Chiquinha Gonzaga foi a primeira maestrina brasileira, e uma mulher a frente do seu tempo.
Com um talento único para compôr e tocar piano, subverteu as convenções sociais de sua época tornando-se um dos nomes femininos mais respeitados da música brasileira. Neste artigo, selecionamos 16 curiosidades sobre a sua vida que abalou as estruturas da sociedade da época.
1. Chiquinha era fruto da relação um nobre com a filha de uma escrava
Nascida no Rio de Janeiro em 1847, quando país ainda era uma monarquia, seu pai era um militar ilustre do Império e a mãe a simples filha de uma mulher escravizada.
A sua família paterna demorou a aceitar a menina, mestiça, por preconceito com a origem da mãe. O pai, tardiamente, assumiu a educação da criança, que cresceu em um ambiente refinado, tendo acesso à aprendizagem da escrita, leitura, catolicismo, matemática, prendas tradicionais femininas, e... A música.
2. Compôs sua primeira música aos 11 anos de idade
Chiquinha, como era chamada, cresceu rodeada por música e aprendeu muito cedo a tocar piano. Sua primeira composição foi Canção dos Pastores, quando tinha apenas 11 de idade. Suas apresentações, no entanto, eram limitadas às salas das casas da família.
3. Casou aos 16 anos, mas largou tudo pela música
Como de costume na sociedade patriarcal em que vivia, quando completou 16 anos Chiquinha teve seu casamento arranjado pelo pai, com um promissor empresário.
Jacinto Ribeiro do Amaral, seu marido, quase 10 anos mais velho, não gostava do fato do Chiquinha continuar dedicada ao piano. Depois de dois anos de casada e já com três filhos nos braços, Chiquinha decide separar-se, uma atitude inaceitável para a época.
4. Chiquinha Gonzaga foi processada por abandono de lar e adultério
Com 18 anos, cheia de vontade de viver de música, Chiquinha teve que enfrentar a fúria da sociedade carioca. Tendo abandonado o primeiro marido para viver de música e apaixonada por um novo homem, o engenheiro João Batista de Carvalho, foi levada ao Tribunal Eclesiástico em um processo por abandono de lar e adultério.
Ficou com a guarda apenas do filho mais velho, João Gualberto, já que o ex-marido a proibiu de ficar com os outros dois: Maria do Patrocínio e Hilário.
5. O início da fama para Chiquinha Gonzaga
Com a reputação abalada e a ousadia de ultrapassar espaços femininos para compor e publicar suas músicas, de uma roda de choro na casa de um amigo surge a sua primeira composição famosa, chamada Atraente. Foi um sucesso imediato.
A família encarou como uma provocação, e fazia questão de destruir as partituras da música que eram vendidas nas ruas pelos escravos. Atualmente, Atraente é considerada um clássico da música instrumental nacional.
6. Chiquinha Gonzaga: uma compositora produtiva e nacionalista
Foram anos lidando com a maldição familiar, condenações morais e sociais. Ainda assim, depois do primeiro sucesso, Chiquinha não parou mais.
Compôs mais de 2 mil músicas em gêneros variados como: valsas, polcas, choros e serenatas, tangos, e outros. Uma curiosidade é que a maestrina gostava de dar nomes indígenas às suas composições: Tupã, Tupi, Aguará, Caobimpará, Ary, Aracê, Timbira, Tamoio e Tupiniquins são algumas de suas composições.
7. Mais um divórcio para a conta: Chiquinha Gonzaga separa-se pela segunda vez
Além de enfrentar as constantes desaprovações sociais pela sua vida pública e arcar com as consequência de ter renegado uma vida do lar, Chiquinha também sofreu no segundo casamento. Seu segundo esposo, João Batista, a traía constantemente e, mesmo tendo com ele uma filha, Alice, a artista decidiu se separar novamente.
Mais uma vez, foi proibida de ter a guarda da criança, e continuou vivendo apenas com o seu primogênito.
8. Obrigou a imprensa brasileira a usar o termo "maestrina"
Em 1885, aos 38 anos, já divorciada do segundo marido, Chiquinha havia conquistado respeito como artista na sociedade carioca. Estreou no teatro, criando a trilha para a opereta A Corte na Roça. Na ocasião, a imprensa nacional não sabia como tratá-la, pois não existia o feminino para a palavra maestro. Deu-se então a invenção do termo "maestrina".
