domingo, 29 de junho de 2025

A ETNIA MURA E O PARICÁ

 

Entre os indígenas Mura, como o retratado nessa prancha Setecentista, assim como entre os Mawé, populações originárias da área Madeira-Tapajós, havia o costume de aspiração de um pó feito do parica.


Também chamado genericamente de "tabaco" ou "rapé", é uma substância obtida das cascas e/ou sementes de plantas diversas, do angico-vermelho à bandara e o guapuruvu.

Rituais que envolviam o consumo desse pó, cujos efeitos já foram identificados como semelhantes aos da ayahuasca, parecem ter sido centrar na cosmologia Mawé e foram registrados em detalhe por viajantes e naturalistas como Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), em cerimoniais que envolviam a inalação do paricá e outras ingestões:

"Principia a cerimonia dos bacchanaes por uma cruelíssima flagelação: açoitam-se reciprocamente uns aos outros com um chicote de couro de peixe-boi, anta ou veado […1 Acoitam-se de dois a dois, o paciente recebe os açoites de pé, e com os braços abertos, enquanto o flagelante o fustiga à sua vontade; pouco depois passa o flagelante a flagelado, e assim cada parelha segue o seu turno; e nisto consomem oito dias, eles na cerimônia da flagelação, e as velhas na preparação do paricá e dos vinhos de frutas, e do beiju [...]

A virtude narcótica do paricá, o modo de o sorver, e a demasia dos vinhos, obram com tanta violência, que os que não morrem algumas vezes sufocados de tabaco, caem semi-mortos, e caídos ficam até lhes passar a bebedeira.

Passada a primeira, principia a segunda: é de estatuto da festa durar a borracheira tanto quanto duraram os açoites.
" Vale a pena ler mais sobre temas da mitologia, da etnografia e da etnohistória que podem ser identificados através da chamada tábua de paricá no artigo do pesquisador Marcel Mano, na revista ArtCultura (v. 22, n. 40, jan.-jun. 2020) é "Índio Mura inalando paricá" e "Memória sobre os instrumentos de que usa o gentio para tomar o tabaco, Parica".



fonte:

@comerhistoria, 
FERREIRA, Alexandre Rodrigues.Viagem filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974.

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