Falta de médicos, empregos e infraestrutura para escoar produção agrícola são demandas de moradores do interior do Amazonas
A doméstica Maria Cleucy Almeida, de 56 anos, reclama que em Tefé
(distante de Manaus 525 quilômetros) falta atendimento médico
especializado
Quase
metade dos eleitores do Amazonas estão espalhados na imensidão do
território do Estado nos 61 municípios do interior. São 992 mil pessoas
aptas a votar, o que representa 44,5% do eleitorado amazonense.
Eleitores dessas localidades ouvidos por A CRÍTICA relatam descaso do
poder público nos serviços básicos oferecidos e a falta de alternativas
econômicas.
Moradora
de Tefé (distante de Manaus 525 quilômetros), a doméstica Maria Cleucy
Almeida, 56, conta que na cidade não há atendimento médico
especializado. “Às vezes, a gente faz um exame e demora muito para
receber o resultado. A gente tem que vir para Manaus fazer outros exames
porque não tem como fazer lá e olha que lá tem um hospital grande. O
que não tem é médico de todo tipo”, acrescenta.
Maria
Cleucy afirma que já precisou de tratamento e teve que se deslocar a
Manaus com recursos próprios. “Tive que vir por conta própria e, se não
tiver como vir para cá, lá mesmo a gente morre”, afirma.
A
coariense Rosilene Ayres Gonçalves, 47, também aponta a precariedade do
serviço público de saúde como o principal problema a ser resolvido.
“Tudo demora e não tem médico especialista. Ter um bom hospital não
adianta porque não tem médico e tem que vir para capital. Eu vim para cá
para fazer uns exames que não tinham lá”, afirma ao ressaltar que
também teve que custear o deslocamento.
Na
mesma linha, a estudante mauesense Eugênia Martins, 30, define a saúde
pública como o maior desafio a ser superado pela administrações. “Acho
que esse é o primeiro problema a ser enfrentado. Com saúde você vai
atrás de educação, emprego, sem saúde, não”, frisa.
“Na
saúde são muitos os problemas. Filas, demora, falta de médico e de
remédios. Eu estou grávida e tive que vir para Manaus para fazer os
exames. Por exemplo, como lá demora muito, uma amiga minha só recebeu o
resultado do exame depois do nascimento do filho dela, e no exame foi
detectado problema na gravidez”, conta.
A
estudante também reclama da falta de oportunidades de emprego e aponta
um sistema de dependência de cargos das prefeituras. “Em Maués, só a
prefeitura que gera (emprego). Tem a AmBev, mas são poucos funcionários e
é um quadro permanente, não cresce. E nos últimos anos, a prefeitura
tem demitido muita gente”, afirma.
“Tem
gente qualificada que está desempregada e os empregados muitas vezes
não tem qualificação. Os municípios pequenos sofrem muita interferência
política direta. Quando um prefeito entra, ele tira todo pessoal que
estava lá e coloca os deles. Não importa se é qualificado ou se é ou não
apto a exercer um cargo. O que importa é: apoiou ou não. E isso se
repete quando entra e sai prefeito”, observa Eugênia Martins. “Tem que
adivinhar qual que vai ganhar e apoiar para sobreviver”, pontua a
estudante.
Déficit habitacional preocupa
O
déficit habitacional também foi citado pela doméstica Maria Cleucy. De
acordo com ela, muitas famílias não têm casa para morar. “Agora mesmo,
uma família, a da minha filha, está indo para lá e não tem casa. Estão
dizendo que vão construir um conjunto, mas não sei se vão fazer”, disse.
“Minha
filha passou uma temporada aqui em Manaus. Lutou muito para conquistar
as coisas, não conseguiu, agora está voltando comigo para Tefé. Ela
morava alugado, e agora ela está voltando para ficar na minha casa em
Tefé. Mas, ela precisa de uma casa para ela e a família dela”, contou.
Ela disse ainda que a filha e o genro vão para a cidade sem emprego
garantido. “Vão ter que começar do zero”. “Hoje, saí do apartamento onde
minha filha morava e vou te dizer: é muito sofrimento. Não quero essa
vida pra ninguém. Mesmo com as dificuldades, prefiro estar no interior
que sofrendo aqui. Na capital, ninguém quer ajudar, cada um vive por si,
são muito ‘nó cego’”, afirmou.
Estudo
do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea), com base na última
Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD) do IBGE, revela que o Amazonas
tem um déficit de 145,5 mil residências.
‘Política é só para enganar’
Sem
a obrigatoriedade de votar, a aposentada mauesense Zeila de Souza, 71,
se diz desacreditada da política. “Não adianta a gente ficar esperançoso
porque entra governo e sai governo e nada muda de verdade pra melhor,
tô lhe dizendo. Política é só para enganar o povo”, disse.
A
aposentada, porém, disse que não abre mão do direito de ir às urnas.
“Com tudo isso mesmo, eu vou votar nos meus candidatos, que são uns dos
poucos que confio”, afirmou.
Zeila
Souza contou que antes de se aposentar trabalhava como agricultora.
“Nós colhíamos guaraná de tonelada”, frisou. A aposentada afirmou que
“antes” a vida no interior era melhor. “Vixe, naqueles tempos era outra
coisa. Hoje, não tá mais prestando. O pessoal não quer mais trabalhar.
Inventaram um tal de bolsa família, renda cidadão, num sei mais o quê”,
afirmou.
O
também aposentado Alcides Ribeiro, 80, afirma que ainda não decidiu se
vai votar e que para um candidato convencê-lo a votar nele precisa
provar que é diferente dos políticos tradicionais. “Para me tirar da
minha casa para fazer votar nele, o candidato tem mostrar que é
diferente”, contou o mauesense.
Jornal acritica
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