelos aeródromos não possuem recursos suficientes para administrá-los adequadamente em razão dos altos custos de investimento e manutenção; aves nas cabeceiras das pistas, poucos aeródromos habilitados para realizar voos noturnos, segurança contra incêndio e pistas sem material primário.
Para resolver a questão dos preços altos das passagens aéreas, Braga diz que é preciso fazer ajustes na legislação para aumentar a concorrência entre as empresas, com acordos de liberação do espaço aéreo brasileiro para companhias estrangeiras atuarem no País (o chamado open skies) e estudar a possibilidade de se permitir a entrada de capital estrangeiro no setor. O senador questiona ainda a falta de concorrência entre as empresas, o que eleva ainda mais o preço das passagens.
A falta de concorrência entre as empresas do setor aéreo é apontado como uma das causas do elevado preço da tarifa

Programa inclui 270 aeródromos
O Plano de Aviação Regional completa um ano este mês. Lançado em dezembro de 2012, pela presidente Dilma Rousseff, as obras e investimentos nos 270 aeroportos brasileiros, contemplados na primeira fase do projeto, permitirão aperfeiçoar a qualidade do serviço prestado ao passageiro, agregar novos aeroportos à rede de transporte aéreo regular, aumentar o número de rotas operadas pelas empresas aéreas.
Os investimentos previstos são da ordem de R$ 1,7 bilhão em 67 aeroportos na Região Norte; R$ 2,1 bilhões em 64 aeroportos na Região Nordeste; R$ 924 milhões em 31 aeroportos no Centro-Oeste; R$ 1,6 bilhão em 65 aeroportos no Sudeste; e R$ 994 milhões em 43 aeroportos na região Sul.
O objetivo é que 96% da população brasileira esteja a menos de 100 km de distância de um aeroporto apto ao recebimento de voos regulares. Os projetos promoverão a melhoria, o reaparelhamento, a reforma e a expansão da infraestrutura aeroportuária, em instalações físicas e equipamentos. Os investimentos incluirão reforma e construção de pistas, melhorias em terminais de passageiros, ampliação de pátios, revitalização de sinalizações e de pavimentos, entre outros.


Investimentos nos aeroportos da Região Norte
Estado
Aeroportos
Investimentos
Acre
4
R$ 76,5 milhões
Amazonas
25
R$ 838,4 milhões
Amapá
2
R$ 74,5 milhões
Pará
24
R$ 442,1 milhões
Rondônia
6
R$ 83,2 milhões
Roraima
3
R$ 100 milhões
Tocantins
3
R$ 65,2 milhões
Total
67
R$ 1,6 bilhão

Fonte: Secretaria de Aviação Civil

O PIRATA AMAZÔNICO

Vejam a foto, leiam o texto: este bigodudo foi quem roubou a borracha brasileira — e acabou com a fabulosa prosperidade da Amazônia no século XIX

 
Henry-Wickham-pirata-amazonico 
VILÃO E HERÓI -- O aventureiro ingles Wickham,
 o Cavaleiro britânico que levou a Amazônia à falência (Foto: Dedoc)

 
O PIRATA AMAZÔNICO
Um jornalista americano narra as aventuras e desventuras do inglês que traficou para seu país sementes de seringueira e pôs fim ao ciclo da borracha no Brasil.

 Capa de "O Ladrão no Fim do Mundo"

Era início da estação seca de 1876. O chamado verão amazônico, quando o transatlântico SS Amazonas fundeou em uma enseada de águas turquesa no Rio Tapajós, em frente à Vila de Boim, no Pará.
O vapor da companhia inglesa Inman Line ancorou em uma área remota da selva. Sem porto, para receber uma carga secreta. Foram embarcadas em centenas de cestos de palha 70.000 sementes de Hevea brasiliensis, a seringueira.
A operação em um vilarejo escondido na floresta foi coordenada pelo inglês Henry Wickham (1846-1928) – um aventureiro que, depois de mais de uma década de desditas pela Amazônia, foi contratado pela Coroa para traficar as sementes do Brasil.
Essa história é contada em O Ladrão no Fim do Mundo (tradução de Saulo Adriano; Objetiva; 458 páginas; 49,90 reais), do jornalista americano Joe Jackson. O livro descreve como o sonho de Wickham de imitar os grandes exploradores foi usado para perpetrar a mais bem-sucedida e a mais danosa ação de biopirataria já registrada em solo brasileiro.
O roubo de Wickham viria a encerrar uma fase próspera da economia do Norte brasileiro, o chamado ciclo da borracha. No momento em que ele surripiou as sementes, o Brasil respondia por 95% da produção global de látex, matéria-prima da borracha, e as metrópoles amazônicas do fim do século XIX, Belém e Manaus, viviam sua belle époque.

