Na vastidão das florestas que cercavam a Baía de Guanabara, antes que o concreto moldasse as paisagens, vivia um guerreiro de coragem e alma indomável: Araribóia — "Cobra da Tempestade", como era chamado entre os seus.
Filho dos temiminós, tribo rival dos tupinambás, Araribóia nasceu sob o sol escaldante e os ventos do litoral. Desde cedo aprendeu a caçar, a remar pelos rios e a guerrear. Mas sua maior batalha ainda estava por vir.
Do outro lado da baía, em Espírito Santo, Araribóia foi chamado pelos portugueses. Não por submissão, mas por estratégia — sabia que seu povo precisava de aliança para sobreviver. Com olhos de águia e coração de jaguar, conduziu seus guerreiros em canoas pelo mar, enfrentando tempestades e inimigos. Era o ano de 1567 quando se uniu a Estácio de Sá, português destemido que fundaria o Rio de Janeiro.
A guerra foi brutal. Flechas cruzavam os céus como raios, e o sangue manchava a areia das praias. Araribóia lutou com fúria, movido pelo espírito ancestral dos seus. Ao lado dos portugueses, derrotou os franceses e os tupinambás. A vitória foi celebrada com danças, tambores e silêncio de respeito pelos mortos.
Como recompensa, Araribóia recebeu terras do outro lado da baía — do lado do sol poente, onde as águas se escondem entre colinas e enseadas. Lá fundou São Lourenço dos Índios, a semente de Niterói, cujo nome em tupi significa "águas escondidas".
Mesmo batizado como Martim Afonso de Sousa, nunca abandonou sua alma indígena. Vestia-se com trajes europeus, mas caminhava como guerreiro. Certa vez, humilhado por um governador português, levantou-se com orgulho e disse:
"Mesmo que eu esteja vestido como vós, por baixo desta roupa bate o coração de um chefe temiminó!"
Araribóia morreu como viveu: firme, honrado, lembrado como fundador de Niterói e símbolo da resistência e sabedoria indígena.
Hoje, sua estátua observa a cidade, como um sentinela eterno da história, das raízes e do povo que veio antes de tudo.
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