9. Chiquinha Gonzaga gostava de violão quando ninguém dava valor ao instrumento
Você consegue imaginar uma orquestra onde a estrela é o violão? Pois bem: esse instrumento, nada comum em concertos clássicos, foi elevado ao status de erudito por Chiquinha Gonzaga, que em 1889 regeu no Imperial Teatro São Pedro um recital de violões.
Na época, o instrumento não era considerado nobre e muito menos adequado para a ocasião, mas Chiquinha mais uma vez causou polêmica e inovou sua forma de apresentar.
10. Chiquinha era a favor da causa anti-escravagista
Uma revolução política acontecia no Brasil em meados de 1888, estava para ser assinada a abolição da escravatura e Chiquinha era militante a favor da libertação de pessoas escravizadas. Sendo ela própria de origens negras, sua atitude condizia com as suas origens.
Uma das curiosidades mais faladas de sua biografia é o fato de ter comprado a alforria de José Flauta, um escravo músico que queria como companheiro artístico.
11. Chiquinha Gonzaga: a defensora pioneira da música popular brasileira
Chiquinha viveu em uma época em que a música nacional não era considerada arte. Os burgueses apreciavam composições europeias e torciam o nariz para qualquer expressão cultural que expressasse alguma brasilidade.
A maestrina, no entanto, fazia questão de ressaltar o aspecto nacional de suas composições, inclusive nos títulos, como já falamos acima.
12. O tango Corta-jaca de Chiquinha vai parar no Salão Nobre do Palácio do Catete
Era dia 26 de outubro de 1914 quando a primeira dama do Brasil à época, Dona Nair de Teffé, executou no violão um tango composto por Chiquinha Gonzaga. O episódio ficou conhecido como "alforria da música popular brasileira" pois nunca antes esse tipo de composição tinha entrado nas elegantes salas da Residência Presidencial.
O tango, intitulado Gaúcho, mas conhecido como Corta-jaca, ganhou uma letra e foi regravado por gerações e gerações.
13. Adotou o próprio marido para evitar ser repreendida socialmente
Depois de dois casamentos frustrados, Chiquinha apaixonou-se novamente aos 52 anos de idade. O alvo de seu amor, no entanto, era um jovem português de apenas 16 anos.
Para evitar mais um escândalo em sua vida, Chiquinha adotou informalmente João Batista Fernandes Lage como seu filho, e poucas pessoas sabiam que na verdade ele era seu amante. Viveram juntos por 36 anos, até a morte da maestrina.
14. Foi a primeira mulher a lutar por direitos autorais dos compositores
Já considerada uma autora de sucesso, muito popular no Brasil e reproduzida em todos os cantos do país, o trabalho de Chiquinha era constantemente explorado e abusado, especialmente no teatro.
Então, a maestrina se envolveu em mais uma polêmica: criou a primeira sociedade protetora e arrecadadora de direitos autorais do país, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat). Até hoje é lembrada como uma a primeira pessoa no país a pensar nos direitos do compositor.
15. Forrobodó: o maior sucesso teatral de Chiquinha e música que inaugurou a Rede Globo
Em 1912 Chiquinha Gonzaga estreava o que viria a ser o seu maior sucesso teatral, uma burleta chamada Forrobodó. A curiosidade é que, quando a Rede Globo estreou na TV, em abril de 1965, ele foi o primeiro musical apresentado no programa chamado "Mussicalíssima".
Em 1999, a mesma Rede Globo exibiu uma minissérie com base na vida da artista. Foram 38 episódios com Regina Duarte e Gabriela Duarte no papel da maestrina.
16. Ó abre alas: Chiquinha Gonzaga morre um dia antes do carnaval
Os versos conhecidos por praticamente todos os brasileiros foi composto por Chiquinha na virada do século, em 1899. Na época, ela não sabia que havia composto a primeira canção carnavalesca brasileira, mas hoje a música é consagrada como um hino do carnaval.
Chiquinha faleceu aos 87 anos de idade, no dia 28 de fevereiro, bem no início do Carnaval de 1935.