No dia 31 de
maio de 2009, Manaus foi confirmada como uma das cidades-sede da Copa do Mundo
de 2014. A notícia era aguardada por muitos, mas vista com certa distância por
outros. O fato é que, no momento do anúncio, aproximadamente 50 mil pessoas se
reuniram para vibrar do lado de fora do antigo estádio Vivaldo Lima. A euforia
foi grande, mas parte daquele público não sabia o que Manaus fez para conseguir ser uma
das 12
cidades premiadas. Primeiro, para ser candidata, a cidade teve que
desenvolver
um projeto que englobasse, além de um estádio, medidas voltadas para a
infraestrutura, entre outros requisitos. Mas como conseguir ter um
projeto atrativo e
que desbancasse fortes concorrentes? Uma das medidas foi construir a
Arena da
Amazônia. Na segunda reportagem especial sobre o novo estádio de Manaus,
o globoesporte.com mostra os caminhos percorridos para convencer a Fifa
de que a capital do Amazonas estava credenciada para receber a Copa 2014.
Na área externa do Vivaldão, público acompanhou anúncio da Fifa no dia 31 de maio de 2009 (Foto: Muniz Neto)
Por estar na região amazônica, os idealizadores também pretendiam
fazer um dos mais modernos e sustentáveis estádios do mundo, com
reaproveitamento da água da chuva para irrigar o gramado, a utilização de
lâmpadas com energia solar e outras medidas que dessem ao estádio o selo de
sustentabilidade.
Projeto da Arena da Amazônia foi inspirado em elementos da região amazônica (Foto: Reprodução)
O
ex-titular da Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento
Econômico do Amazonas (Seplan), Denis Minev, um dos líderes do projeto,
explicou como foi que chegaram ao formato escolhido para a Arena da
Amazônia. Segundo ele, "a ideia é que fosse algo amazônico. Então
veio a ideia do cesto indígena e do couro da cobra”.
- Naquela altura buscamos uma empresa que tivesse uma perna no Brasil. E a GMP
[alemã], que tinha feito na África do Sul quatro estádios e na Alemanha mais
quatro, era a empresa ideal. Com tantos itens que precisavam ser especificados,
fizemos essa busca a arquitetos que realmente entendessem até porque com um
projeto de mais de 600 páginas, se pegar alguém que não entenda fica mais
difícil – contou.
O projeto da Arena da Amazônia preenche todos os requisitos da Fifa (Foto: Reprodução)
Após a
aprovação, a GMP 'colocou as mãos na massa' na elaboração do projeto, que
custou cerca R$ 15 milhões. E para chegar ao projeto ideal, um dos
responsáveis, o arquiteto Ralf Amann, informou que o mito de Manaus e os
potenciais da floresta amazônica foram levados em conta, principalmente porque
conferem à cidade um grande poder de atração para o turismo.
- Por essa
razão (potencial turístico), na fase de elaboração do projeto do estádio de
Manaus, decidimos conceber um estádio bem simples que, por outro lado, seja uma
espécie de citação ao lugar especial situado bem no meio da floresta tropical – explicou.
O estádio
não deve ser projetado apenas como uma edificação funcional, mas também se deve
concebê-lo como uma parte da paisagem urbana"
Ralf Amann
De acordo
com Ralf, o principal interesse durante a concepção do estádio é criar um
espaço para os espectadores, onde eles se sintam bem. Isso inclui uma série de
atributos arquitetônicos, mas também uma fácil orientação.
- Além
disso, a construção de estádios se tornou mais qualitativa na medida em que
eles também ganham uma ênfase maior como marco urbanístico. Portanto, o estádio
não deve ser projetado apenas como uma edificação funcional, mas também se deve
concebê-lo como uma parte da paisagem urbana, na qual ele se integra
harmonicamente ou cria destaques arquitetônicos.
Sistema
especial de fachadas
O projetista
da Arena da Amazônia explicou que como Manaus é uma cidade quente, foi criado
um sistema especial, composto por fachadas climáticas e elementos de
sombreamento, o que propicia uma ventilação natural das arquibancadas.
