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domingo, 10 de agosto de 2014

Eleitores do interior do Amazonas cobram maior presença do poder público estadual nos municípios

Falta de médicos, empregos e infraestrutura para escoar produção agrícola são demandas de moradores do interior do Amazonas

A doméstica Maria Cleucy Almeida, de 56 anos, reclama que em Tefé (distante de Manaus 525 quilômetros) falta atendimento médico especializado
A doméstica Maria Cleucy Almeida, de 56 anos, reclama que em Tefé (distante de Manaus 525 quilômetros) falta atendimento médico especializado (Lucas Silva)

Quase metade dos eleitores do Amazonas estão espalhados na imensidão do território do Estado nos 61 municípios do interior. São 992 mil pessoas aptas a votar, o que representa 44,5% do eleitorado amazonense. Eleitores dessas localidades ouvidos por A CRÍTICA relatam descaso do poder público nos serviços básicos oferecidos e a falta de alternativas econômicas.

Moradora de Tefé (distante de Manaus 525 quilômetros), a doméstica Maria Cleucy Almeida, 56, conta que na cidade não há atendimento médico especializado. “Às vezes, a gente faz um exame e demora muito para receber o resultado. A gente tem que vir para Manaus fazer outros exames porque não tem como fazer lá e olha que lá tem um hospital grande. O que não tem é médico de todo tipo”, acrescenta.

Maria Cleucy afirma que já precisou de tratamento e teve que se deslocar a Manaus com recursos próprios. “Tive que vir por conta própria e, se não tiver como vir para cá, lá mesmo a gente morre”, afirma.

A coariense Rosilene Ayres Gonçalves, 47, também aponta a precariedade do serviço público de saúde como o principal problema a ser resolvido. “Tudo demora e não tem médico especialista. Ter um bom hospital não adianta porque não tem médico e tem que vir para capital. Eu vim para cá para fazer uns exames que não tinham lá”, afirma ao ressaltar que também teve que custear o deslocamento.
Na mesma linha, a estudante mauesense Eugênia Martins, 30, define a saúde pública como o maior desafio a ser superado pela administrações. “Acho que esse é o primeiro problema a ser enfrentado. Com saúde você vai atrás de educação, emprego, sem saúde, não”, frisa.

“Na saúde são muitos os problemas. Filas, demora, falta de médico e de remédios. Eu estou grávida e tive que vir para Manaus para fazer os exames. Por exemplo, como lá demora muito, uma amiga minha só recebeu o resultado do exame depois do nascimento do filho dela, e no exame foi detectado problema na gravidez”, conta.

A estudante também reclama da falta de oportunidades de emprego e aponta um sistema de dependência de cargos das prefeituras. “Em Maués, só a prefeitura que gera (emprego). Tem a AmBev, mas são poucos funcionários e é um quadro permanente, não cresce. E nos últimos anos, a prefeitura tem demitido muita gente”, afirma.

“Tem gente qualificada que está desempregada e os empregados muitas vezes não tem qualificação. Os municípios pequenos sofrem muita interferência política direta. Quando um prefeito entra, ele tira todo pessoal que estava lá e coloca os deles. Não importa se é qualificado ou se é ou não apto a exercer um cargo. O que importa é: apoiou ou não. E isso se repete quando entra e sai prefeito”, observa Eugênia Martins. “Tem que adivinhar qual que vai ganhar e apoiar para sobreviver”, pontua a estudante.

Déficit habitacional preocupa
O déficit habitacional também foi citado pela doméstica Maria Cleucy. De acordo com ela, muitas famílias não têm casa para morar. “Agora mesmo, uma família, a da minha filha, está indo para lá e não tem casa. Estão dizendo que vão construir um conjunto, mas não sei se vão fazer”, disse.

“Minha filha passou uma temporada aqui em Manaus. Lutou muito para conquistar as coisas, não conseguiu, agora está voltando comigo para Tefé. Ela morava alugado, e agora ela está voltando para ficar na minha casa em Tefé. Mas, ela precisa de uma casa para ela e a família dela”, contou. Ela disse ainda que a filha e o genro vão para a cidade sem emprego garantido. “Vão ter que começar do zero”. “Hoje, saí do apartamento onde minha filha morava e vou te dizer: é muito sofrimento. Não quero essa vida pra ninguém. Mesmo com as dificuldades, prefiro estar no interior que sofrendo aqui. Na capital, ninguém quer ajudar, cada um vive por si, são muito ‘nó cego’”, afirmou.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea), com base na última Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD) do IBGE, revela que o Amazonas tem um déficit de 145,5 mil residências.

‘Política é só para enganar’
Sem a obrigatoriedade de votar, a aposentada mauesense Zeila de Souza, 71, se diz desacreditada da política. “Não adianta a gente ficar esperançoso porque entra governo e sai governo e nada muda de verdade pra melhor, tô lhe dizendo. Política é só para enganar o povo”, disse.

A aposentada, porém, disse que não abre mão do direito de ir às urnas. “Com tudo isso mesmo, eu vou votar nos meus candidatos, que são uns dos poucos que confio”, afirmou.
Zeila Souza contou que antes de se aposentar trabalhava como agricultora. “Nós colhíamos guaraná de tonelada”, frisou. A aposentada afirmou que “antes” a vida no interior era melhor. “Vixe, naqueles tempos era outra coisa. Hoje, não tá mais prestando. O pessoal não quer mais trabalhar. Inventaram um tal de bolsa família, renda cidadão, num sei mais o quê”, afirmou.

O também aposentado Alcides Ribeiro, 80, afirma que ainda não decidiu se vai votar e que para um candidato convencê-lo a votar nele precisa provar que é diferente dos políticos tradicionais. “Para me tirar da minha casa para fazer votar nele, o candidato tem mostrar que é diferente”, contou o mauesense.

Jornal acritica

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