quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
A festa é dos negros
Celebrações herdadas do cativeiro sobreviveram à Abolição, atravessaram o século e ainda hoje fortalecem a identidade afrodescendente
Festas de jongo, congados, folias de reis, festas de boi, maracatus, cocos, tambores de crioula e sambas de roda – criadas e recriadas pelos africanos e seus descendentes ao longo do século XIX, a presença dessas festas no século XXI desafia todos os prognósticos de folcloristas e intelectuais. A previsão era de desaparecimento, em função das irresistíveis pressões da miscigenação e da modernidade. Como entender hoje a continuidade dessas festas, quando estamos muito longe dos africanos e da escravidão?
No passado, certamente, as festas negras ocuparam espaço fundamental na luta de escravos e libertos. Foi algo pelo qual valia a pena lutar. Ao lado da defesa da família, do acesso a terra e da própria liberdade, as reuniões festivas, religiosas ou não, estiveram na pauta das reivindicações de escravos e seus descendentes em todos os locais onde houve escravidão.
Mesmo depois da abolição e ao longo do século XX, apesar das difíceis condições de vida de seus festeiros e das políticas quase oficiais de exclusão, as festas negras impuseram-se culturalmente na nova nação republicana. De fato, afrodescendentes por todo o país lutaram contra as perseguições ou as interdições aos candomblés, jongos, maracatus e sambas, bandeiras de expressão pelo direito a um patrimônio construído nos tempos do cativeiro. Também abriram espaços de visibilidade e reconhecimento de sua presença, em termos musicais e religiosos. As festas negras criaram possibilidades para o exercício de outras dimensões da cidadania, para muito além do voto ou da representação política instituída pelas Constituições republicanas.
Atualmente, muitas festas negras ganharam especial valorização, para além dos próprios grupos ou do interesse pontual de alguns folcloristas. Dentre elas, jongos, sambas de roda, tambores de crioula e festas do boi receberam o reconhecimento oficial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A Lei 10.639/2003, por sua vez, torna obrigatório o ensino de História e Cultura afro-brasileira nas escolas.
A emergência ou a revitalização recente dessas festas negras articula-se com os novos rumos dos movimentos negros contemporâneos, embora também tenham que enfrentar diferentes conflitos, muitas vezes impostos pelo crescimento dos movimentos religiosos evangélicos. Conflitos e mudanças fazem parte da história de todas as festas, em qualquer tempo.
A partir dessa discussão mais ampla, uma boa estratégia é contar a história da festa de uma pequena localidade distante do Rio de Janeiro cerca de três horas, no município de Valença: o Quilombo São José da Serra. Apesar de o local ser distante e de difícil acesso, a repercussão recente dos seus tambores, versos e danças tem sido impressionante por todo o sudeste do Brasil.
A festa se realiza todos os anos, em torno do 13 de maio, e seus festeiros são descendentes da última geração de africanos e escravizados do velho Vale do Paraíba cafeeiro. Reivindicam hoje o título e os direitos de “remanescentes das comunidades dos quilombos”, a partir do Artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Brasileira de 1988. Depois de mais de 15 anos de luta, a vitória e o reconhecimento de suas terras parecem estar próximos.
Em 2005 compareci pela primeira vez a uma festa em São José da Serra, após convite da também historiadora e parceira Hebe Mattos, que havia assinado o relatório histórico-antropológico sobre o grupo com vistas à identificação e à titulação de suas terras. Desde o almoço, no qual foi saboreada uma deliciosa feijoada, eu e Hebe Mattos ficamos impressionadas com a chegada de vários grupos de folias de reis e de jongo – uma dança em círculo acompanhada de tambores, palmas e de uma fogueira. Eles também apreciavam os calangos, dança de casal e música com sanfona, viola e pandeiro, que aconteciam nos intervalos, no barracão coberto e movimentadíssimo. Formados majoritariamente por negros, os grupos vinham de diferentes e distantes municípios do estado do Rio de Janeiro para homenagear os pretos velhos ou para denunciar o caráter incompleto da abolição da escravidão.
Ao longo da festa, crescia a nossa sensação de surpresa e emoção. Era evidente que todos eram descendentes de escravos e representantes do campesinato negro que emergiu a partir da abolição. Traziam consigo – e com muito orgulho – a herança de seus antepassados, as memórias do cativeiro, as histórias da abolição e das lutas do pós-abolição através de versos, desafios, danças, músicas e orações para os santos reis. Como em muitas outras festas, ali se encontram o passado, o presente e o futuro, renovados no novo contexto das lutas políticas dos últimos 20 anos. No palco central, a identidade negra e quilombola de São José da Serra, seus planos de titulação da terra e de um novo futuro.