- Devo
lembrar também que a gestão ativa da água aumenta a sustentabilidade do estádio.
Através da utilização de materiais de construção de origem predominantemente
local, reduz-se a poluição ambiental resultante do transporte de materiais.Além
disso, os arquitetos da GMP confiaram na competência existente no setor da
construção civil brasileira, como, por exemplo, na construção com concreto.
Esses dois aspectos resultam em um efeito econômico favorável na região, bem
como em um balanço ecológico positivo sob o ponto de vista do ciclo total de
vida da construção – frisou Ralf.
Iluminação
O projetista
explicou que as áreas de acesso público receberão um sombreamento eficaz
tornando possível uma máxima utilização da luz diurna e que o consumo de
energia para a iluminação artificial no interior do prédio ficará abaixo das
exigências com vidros de proteção da luz do sol reduzindo a entrada de raios
solares e de calor.
- Através da interação com as aberturas na fachada, surge uma ventilação
natural que propicia um microclima agradável. Além disso, um sistema de
refrigeração sem CFC e um ar condicionado controlado de forma descentralizada
contribuem para temperaturas agradáveis com uma elevada eficiência energética.
O equipamento técnico do prédio, bem como os sistemas acústicos e de iluminação
são controlados através de automação inteligente do prédio, podendo ser utilizados
por setor e separadamente, algo que reduz ainda mais o consumo de energia –
destacou Ralf.
Espaços internos projetados para a Arena da Amazônia (Foto: GloboEsporte.com)
Baixo consumo de água
Outro ponto que difere a Arena da Amazônia é como será feita a utilização da
água nas dependências do estádio. As vigas da cobertura do estádio atuam como
grandes calhas para captar enormes quantidades de água das chuvas. Com isso, a
água é recolhida e será usada na descarga dos banheiros, reduzindo o consumo de
água potável em 45%. Além disso, foram projetadas torneiras controladas eletronicamente
e a irrigação do gramado será feita com a água pluvial recolhida. Sem contar
que o estádio possui uma estação interna de esgoto.
- Para nós,
em uma edificação no clima quente tropical da Amazônia, está em primeiro plano
não apenas a proteção da estrutura da construção, mas também obter temperaturas
interiores agradáveis. Para reduzir as cargas de resfriamento com um mínimo
possível de consumo de energia e de trabalhos técnicos, mesmo diante das
condições climáticas extremas, nós criamos pré-requisitos favoráveis para
atingir temperaturas ambientes agradáveis – revelou Ralf.
antes da criação do projeto
Manaus
conseguiu
a vaga na Copa do Mundo. Mas o que foi feito pelo governo antes de
chegar no
projeto da Arena da Amazônia? De acordo com o ex-secretário Denis Minev,
que assumiu a frente do projeto, ao lado da GMP, após o trabalho
ser iniciado pela Secretaria de Estado de Cultura, o projeto levou cerca
de
oito meses para ser elaborado, desde o seu processo de criação até o
momento da
oficialização da candidatura.
- O Brasil
foi selecionado em dezembro de 2007 e, no primeiro semestre de 2008, foi
decidido que Manaus iria se candidatar a ser uma das cidades sedes. Já em
fevereiro de 2009 tinha que ser entregue todo o projeto que inicialmente ficou
com a Secretaria de Cultura e em seguida veio para a Seplan, já no segundo
semestre de 2008 – explicou, ao ressaltar que, na época, a candidatura de
Manaus era vista com o uma "necessidade" para o Estado.
- Naquele
momento se viu a necessidade da candidatura de Manaus a Copa do Mundo, pois se
sabia que com ela se viria vários investimentos que ajudaria o Amazonas, com
obras além da Arena da Amazônia. Mas acho que o que fez Manaus ganhar de fato,
além do projeto e tudo mais, foi o turismo, localização e o PIB da cidade que
era mais alto que o de Belém – emendou.