 Desenho de Wickham, de uma folha de seringueira
 Uma folha de seringueira, conforme desenho de Wickham (Imagem: Dedoc / Editora Abril)

Da riqueza à decadência
Em 1896, a capital do Amazonas se tornou a segunda cidade brasileira a possuir uma rede pública de iluminação elétrica. No mesmo ano,  começaram a circular pelas ruas os primeiros bondes elétricos.
Em 1878, os belenenses inauguravam o Teatro da Paz. Dezoito anos depois, Manaus ganhava o Teatro Amazonas. As duas casas se transformaram nos símbolos do fausto em que viviam os amazônidas. Companhias europeias de ópera desconhecidas dos cariocas e paulistas se apresentavam nos palcos da floresta.
Mas as sementes roubadas por Wickham e levadas para o Jardim Botânico de Londres germinaram. Transportadas para as paragens tropicais abrangidas pelo império britânico – o Ceilão (atual Sri Lanka) e a Malásia -, as plantas vingaram, e 2.000 mudas deram origem ao primeiro seringal fora dos limites da inóspita Floresta Amazônica.
Silenciosamente, dava-se início ao fim da riqueza do vale amazônico.

Wickham recebeu 700 libras pelo trabalho (em valores atualizados, cerca de 158.000 reais).
Restariam ao Brasil mais trinta anos de domínio do mercado da borracha: foi esse o tempo necessário para que as árvores atingissem a maturidade no Extremo Oriente. Ultrapassado esse período de maturação. O látex produzido de forma intensiva nos seringais ingleses invadiu o mercado.
Mais barata que a borracha “selvagem” produzida à base da seiva extraída de árvores nativas espalhadas pela floresta, a produção intensiva dos ingleses arruinou a economia gomífera brasileira. A debacle da Amazônia foi rápida. Em 1928, a região atendia a apenas 2,3% do consumo mundial. Os investimentos e as empresas seringalistas se mudaram para a Ásia, e o desemprego tomou conta das cidades antes prósperas.
Responsável pela ascensão da indústria da borracha, Wickham chegou à velhice no esquecimento. Tentou encontrar a riqueza na Inglaterra e na Papua-Nova Guiné, mas se afundou em dívidas ao apostar em empreendimentos fracassados.
Viveu amargurado pela falta de reconhecimento por seu feito. Somente em 1911, aos 65 anos, ganhou da Associação Inglesa dos Plantadores de Borracha 1.000 libras como prêmio. Também naquele ano, viajou para o Ceilão, onde viu a plantação de seringueiras resultante de seu roubo.

Wickham e uma das seringueiras resultante de seu roubo
das sementes brasileiras (Foto: Dedoc / Editora Abril) 


Morreu pobre, e, então, a Amazônia já estava mergulhada na miséria
Na fotografia acima, Wickham aparece apoiado em uma das árvores que brotaram de “suas sementes”.
O gigante de quase 30 metros de altura produziu 168 quilos de borracha entre 1909 e 1913. 

O reconhecimento oficial só veio aos 74 anos, quando Wickham recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico.
No ano de sua morte, em 1928, ele era um homem pobre, e a Amazônia já se encontrava mergulhada na miséria.
Hoje. Um século depois de a Inglaterra quebrar o monopólio brasileiro da borracha, a região ainda se debate na tentativa de se reerguer. Wickham não poderia tê-lo calculado, mas seu ato condenaria ao atraso uma das mais exuberantes regiões do planeta.
(Resenha de Leonardo Coutinho publicada na edição impressa de VEJA)



