Conheça a origem dos quitutes que dividiram o Brasil e como viraram símbolos políticos
Com o pão de queijo, o arroz com feijão e a feijoada, a cozinha faz parte dos pratos universais brasileiros, que podem ser encontrados do Oiapoque ao Chuí.
A coxinha, na receita e formato atuais, é exclusiva do Brasil. Mas há algo muito parecido lá fora: croquetes de frango. No livro L’Art de La Cuisine Française au Dix-Neuvième Siècle ("A Arte da Cozinha Francesa no Século 19"), de 1831, o chef Antonin Carême dava uma receita, e já dizia que o croquete devia ter um formato de pera - isto é, de coxinha.
O salgadinho como conhecemos se desenvolveu nas primeiras décadas do século 20, na Grande São Paulo. Era uma variação mais durável das coxas de galinha fritas que faziam sucesso como petisco rápido nas portas das fábricas. A camada de massa ajudava na preservação. Há também uma lenda sobre a coxinha, que é contada na cidade de Limeira, interior paulista: a cozinheira da princesa Isabel teria improvisado com frango desfiado e batata amassada para servir o príncipe Pedro de Alcântara, que amava coxas de galinha e morava na residência real na cidade.
O termo político também veio de São Paulo. É usado há pelo menos 20 anos. Letras de rap dos anos 90 atestam que "coxinha" já então era uma forma pejorativa de se referir a policiais militares. Possivelmente porque eles têm a fama de estar sempre parando em padarias para comer coxinhas. É mais ou menos como nos EUA, onde o estereótipo é que policiais amem loucamente os donuts.
De policial, "coxinha" passou a se referir a conservadores em geral. São os defensores da lei e da ordem.
A mortadela também é famosa em São Paulo, por conta dos sanduíches vendidos dentro do Mercado Municipal, com dezenas de fatias. Sua origem é italiana. Surgiu em Bolonha, no século 14, como uma variação de uma linguiça popular no país desde a Roma antiga. Sua característica mais marcante são os pedaços de gordura extraídos da papada de porco. Como o salame italiano, foi exportada para o mundo.
A mortadela virou a resposta dos coxinhas a seus adversários políticos. Faz referência à tradicional má fama que o barato embutido tem nos círculos mais remediados, visto como um produto inferior. E também aos lanches que são servidos em protestos e comícios de sindicalistas. Os organizadores dessas manifestações podem distribuir sanduíches entre os participantes — não necessariamente de mortadela. A ideia é que só participam do protesto para ganhar o sanduíche. Diferentemente de "coxinha", que já era um apelido relativamente popular, "mortadela" começou a se disseminar a partir de 2015. O suficiente para, nas eleições de 2016, mais de 50 candidatos, em todo o país, terem usado "coxinha" ou "mortadela" como apelido eleitoral.]
Fonte:
Revista Aventuras da História - Por: Tiago Cordeiro - Publicado em EM 09/03/2019.
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