Nasci com o nome de Chaya Pinkhasivna Lispector, mas foi como Clarice que encontrei minha voz. Não foi na terra onde nasci, a Ucrânia, que dei meus primeiros passos — fui carregada no colo ainda bebê para o Brasil, meu verdadeiro lar. Aliás, nunca me senti ucraniana. Era o Brasil que pulsava em mim, era o Recife que moldava minha infância, o Rio que me reinventava mulher.
Perdi minha mãe cedo demais. Perdi meu lar cedo demais. Mas ganhei uma inquietação que me acompanharia para sempre: o desejo de entender o que ninguém vê. Não o que está diante dos olhos, mas o que sussurra por trás dos gestos mais simples, das pausas no meio de uma frase, da solidão de uma mulher diante do espelho. Cresci carregando perguntas que ninguém conseguia responder — então aprendi a escrevê-las. Escrevi para existir. Para entender. Para sobreviver.
Estudei Direito, mas nunca fui advogada. Fui das entrelinhas. Da palavra que escapa. Da alma que tropeça em si mesma e, ainda assim, insiste em continuar.
Aos 24 anos, publiquei Perto do Coração Selvagem — um livro que nasceu do meu caos interior. Diziam que era estranho. Diferente. Talvez eu também fosse. Mas era verdade. E toda verdade, por mais silenciosa, grita.
Casei-me, viajei o mundo como esposa de diplomata. Fui à Itália, Suíça, Estados Unidos. Mas minha verdadeira viagem sempre foi para dentro. Lá onde ninguém entra. Onde só eu e Deus ousamos pisar.
Escrevi como quem sangra — porque viver doía. Porque pensar demais doía. Porque amar, em mim, era um bicho solto. E, ainda assim, escrevi. Sempre escrevi.
Minhas palavras eram meu corpo. Meus livros eram espelhos. Em cada um deles, deixei uma parte de mim. Um segredo, um abismo, um sussurro.
Morri em 1977, um dia antes de completar 57 anos. Mas continuo viva nas mulheres que sentem demais. Nas leitoras que leem em silêncio e choram sem saber por quê. Vivo em cada alma que um dia ousou se perguntar: “Quem sou eu, quando ninguém está olhando?”.
"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar."
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece. Só assim será surpreendido pela vida."
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro."
- Clarice Lispector
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