Os números da concorrência, segundo Fábio Castro, no livro Cidade Sebastiana:
…”No entanto, o monopólio que a Amazônia mantinha sobre a produção mundial de caucho (a seiva milagrosa que modificava o processo industrial de todo o mundo e que equipava indústrias crescentes, como a automobilística) não duraria para sempre. Preocupados com as manobras especulativas que começaram a ser desenvolvidas por exportadores paraenses e portugueses, em 1908, em Nova York, 407 companhias e 231 firmas internacionais formaram a “Rubber Growers Association”, que passou a financiar pesquisas e a desenvolver técnicas de cultivo ordenado – na Amazônia, afora algumas poucas experiências, a atividade sempre foi extrativista – com plantações próprias na Malásia. Essa produção de borracha no oriente subiu de 3 mil quilos em 1900 para 28 milhões de quilos em 1912. Em 1913 alcançou a produção de 48 milhões de quilos e, em 1914, a Malásia produziu mais da metade da borracha mundial, 71 milhões de quilos. Em 1919 a borracha oriental alcançou 90% do mercado mundial, desbancando, definitivamente, a concorrência da produção amazônica.”…

O inglês que roubou a borracha do Brasil

Biografia mostra a vida de aventuras e infortúnios do inglês Henry Wickham, o pai da biopirataria

Ivan Claudio

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CONTRABANDO
Wickham levou 70 mil sementes de seringueira em 50 cestos

Era madrugada quando um homem chegou ao Jardim Botânico de Kew, em Londres, à procura de seu diretor. Ele trazia uma carga roubada: 70 mil sementes de seringueira. Foi graças a essa encomenda surrupiada do Brasil que as colônias inglesas na Ásia tornaram-se as maiores produtoras de látex do mundo no início do século passado, enterrando o milionário ciclo da borracha na Amazônia. O ladrão se chamava Henry Wickham (1846-1926), um aventureiro inglês que morou em Santarém, Pará. Autor de um dos primeiros casos de biopirataria da história, sua trajetória de homem visionário, destemido e bastante teimoso é narrada com neutralidade – mas não sem paixão – pelo jornalista americano Joe Jackson no livro “O Ladrão no Fim do Mundo” (Objetiva).
O boom da borracha foi uma decorrência do crescimento urbano e dos principais meios de locomoção individuais – a bicicleta e o automóvel. Tentativas de se levar sementes da chamada Pará Fine (ou Hevea brasilienses), de onde se extraía o melhor látex do mundo, já haviam sido feitas. Outro espertinho inglês tentou contrabandeá-las dentro de dois crocodilos empalhados, mas todas chegaram secas à Europa. Wickham foi mais feliz em seu golpe. O sucesso de seu roubo não se deveu apenas à esperteza com que despistou a alfândega brasileira – ele argumentou que estava levando “espécies botânicas extremamente delicadas” para a rainha Vitória. Graças ao que aprendeu da população nativa, sabia onde buscar as sementes, qual a melhor época, e como evitar o seu bolor e a germinação.

De posse dos diários de Violet, mulher de Wickham, Jackson reconstitui em detalhes toda a operação do roubo – o aventureiro teria acondicionado os grãos em 50 cestos indígenas e forrado o conjunto com folhas de bananeira para evitar a formação de uma camada de cianeto. A embarcação da carga foi outro lance de suspense: a sorte colocou diante de Wickham um navio novinho, ainda na segunda viagem de Liverpool a Manaus, o SS Amazonas, cujo capitão se encontrava desolado por ter sido roubado e abandonado pela tripulação – a tramoia, embalada em gesto patriótico, veio a calhar. Apesar dos serviços à rainha, Wickham se viu frustrado em suas ambições de coordenar as plantações de borracha nas colônias asiáticas. Fora barrado pelo diretor do Jardim Botânico, que o julgava um picareta. Recebeu apenas 700 libras pelo feito e vagou pelo mundo como um condenado até ser abandonado pela esposa em Nova Guiné, numa região habitada por canibais. Três décadas e meia depois, quando as árvores nascidas das 2.900 sementes germinadas passaram a produzir a rica seiva, ele conseguiu, enfim, provar que estava certo. E virou cavaleiro da rainha, sir Wickham.
  
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Istoé - Ivan Claudio

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