Projeto gráfico da Arena da Amazônia (Foto: Divulgação)
Um dos
pontos mais criticados na época, sobre o projeto de Manaus para a Copa, era a
demolição do estádio Vivaldo Lima, principal palco do futebol amazonense. Para
Denis, foi observada a necessidade da demolição do estádio, pois “se fosse
fazer os reparos no Vivaldo Lima padrões Fifa, se gastaria o mesmo valor ou até
mais um pouco”.
- Na nossa avaliação, Manaus estava muito competitiva com Belém e avaliando
todos os requisitos da Fifa, se viu que o Vivaldão não se enquadrava nos
padrões que eram exigidos, como ângulo das cadeiras e até mesmo os camarotes
que são exigências. Como a reforma teria que mudar isso e outras coisas. Uma
obra de reforma muito profunda sairia mais caro do que demolir e fazer outro
estádio – justificou.
UGP Copa
Logo após o processo de criação e início das
obras na Arena da Amazônia, já em dezembro de 2010, foi criada a Unidade
Gestora da Copa (UGP-Copa), com objetivo de coordenar as ações do mundial que
até então eram lidaredas pela Seplan.
- Como a Seplan tem um objetivo especifico com o planejamento do Estado, o
governador viu a necessidade de que precisava de uma estrutura para focar em
todas as coisas que iriam ser feitas. Que envolviam não só a construção da
Arena da Amazônia, mas também a preparação da segurança da cidade como o a
instalação do centro integrado de segurança – disse o coordenador da UGP Copa,
Miguel Capobiango.
Copa além do estádio
Realizar
uma Copa do Mundo não depende apenas de um grande projeto de estádio. A
infraestrutura de uma cidade também pesa na escolha. O projeto de
Manaus também abraçou outros setores. Infelizmente, nem tudo previsto na
matriz de responsabilidade da Copa foi executado, como é o caso da
mobilidade urbana. Parte das outras obras previstas ainda está a
caminho.
Projetos | Propostas |
CATs | Ampliação
e qualificação do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) da
Praça Tenreiro Aranha e a implantação de dois novos CATs (um na Ponta
Negra e outro na Rodoviária de Manaus).
|
Porto de Manaus | Melhorias na infraestrutura portuária da capital amazonense estão na matriz de responsabilidade da Copa. |
Sinalização de vias | O
projeto de revitalização da sinalização de ruas, avenidas e de pontos
históricos de Manaus para Copa do Mundo de 2014 prevê a instalação de
400 placas com informações em dois idiomas (português e inglês), de
acordo com a Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur).
|
CICC | Um novo Centro
Integrado de Comando e Controle (CICC)
funcionará ao lado do Centro Integrado de Operações (Ciops), em Manaus. É
o principal projeto voltado ao monitoramento de segurança na capital. |
Centro de Convenções | O Centro de Convenções do Amazonas (CCA) será usado como suporte aos órgãos que atuarão na Copa
do Mundo. Foi erguido ao lado da Arena da Amazônia. |
Reforma do aeroporto internacional | O projeto, orçado em R$ 444,46 milhões, foi idealizado para a Copa de
2014. A capacidade de passageiros
deve subir de 6,4 milhões para 13,5 milhões de passageiros por ano. |
Hotéis | É
projetada para a Copa 2014 uma oferta de 23.373 leitos considerando a
oferta de hotéis de municípios da Região Metropolitana de Manaus, 20
hotéis de selva e opções de hospedagens alternativas (barcos de turismo e
hotéis de luxo). A expectativa é que Manaus receberá 120 mil turistas
no período do mundial.
|
Fifa Fan Fest | O
Fifa Fan Fest utilizará estruturas temporárias e a infraestrutura
existente da Praia da Ponta Negra, em Manaus. O espaço de 36 mil m² do
Fifa Fan Fest terá capacidade para receber um
público aproximado de 35 mil torcedores, por dia, durante o evento.
|
Comunicação 4G | Manaus passa a contar com quatros redes de banda larga de quarta geração de operadoras de telefonia. |