Em meio à surpresa, logo passamos a fazer várias perguntas, impossíveis de serem rapidamente respondidas. Onde estavam ou estiveram esses grupos até agora? Por que historiadores da escravidão e da cultura pouco ou nada sabiam sobre essas festas e expressões?
Depois de um ano de visitas e entrevistas em várias comunidades negras no estado do Rio de Janeiro – Angra dos Reis, Búzios, Cabo Frio, Mesquita, Barra do Piraí, Valença, Duas Barras – começamos em 2007 a produzir o filme Jongos, Calangos e Folias, memória negra, música e poesia. Como argumento central, a produção registra a presença expressiva da população negra, descendente da última geração de escravizados e identificada, na prática ou na memória, com jongos, calangos e folias.
Em distantes regiões, narrativas coincidentes. Versos, desafios e improvisos estruturavam a forma de cantar, contar histórias e festejar. Recorrentes são as histórias e as memórias sobre antepassados escravos e africanos, muitos desembarcados ilegalmente após 1831 e 1850. Recorrentes são os sentimentos sobre a luta pela terra, sobre o duro trabalho camponês, sobre pais, mães e avós jongueiras, calangueiras e foliões, sobre a alegria dos encontros para essas festas e sobre o respeito aos mais velhos, sempre chamados de “grandes jongueiros” e “grandes calangueiros”.
Marcantes também são as histórias de discriminação racial e de exclusão, ao lado do fortalecimento da identidade negra. A melhor de todas as histórias, contadas em variadas versões das folias, valoriza a presença do “rei negro” – às vezes chamado de Belchior, outras de Baltazar –em face dos outros dois famosos reis magos brancos. Em torno da visita a Jesus recém-nascido, data comemorada no dia 6 de janeiro, o Rei Negro teria chegado primeiro, apesar dos esforços dos outros reis que usam estratégias não muito corretas para conseguir chegar antes.
Se toda essa história pode ser contada hoje, é somente porque continuou sendo contada e cantada em diversos locais do velho Sudeste escravista, na performance das festas e no impressionante repertório de danças, músicas, desafios e versos dos jongos, calangos e folias. Por sua vez, as festas de São José da Serra, mesmo que desconhecidas pelos historiadores e guetificadas por muito tempo, podem ser entendidas como a expressão mais visível de um riquíssimo universo social, cultural e político construído pelos descendentes dos escravos no pós-abolição e ao longo do século XX.
Chegar aos dias de hoje com jongos, calangos e folias é também uma forma de afirmar os direitos dos detentores desse patrimônio, direitos de organização, encontro e diversão em função de seus próprios santos e valores, danças e músicas. As festas tornaram-se o efetivo exercício de um direito e a bandeira de luta de muitos outros.
Martha Abreu é professora de História da Universidade Federal Fluminense e coautora de “Festas religiosas, cultura e política no império do Brasil”. In: GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial (Civilização Brasileira, 2009).
Saiba Mais
LARA, Silvia & PACHECO, Gustavo (orgs.). Memória do Jongo, as gravações históricas de Stanley J. Stein, Vassouras, 1949. Campinas/ Rio de Janeiro: Ed. Unicamp/ Folha Seca, 2008.
RIOS, Ana Lugão Rios & MATTOS, Hebe. Memórias do Cativeiro: Trabalho, identidade e cidadania no Pós-Abolição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
Vídeo
Jongos, Calangos e Folias, documentário de Hebe Mattos e Martha Abreu(UFF, 2008). Em: http://ufftube.uff.br/video/9RBAHO8O6474/Jongos-Calangos-e-Folias-Musica-Negra-Memoria-e-Poesia.
Crocodilo de 8 toneladas habitou Amazônia
Animal pré-histórico viveu há aproximadamente 8 milhões de anos no Acre, media cerca de 15,5 metros, do tamanho do Tiranossauro Rex
MANAUS – Quem nunca ouviu histórias de que na Amazônia, existem ou existiram jacarés gigantes. Será que realmente existiu crocodilos comparados ao tamanho de um caminhão? Um artigo produzido por pesquisadores brasileiros confirma que na Amazônia, há cerca de 8 milhões de anos, viveu um crocodilo que media 12,5 metros e pesava mais de 8 toneladas.
