terça-feira, 27 de outubro de 2020

SEQUESTRO DE AVIÃO EM ITACOATIARA

Título da reportagem sobre o sequestro (jornal A Crítica, 13 novembro 1969)











Lembrando que no final de 1968 foi instituído o AI-5, estabelecendo duras diretrizes do Governo Militar.


No ano seguinte, aconteceram diversas manifestações contrárias. Uma delas, foi o sequestro de avião. Dois episódios aconteceram sob o céu amazonense, e, em ambos os casos, as aeronaves foram levadas para Cuba. Neste episódio, o segundo, o sequestrador ficou lá, e o avião retornou.
Compartilho do matutino A Crítica (13 novembro 1969) o relato do segundo desvio de aeronave. Nessa ocasião, o aeroporto de Itacoatiara, que tinha o privilégio de operar com avião de linha, entrou para a história. 

-- Quero ir para Cuba. Te vira!
A ordem em termos ríspidos partiu de um jovem de pouco mais de vinte e cinco anos de idade, que trajava calça de brim azul-marinho, camisa branca e com óculos de aro grossos de tartaruga e lentes claras. Ele queria que o comandante Alexandre soubesse que o YS-11 estava sendo sequestrado.

O turboélice da Cruzeiro do Sul deixou o aeroporto de Itacoatiara, às 13:15 horas de ontem, com destino a Santarém e Belém. Seis passageiros e seis tripulantes estavam no avião. Depois que o sequestrador fez a ameaça, a rota do voo mudou: a próxima escala seria Caiena, na Guiana Francesa.
O comandante da aeronave Alexandre de Casrilevitz, ligou as turbinas e as hélices às 12:18 horas. Logo em seguida, o avião subiu. Era o voo 254, com destino a Belém e escalas em Itacoatiara e Santarém. O resto da tripulação era composta do copiloto Marco Antonio de Castro Espírito Santo, rádio navegador Mário de Queiroz Ferreira e dos comissários Ademar Feuder, Floricéia de Queiroz Mendes e Tereza, todos residentes no Rio de Janeiro.
As 12:50 horas, o avião pousou no aeroporto de Itacoatiara, onde só dois passageiros ficaram: Mariano Mendes e Chibly Abrahim. Embarcou apenas um: Vitor Mário Troiano. Junto com ele, seguem João B. Oliveira, José Messias Souza e Vicente Adriano, que ficariam em Santarém. Para Belém, iam Roberto Campos e Iran Souza. Logo que levantou voo de Itacoatiara, o comandante entrou em contato com a torre de Santarém. Não demoraria a chegar.

DEPOIS, O SEQUESTRO
Capitão Figueiredo
(mesmo jornal)

A próxima escala seria Caiena. na Guiana Francesa, ponto mais próximo, em território estrangeiro na rota para Cuba. As coordenadas foram recebidas pelo rádio navegador. A partir daí, o sequestrador permitiu aos tripulantes que falassem normalmente com a torre de controle de Belém. Foi por isso que, tudo o que ocorreu a bordo do YS-11, chegou ao conhecimento das autoridades da Aeronáutica e do pessoal da Cruzeiro do Sul.

A maior preocupação das autoridades e gerência da empresa a que pertence a aeronave, era a da pouca autonomia de uso do aparelho. Ele é de fabricação japonesa e tem uma autonomia de voo de seis horas, e deixava muitas dúvidas sobre sua chegada a Caiena. Mas, a apreensão foi desfeita porque a capacidade total do tanque do aparelho havia sido abastecida em Manaus. A viagem de 950 quilometras, até Caiena, não oferecia nenhum perigo. O capitão Figueiredo, subcomandante do Destacamento da FAB, informou que, quando o avião foi sequestrado, o comandante Alexandre já havia solicitado permissão de pouso à torre de controle de Santarém.
Por volta das 17 horas o YS-11 aterrissou em Caiena, sendo feito o seu reabastecimento. Logo em seguida, a rota tinha como destino Trinidad, onde chegou por volta das 21:30 horas. Após o reabastecimento, mais 2 escalas: Porto Rico e Nassau.

NINGUÉM DESCE
O sequestrador deu ordens à tripulação, quando o YS-11 chegou ao aeroporto de Caiena, para que ninguém saísse do aparelho. Só a porta de emergência foi aberta para receber alimentação necessária até o fim da viagem exigida pelo sequestrador. Enquanto o avião estava sendo reabastecido, ninguém podia entrar ou sair do aparelho. Os alimentos foram trazidos até a porta da aeronave por um servente do aeroporto de Caiena.
Em menos de dois meses, é o segundo sequestro de aviões que a Cruzeiro do Sul sofre. O primeiro ainda está na lembrança de todos: o do Caravelle, que vinha de Belém.


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