O estudo produzido por pesquisadores de universidades do Brasil, incluindo a Federal de Pernambuco e do Acre, foi publicado neste mês na revista científica, Plos ONE. O artigo apresenta o supercrocodilo Purussaurus brasiliensis (nome aportuguesado dado aos crocodyliformes extintos do gênero Purussaurus), animais semelhantes aos jacarés, mais com maiores dimensões, cerca de 12,50 metros de comprimento.
Foto: Divulgação. Desenho de Maurílio Oliveira - Museu Nacional, Rio de Janeiro
O animal pré-histórico viveu há aproximadamente a8 milhões de anos no Acre, media cerca de 12,5 metros e pesava 8,4 toneladas. Segundo os pesquisadores, os Purussaurus brasiliensis habitavam os megapântanos que existiam na região amazônica. O predador gigante era do tamanho do famoso Tiranossauro Rex, com a vantagem de ter a mordida duas vezes mais potente do que ao Tiranossauro.
Os primeiros estudos que confirmam a existência da espécie gigante, que viveu na Amazônia, foram feitos pelo naturalista brasileiro Barbosa Rodrigues (1842-1909). A partir de placas dérmicas e fragmentos de mandíbula foi constatado que uma espécie de um predador gigante habitava a região.
Em 1986, no Acre, o paleontólogo acreano Jonas Souza Filho, ex-reitor da Universidade Federal do Acre, encontrou um fóssil no rio Acre, no município de Assis Brasil. O achado se tratava de um crânio do Purussaurus com 1,30m. A descoberta do crânio e uma mandíbula de Purussaurus, coletada em 1985 serviu para reforçar a tese da existência dos jacarés gigantes da Amazônia.
Jonas Souza Filho, é um dos autores do artigo, e foi um dos pesquisadores que liderou a equipe responsável pelo achado do fóssil mais completo do Purussaurus. O paleontólogo acreano especialista no grupo dos jacarés, em seu pós-doutorado, na Univerisade de Brasília, publicou um livro infantil sobre o Purussaurus. Jonas se dedica há mais de 30 anos aos estudos dos vertebrados fósseis do Acre.
Supercrocodilos
A existência dos gigantes crocodilos da Amazônia estão ligadas a profundas variações climáticas que aconteceram no final do Período Mioceno e início do Plioceno, há cerca de 5 milhões de anos. Os crocodilianos (crocodilos e os jacarés) compõem atualmente um grupo restrito a 23 espécies de répteis arcossauros de médio a grande porte distribuídos ao longo da faixa intertropical do globo. Ocorrem em todos os continentes, exceto na Antártica e na Europa, com a América do Sul apresentando a maior diversidade relativa, possuindo oito espécies em quatro gêneros: Caiman, Melanosuchus, Paleosuchus e Crocodylus.
De hábitos semi-aquáticos, os crocodilianos viventes ocorrem sempre em localidades costeiras, pantanosas e/ou ribeirinhas. No entanto, a diversidade atual corresponde apenas a uma fração da diversidade de espécies, de hábitos, habitats, tamanho e disparidade morfológica que esta linhagem apresentou ao longo de toda a história geológica.
Os crocodilianos correspondem apenas a um ramo do grupo monofilético maior, mais inclusivo, denominado Crocodylomorpha. A história deste grupo inicia-se há cerca de 225 milhões de anos, entre o Triássico
Ilustrações de esqueletos de espécies de diversas linhagens de Crocodylomorpha, representando a disparidade de formas e diversidade de hábitos que este grupo apresentou desde sua origem no período Triássico até os dias atuais.
A) o crocodilomorfo basal, “esfenossúquio”, Pseudhesperosuchus jachaleri Bonaparte, 1969, do Triássico Superior da Argentina, B) o notossúquio basal Simosuchus clarki Buckley et al., 2000, do Cretáceo Superior de Madagascar,
C) uma forma marinha, o talatossúquio Metriorhynchus superciliosus (de Blainville, 1853), do Jurássico Médio a Superior da Europa, D) o baurussuquídeo Stratiotosuchus maxhechti Campos et al., 2001, do Cretáceo Superior do Brasil,
E) uma espécie vivente, o caimaníneo vivente Melanosuchus niger, ou jacaré-açu, ocorrente no Brasil e países amazônicos. Silhuetas em escala (barra = 50 cm) produzidas por Caio Bernardes (D) e Karen Carr (E) e extraídas de Parrish 1986 (A), Krause et al. 2010 (B) e Motani 2009 (C).
O registro de crocodiliformes no Brasil volta a ser tão numeroso e diversificado quanto aquele do Cretáceo Superior, ainda que concentrado em quase sua totalidade nos níveis superiores da Formação Solimões da Bacia do Acre e conhecidos também em depósitos correlatos no Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela.
Estes depósitos continentais do norte da América do Sul, ou pan-amazônicos, possuem uma espantosa variedade e quantidade de fósseis de todos os principais grupos de vertebrados, sendo os crocodiliformes usualmente os mais frequentes nas centenas de sítios paleontológicos que, no caso do estado do Acre, são em sua maioria barrancas expostas pela ação erosiva dos rios e igarapés da região.
Jordânia Gamajordania.gama@portalamazonia.com
25/02/2015 08:42:00Atualizado em 25/02/2015
Zonas eleitorais do interior do Estado registraram 51 processos na eleição
A maioria das ações foi motivada por propaganda irregular durante o pleito do ano passado
Em Parintins, juiz eleitoral abriu inquérito para apurar irregularidades envolvendo o prefeito Alexandre da Carbrás Foto: Raimundo Valentim/Acervo DA |
As zonas eleitorais do interior do Estado instauraram 51 processos eleitorais, durante a eleição do ano passado, nos 61 municípios do interior do Amazonas, segundo dados do acompanhamento processual do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A maioria dos processos foi motivada por propaganda irregular durante o pleito.
Em Boca do Acre, município a 1.028 quilômetros ao sul de Manaus, foi instaurado o maior número de processos: 16. Foram uma petição, um processo administrativo e 14 representações por propaganda irregular durante a campanha eleitoral. No município, as denúncias partiram do Ministério Público Eleitoral (MPE) contra candidatos ao governo do Estado, Senado e à Câmara dos Deputados por uso de placas de propaganda em bem público ou de uso comum. Em relação às representações, ainda não houve o julgamento e, também, recursos.
A cidade de Parintins, terra do fesltival folclórico dos bumbás Garantido e Caprichoso, registrou o segundo maior número de processos abertos na eleição geral de 2014, com seis ações, sendo um inquérito policial, três processos administrativos, uma petição e uma representação.
O juiz eleitoral de Parintins, Áldrin Henrique, solicitou a abertura de um inquérito para apurar acusações de irregularidades envolvendo o prefeito da cidade, Alexandre da Carbrás (PSD), e o então candidato a deputado federal Alfredo Nascimento (PR). A ação está tramitando no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), em Manaus, sob a relatoria do corregedor eleitoral Mauro Bessa.
Ainda em Parintins, o Ministério Público Eleitoral (MPE) ingressou com uma representação contra o radialista local Gender Lobato e a ex-presidente do boi-bumbá Caprichoso Márcia Baranda, por irregularidades durante programa de rádio transmitido no município. A representação está, atualmente, sob a relatoria do juiz eleitoral Dídimo Santana.
Em Maués, o cartório eleitoral local registrou quatro processos referentes à eleição do ano passado. Foram três representações por propaganda irregular e um processo administrativo com requisição de forças federais para atuar no município.
As três representações em Maués foram impetradas pelo MPE contra a coligação ‘Renovação e Experiência’, que teve como candidato o atual ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, então candidato ao governo do Estado. Dois processos foram motivados por uso de placas em locais não permitidos e um por uso de outdoors, o que é vetado pela legislação eleitoral.
Itacoatiara, Manacapuru e Tefé contabilizaram três processos eleitorais. Já em Borba, Itapiranga e Humaitá, foram dois processos.
Foi registrado apenas um processo nas cidades de Atalaia do Norte, Beruri, Canutama, Coari, Iranduba, Juruá, Manicoré, Tabatinga, Tapauá e Urucará. Nos demais 42 municípios, não houve aberturas de processos eleitorais.
quarta-feira 25 de fevereiro de 2015 - 7:15 AM
Alisson Castro / portal@d24am.com
ICET promove Feira de aplicativos PROMOBILE no dia 25 de fevereiro
O Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET) promove a Feira de Aplicativos PROMOBILE. O evento consiste na divulgação dos aplicativos desenvolvidos pelos alunos do ICET durante os cursos ministrados pelos professores do projeto.
A feira irá ocorrer no dia 25 de fevereiro, de 9h as 20h. A amostra contará com 20 aplicativos produzidos pelos alunos dos cursos de informática (Engenharia de Software e Sistemas de Informação), engajados nos projetos desenvolvidos dentro do ICET.
O que é o PROMOBILE
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